alzheimer jorge abreu
Publicidade

No Dia Internacional do Alzheimer, 21 de setembro, o Jornal A VERDADE traz-lhe o testemunho de um cuidador. Jorge Abreu viu a doença surgir na própria mãe há cerca de sete anos, após uma paralisia facial. A partir dessa altura, esquecimento, troca de nomes e deixar as tarefas a meio tornaram-se frequentes. 

Há quase sete anos que Jorge Abreu teve de aprender a viver uma nova realidade. A mulher que o viu nascer e crescer, hoje praticamente não reconhece o filho. Maria Isabel Jesus da Cruz foi uma mulher “independente” e de “trabalho”. Dedicou a vida ao comércio e “sabia fazer de tudo um pouco”, incluindo “contas de cabeça”. Ainda de madrugada agarrava na carrinha e ia distribuir fruta até às cinco da tarde, para além disso era vendedora ambulante, participava em feiras e vendia de porta em porta. “A vida dela era muito intensa, mas o pouco tempo que conseguia despender, ela tentava despender junto do filho”, partilha Jorge Abreu. 

O filho realça que “pode acontecer a qualquer um de nós”, nem uma “vida ativa” é garantia de que esta doença nunca irá bater à porta. “É triste olhar para a minha mãe e ver que ela já não me conhece, que ela não sabe quem eu sou, nem a mim, nem às netas, nem ao marido, para ela são todos amigos, é triste, mas temos que nos capacitar para isso”, partilha. Ainda existem dias em que, por fração de segundos, Maria da Cruz reconhece o rosto dos familiares, momentos curtos que são vividos da “forma mais intensa possível”. 

“São momentos muito curtos, ao final do dia às vezes saio do trabalho e vou a casa da minha mãe para lhe dar o jantar e ela diz ‘oh meu filho, já chegaste!’, vêm-me as lágrimas aos olhos, mas são segundos que eu tento viver da forma mais intensa”, conta em entrevista ao Jornal A VERDADE.

Jorge Abreu partilha da opinião de que é uma doença que causa “mais impacto nos familiares. Nós estamos cientes do que está a acontecer e na cabeça deles eu imagino que está tudo bem e eles estão a fazer tudo bem e nós é que estamos errados. Nós é que temos consciência de que a cada dia que passa tudo fica pior”. 

No caso da sua mãe, a “independência”, “essência” e “personalidade” que tanto a caracterizavam perderam-se no tempo. “Não reconhece as pessoas, perdeu a mobilidade e independência, já não faz nada sozinha e a essência, infelizmente, não é nenhuma. Passa o dia sentada, falamos com ela e puxamos por ela para ela desenvolver as poucas capacidades que tem. Há momentos em que a minha mãe está lúcida, mas são breves instantes”, é assim que Jorge Abreu descreve o estado da mãe depois da doença se ter apurado da sua lucidez. 

Na vanguarda está também presente o pai de Jorge Abreu que aos 79 anos é um dos principais cuidadores da esposa. “O meu pai tem 79 anos e, felizmente, está completamente lúcido e fisicamente também está bem, foi abaixo com esta situação, mas tem sido o meu suporte”. 

Também o Centro de Dia “Memória de Mim” tem tido um papel “excecional” no cuidado que presta a Maria da Cruz. “Eles fazem um trabalho excelente com os utentes, a minha mãe melhorou muito aqui em seis meses”. 

Embora a mãe tenha sido uma pessoa “muito ocupada” o que não permitiu criar uma “relação intensa” entre mãe e filho, Jorge Abreu destaca que recebeu “todo o carinho e apoio” e, por isso, tem retribuído o amor diariamente na esperança de lhe dar “força“.

Neste dia, Jorge Abreu deixa também algumas palavras aos familiares e amigos que têm junto de si doentes com Alzheimer: “É uma situação bastante difícil, mas não desistam das pessoas, porque a nossa ajuda e força é extremamente importante e eles precisam disso. Eles sentem o carinho que a gente lhes transmite quando os abraçamos ou lhes damos um beijo, não devemos abandonar os nossos familiares nestes momentos, mas sim estar cada vez mais perto”. Para além disso, destaca também a “força mental” que os cuidadores devem ter e o “cuidado” no momento em que se escolhe com quem deixar os familiares.