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Esta terça-feira, 2 de abril comemora-se o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo, uma data definida pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O autismo altera a forma como uma criança vê e experiência o mundo, mas não a impede de … “Conduzir, ter um restaurante e uma loja para reparar computadores e impressoras” são alguns dos sonhos de Óscar Russo, que aos três anos foi diagnosticado com autismo, um distúrbio que pertence a um grupo de doenças do desenvolvimento cerebral, conhecido por Transtornos do Espectro Autista (TEA).

O diagnóstico, que chegou aos três anos, numa unidade privada, foi confirmado aos seis anos numa unidade de saúde pública. Foi o “primeiro caso a surgir na família” e deixou os pais “perplexos. Não sabíamos bem o que era. Tivemos de procurar informação de como lidar. Foi um choque, quase como uma trovoada. Mas depois do diagnóstico há que seguir em frente e lutar por eles e foi isso que fizemos”, exdplica a mãe, Clara Magalhães.

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Os primeiros sinais foram de um menino que “aos três anos ainda não falava, não comunicava, não brincava, a única coisa que fazia era rodar o tambor da máquina. Estava sempre no mundo dele e demos conta que era um menino diferente dos outros por volta dos 18 meses, porque qualquer criança gosta de brincar e ele não queria nada, só a roda da máquina de lavar”.

Desde então, o crescimento e a adaptação ao mundo tem sido “com altos e baixos”. A frequência no jardim de infância foi “recusada” uns meses depois da entrada. “A educadora chamou-nos à escola e disse-nos que não sabia lidar com ele. Na altura procuramos uma escola onde houvesse ensino especial e mais meninos com o mesmo diagnóstico. Aos seis anos, no primeiro ano, encontrou uma professora que também não lidava muito bem com a situação”, recorda Clara Magalhães.

Seguiu-se um sétimo ano “muito duro”, mas hoje, com 15 anos, Óscar é uma criança “feliz, não lhe falta amor e carinho” e encontrou no Externato de Vila Meã, em Amarante, uma turma “muito acessível. Os colegas são muito preocupados, muito unidos, estão sempre com ele. A nível de professores, todos têm alguma formação e os que não tinham até fizeram questão de a fazer para saber lidar com as crises que ele ia tendo nas aulas”.

Com as terapias e ajuda das professoras, o jovem de 15 anos foi “ganhando alguma autonomia” e conseguindo dar a volta a “algumas coisas. Não anda sozinho na rua, mas consegue ir do portão até à sala. Normalmente os colegas esperam por ele no portão. 

Se fosse filho único, quando nós pais lhe faltarmos depois não tinha ninguém

Há três anos, Clara Magalhães voltou a ser mãe – de Maria da Luz – apesar de ter sido “alertada pelos médicos” para a possibilidade de voltar a ter um filho com autismo. A vontade permaneceu, porque há uma preocupação com o futuro do filho. “Se fosse filho único, quando nós pais lhe faltarmos depois não tinha ninguém. Felizmente, a menina não recebeu o mesmo diagnóstico, aliás fala pelos cotovelos e gosta de ter amigos”.

Quanto ao futuro do filho na entrada para o mercado de trabalho, esta mãe mostra-se reticente, mas estará ao lado de Óscar para o ajudar a concretizar os vários sonhos que tem. “Conduzir é um dos sonhos de uma lista que fez há alguns anos. Nós, pais, andamos a tentar realizá-los dentro das nossas possibilidades. Para além disso, quer ter um restaurante e conseguir ter uma loja para reparar computadores e impressoras. Estamos a poupar para isso. Ir para a universidade está fora de questão, mas apoio na ida para um curso profissional, que lhe garante um estágio numa empresa. Se não houver uma empresa tentaremos abrir-lhe um pequeno estabelecimento”, garante.

Para além da “falta de enquadramento nas alíneas das leis” e dos “professores que não estão preparados”, Clara Magalhães aponta para o “bullying e outras coisas que se se sobrepõem, como as pessoas acharem que o autismo é algo contagioso. Eu passei por isso no primeiro ano de escola dele. Na altura tive de pedir um atestado a dizer que o menino não sofria de doenças infectocontagiosas”.

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A viver a realidade do autismo na primeira pessoa, esta mãe não tem dúvidas de que “havia, e ainda continua a haver, muita falta de conhecimento de causa. Hoje, já se houve falar muito de autismo, mas na altura não. Era quase como se fosse um bicho de sete cabeças. Estas crianças são alvos fáceis, numa sociedade que não está minimamente preparada, nem consciencializada, para as receber, assim como para as integrar no mercado de trabalho. Mas, pelo menos hoje em dias, as coisas têm nome e as crianças podem ter o diagnóstico”, sublinha.

Clara Magalhães termina com a mensagem de que o foco deve estar “apenas na motivação de os ajudar a realizar os sonhos. À maneira deles, todos têm sonhos e na impossibilidade de os realizarem autonomamente tentamos nós, pais, fazê-los para que se sentam realizados”.