Com quase 18 anos Patrícia Queirós descobriu o teatro quando frequentava o ensino secundário. "Um amigo falou-me de um grupo que ainda existe, a Nova Oficina de Teatro e Coral de Lousada, dirigido pela professora Capitolina Oliveira", recorda.
Como sempre teve a curiosidade de experimentar e não tinha essa possibilidade na escola, decidiu integrar o grupo. "Sempre gostei de cantar e pareceu-me a oportunidade perfeita para ter uma atividade extra-curricular", conta.

No final da primeira produção, "a professora disse-me que achava que eu podia seguir a profissão. Para mim foi espantoso, porque não fazia ideia que uma mera adolescente, a pensar que ia ser advogada, pudesse dar a ideia de ser atriz. Não fazia ideia de que havia uma escola superior, era um mundo muito novo".
Apesar de desconhecido e novo, o teatro foi um mundo que decidiu abraçar há 20 anos. "A partir do momento em que ela me disse isso, a ideia nunca mais me saiu da cabeça. Aí foi o início".

A comédia é um "ingrediente quase sempre" presente
A comédia é um "ingrediente quase sempre" presente no currículo de Patrícia Queirós, que não se compõe apenas por este género. "Se olhar rigorosamente para o meu currículo não posso dizer que fiz mais comédia. Mas isso tem a ver com a forma como me posicionei no meu trabalho, porque nunca me apresentei como comediante, mas sim como atriz. Sinto que tenho capacidade para fazer outras coisas", sublinha.
No entanto, apesar de "não conseguir dizer" que gosta só de comédia, reconhece que "funciona, porque sinto isso no reconhecimento do público".

Um dos seus papéis mais conhecidos é, precisamente, neste género de representação. Em 2018 "nasceu" a Jacinta Lúcia. "A coordenação do programa Praça da Alegria e a direção da RTP Norte, foram ver um espetáculo onde eu estava e no final abordaram-me. Dois anos depois ligaram-me, porque estavam a testar conteúdos de humor no programa e propuseram-me a criação de uma pessoa que representasse um figurante do programa, mas que fosse uma personagem, com características insólitas, aquela pessoa que não sabe estar em televisão, mas que acha que sabe imenso".
Criada a personagem, "tive de tirar partido de algumas valências que tenho por experiência profissional, mas também naturais, que é a comédia e capacidade de improviso", conta a atriz.

Patrícia Queirós confessa que foi "um trabalho desafiante, porque funcionava numa lógica de improviso, muito genuína. Aliás havia pessoas que achavam que aquela personagem era uma pessoa real e era muito desgastante, porque implicava uma concentração muito grande e a gestão das outras pessoas. Eu interagia com convidados e com os apresentadores com uma dinâmica de apresentação que não tinha de ser cómica, mas que acabava por resultar muito bem", relembra.
Pelo público sentiu sempre um "grande" carinho. "Lembro-me de uma senhora de 83 anos que me enviou uma carta a dizer que eu tinha sido a salvação dela quando esteve internada durante três semanas com uma pneumonia. Isso é muito arrebatador e marcou-me".

A personagem Jacinta Lúcia foi "muito mais impactante do que alguma vez" Patrícia Queirós podia imaginar, mas terminou em 2020 com a chegada da COVID-19. "Essa foi uma das minhas maiores angústias, ter parado o programa e não poder participar naquilo que foi a luta dos médicos. Senti, mesmo como artista, que o meu contributo era muito importante naquela fase. A ausência do espaço de rir, essa descontração, foi das coisas que me custou mais. tudo voltou felizmente e cá estamos para prosseguir".
No dia Internacional da Piada, a atriz realça que "é um equivoco associar o teatro à seca e acho que isso está cada vez mais esbatido, porque está tudo muito renovado". Independentemente da área e do género, "o que importa é rir. Como se costuma dizer pela vossa saúde riam. O riso provoca saúde, quer no corpo quer no espírito".