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Esta sexta-feira, dia 25 de novembro assinala-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres e o Jornal A VERDADE traz-lhe o testemunho, e os conselhos, de uma assistente social que vive esta realidade de perto, de nome fictício Maria, uma vez que não quis ser identificada.

Maria trabalha de perto com crianças sinalizadas e com as suas famílias. Em muitas da entrevistas realizadas as “red flags” são ativadas, no que a casos de violência doméstica diz respeito. “Normalmente não recorrem a nós pela violência doméstica, mas vamos percebendo, na entrevista, alguns sinais de altera, como o controlo económico, o controlo das saídas de casa, o ‘com quem estás, onde estás’. Vamo-nos apercebendo disso”, começou por explicar.

De acordo com a assistente social, há situações que acontecem em que as vítimas tentam “minimizar”, dizendo que “foi só daquela vez” ou “foi só uma palavra”. “Tem de se fazer um trabalho contínuo, com as famílias. Nunca conseguimos, numa primeira entrevista, mas ficamos com a  noção de que poderá ser uma situação e normalmente não tratamos do assunto de forma direta, vamos explorando e dando formas de agir caso a situação seja de violência doméstica”, constatou.

Como o trabalho de Maria é feito diretamente com famílias, muitas das vezes são as crianças que dão o primeiro alerta. “Não de forma direta, mas vão dizendo que há discussões, que da última vez foi mais complicado. É difícil trabalhar com crianças, porque depois há toda uma rede de suporte que tem de se perceber junto da família, para haver acompanhamento daquilo que é a família nuclear (pai e mãe). Sair de casa não é um bicho de sete cabeças”, referiu, acrescentando que a “violência raramente é isolada, varia entre física psicológica financeira e sexual. Nunca é só uma vez”.

Contudo, ainda é “difícil” fazer perceber às mulheres que precisam de ajuda. “Por muito que se fale disto, há muita dependência da mulher face ao homem, quer serja a nível monetário, quer seja a nível emocional. Depois há também o caso dos filhos e da culpa, de ‘ser eu a culpada por acabar com a família’. É muito complicado, porque temos sempre a parte do ciclo da violência em que depois vem a Lua de Mel, aquela parte em que ele pede desculpa e volta-se um pouco à estaca zero, com a ideia de que ele vai mudar, que foi só aquela vez”, descreveu.

Para Maria, o trabalho tem de ser “continuo”, com as famílias e quando “há sinais mais graves, como a posse de armas, ou as situações de álcool e drogas”, este passa de alerta para “intervenção. Vamos avaliando, encaminhando, mas quando a situação é demasiado notória temos que nós mesmos, pedir ajuda de maneira a que a vítima possa ser intervencionada”.

A assistente social recorda um caso que a marcou, ao longo da sua carreira. “É um caso de retorno, por mais que fosse feito um trabalho com esta família, acabou por terminar mal e torna-se muito difícil percebermos que nem sempre as intervenções correm bem. As intervenções são feitas mas depois há coisas que é muito difícil de combater. A parte cultural, a parte do estigma que está associado ao abandono do lar, torna tudo muito difícil, torna complicado fazer perceber que o sair de casa não é um bicho de sete cabeças, que se consegue ter outra vida, que aquele não é o local ideal para estarem nem mãe nem filhos”.

Maria aconselha todas as pessoas que se vejam em situações de violência para “procurarem ajuda. Há sempre um amigo e há sempre um gabinete, a APAV,a GNR, se não queremos apresentar logo queixa, mas procurar ajuda, procurar perceber o que pode ser feito, como é que pode ser trabalhado e isto vai desde muito novos, vai desde situações de violência no namoro, até situações de violência a nível de casamento, mas que têm de ser faladas e há sempre formas de tentar resolver”.

De acordo com a assistente social, “as mulheres que procuram ajuda são, normalmente, em situação extremas, antes disso deve existir um trabalho de atenção pela comunidade, pela família. As formas de pedir ajuda são junto das entidades competentes (GNR, APAV, Gabinete Vivo…) ou junto de técnicos que acompanham e que tenham conhecimento para fazer o encaminhamento. O dia internacional pela eliminação da violência contra a mulher é mais um dos dias do nosso calendário que faz sentido por cada mulher que morre, que é violentada e que não pode em liberdade exercer os seus direitos. Quando uma mulher luta a sociedade luta em conjunto pela igualdade e pela não discriminação”.

Contactos para obter ajuda:

Telefone: 800 202 148

Linha SMS 3060 (grátis, não rastreável)

Linha Nacional de Emergência Social – 144

APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima – 707 20 00 77

AMCV – Associação Mulheres contra a Violência – 21 380 21 65

UMAR – União Mulheres Alternativa e Resposta – 21 294 21 98 (Almada)

22 202 50 48 (Porto); 296 283 221 (S. Miguel – Açores)

Gabinete Vivo – 255 538 855 | 926 661 530

A apresentação de queixa deve ser feita numa esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP), posto da Guarda Nacional Republicana (GNR), piquete da Polícia Judiciária (PJ) ou diretamente junto dos Serviços do Ministério Público para apresentar queixa criminal e exigir um documento comprovativo da queixa ou denúncia efetuada.