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Cristina Vieira é, atualmente, a presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses. Eleita para o primeiro mandato em 2017, menos de um ano depois, descobriu que tinha sido infetada com Tuberculose. Nesta sexta-feira, 24 de março, trazemos-lhe o seu testemunho, na data em que se assinala o Dia Mundial da Tuberculose. 

A autarca deu a conhecer o seu testemunho no Encontro Regional de Tuberculose, que aconteceu esta quinta-feira, dia 23 de março, no Emergente Centro Cultural. “Descobri em maio de 2018, após vários dias consecutivos de dores, que achava serem dores de costas”, começou por explicar. O sinal de alerta, para além das “dores de costas cada vez mais fortes durante a noite”, foi a febre que a levou a recorrer ao Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), “após uma noite difícil e dores já insuportáveis”.

A notícia foi recebida com “muita surpresa”, mas também com “algum alívio”, uma vez que  chegou a pensar “num diagnóstico mais grave, tendo em conta a preocupação do médico quando olhou para os meus exames de diagnóstico pulmonar”, afirmou. Seguiu-se um internamento e o início do tratamento. “Fiquei em casa uns dias e retomei as funções de presidente rapidamente. Foram muito poucas as pessoas que souberam deste meu problema de saúde, porque tentei reservar a informação”, disse.

Cristina Vieira recorda algumas “atitudes de repulsa e afastamento de algumas pessoas quando se falava em Tuberculose, por receio de contágio”, tendo sentido “alguma desconfiança, principalmente nas deslocações ao Centro de Diagnóstico Pulmonar, para o tratamento e as consultas”, acrescentando que se apercebeu, durante o tratamento, “das dificuldades que todos os doentes com Tuberculose sentem, nomeadamente com as deslocações, as restrições e as contra indicações, da mais de uma dezena de medicamentos que tomamos diariamente durante mais de um ano e que têm grande impacto no fígado e, em mim, em particular também na regulação da tiróide”.

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Devido à doença, a autarca ficou com “sequelas no pulmão, tive que retirar líquido algumas vezes e, ainda hoje, sinto algumas limitações. Esse é um dos aspetos que me levou à prática regular de exercício físico”, contou. 

Questionada sobre o porquê de ter decidido partilhar o seu testemunho, Cristina Vieira explicou que “já passaram quase três anos desde que deixei de ser, periodicamente, acompanhada e gostava que a minha experiência fosse considerada como fator de motivação para que os outros doentes de Tuberculose não sintam qualquer tipo de discriminação”.

Tendo em conta a experiência na “primeira pessoa” e o “acompanhamento da equipa dos profissionais do projeto ‘Menos Tuberculose’ que acompanhei nas visitas às pedreiras”, a autarca foi motiva a tomar algumas medidas no concelho. “Em Novembro de 2019, numa parceria com a Confraria do Granito e a ANIET– Associação Nacional da Indústria Extrativa e Transformadora, foi organizada uma conversa-debate que juntou mais de uma centena participantes entre empresários e trabalhadores ligados à indústria do granito, intitulada ‘Tuberculose: Trabalhamos Juntos na Prevenção dos Riscos Profissionais’, e foi o primeiro passo, que marcou este objetivo, graças à excelente intervenção do palestrante, professor Agostinho Marques, pneumologista, que conseguiu passar uma mensagem muito simples mas de extrema importância para todos”, disse.

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Neste seguimento, a presidente empenhou-se junto da Autoridade Regional de Saúde do Norte (ARS Norte) “para conseguir colocar em funcionamento o CDP no concelho do Marco, na USF Bem Viver, pedindo reforço de meios humanos, nomeadamente um pneumologista para que os doentes não tivessem que se deslocar a Penafiel.  Demos o apoio e reforço de horário no funcionamento do Centro Diagnóstico Pneumológico que se encontra instalado na Unidade de Saúde de Bem Viver, incluindo o apoio ao seu funcionamento, durante o período pandémico, garantindo acessibilidade a todos os cidadãos com sintomatologia ou em tratamento. Estamos a assegurar o transporte dos testes IGRA, duas vezes por mês, para que os doentes não tenham que se deslocar ao Porto. Na execução da empreitada de modernização da Unidade de Saúde do Marco as obras que estamos a concluir, vão permitir acomodar o Centro Diagnóstico Pneumológico, para que fique mais central e com maior acessibilidade por transportes públicos”, enumerou.

A autarca revelou ainda a articulação “com o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências e com a Sociedade Civil para melhoria da adesão ao rastreio da Tuberculose e tratamento em grupos vulneráveis, designadamente pela criação da Consulta Descentralizada do Marco de Canaveses (CDMC) do Centro de Respostas Integradas do Porto Central, também a funcionar na Unidade de Saúde de Bem Viver”, frisou.

Em jeito de conclusão, Cristina Vieira deixa uma mensagem a toda a população: “nenhum de nós está livre de poder ser um doente com Tuberculose. A doença tem, como todas as doenças, manifestações e contraindicações que são difíceis de ultrapassar e, por isso, se houver compreensão e apoio na prestação dos cuidados de saúde necessários ao tratamento, e sobretudo se não houver comportamentos de discriminação para com os doentes de Tuberculose, já estamos ajudar”.