ana pinheiro
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Tinha “uns quatro ou cinco anos” e já dizia à avó que um dia queria “tomar conta de velhinhos”. Foi criada por ela e a escolha “pode ter sido influenciada por isso”. Ana Pinheiro sempre se sentiu “fascinada” pela área e “nunca” teve dúvidas quanto ao percurso profissional a seguir.

No final do 12.º ano sabia que iria seguir o curso de Serviço Social e, já na faculdade, a área de especialização escolhida foi a Saúde e Terceira Idade. “Fui sempre muito focada nestas áreas. Quando acabei a licenciatura, andei à procura de lares de terceira idade (atuais ERPIS) e como sempre tive boas referências da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel – por ser uma instituição grande, antiga e com alguma visibilidade – achei que estar nesta instituição me abriria mais portas. Fui aceite no estágio curricular, seguiu-se o profissional e, em setembro de 2009 efetivei a minha ligação. Era mesmo isto que queria e acabou por se concretizar“, diz orgulhosa.

“Podemos ter licenciaturas, mestrados e doutoramentos, mas a experiência de vida é tudo”

Há mais de 15 anos que a penafidelense trabalha na “área de eleição” e, enquanto diretora técnica da SCMP, não tem dúvidas de que é “especial” trabalhar com os idosos. “Eles ensinam-nos muito todos os dias. Podemos ter licenciaturas, mestrados e doutoramentos, mas a experiência de vida é tudo. Para além disso, eu cresci com a minha avó que trabalhou numa escola 40 anos e sempre senti que toda a gente gostava das crianças. Então, eu achava que precisávamos de dar mais atenção aos idosos, eles precisam de nós, porque gostam de ensinar e, sobretudo, de serem ouvidos. A melhor coisa que podemos fazer é cuidar do próximo. E foi sempre isso que me definiu como pessoa”, garante.

São muitos anos a ouvir os outros e histórias que ainda hoje se recorda. “Todos” os utentes deixam uma marca, “de uma forma ou de outra”, mas há sempre um ou outro que se torna inesquecível. Ana Pinheiro recorda uma utente, quando ainda era estagiária, que estava “sempre agarrada à bata. A minha bata chegava ao fim do dia com a marca da mão da senhora. E a minha avó, que vinha e que vem muitas vezes visitar aqui os utentes, uma altura disse-lhe ‘esta menina é minha’ e ela ficou muito chateada, porque não era, eu era dela. Foi uma pessoa que me marcou, porque eu todos os dias andava atrás de mim. Muitos deles não têm uma retaguarda, estão muito sozinhos e passamos a ser família deles. A todos os familiares que entram cá eu digo que eles passam a ser nossos também”.

Tenho uma utente que diz que eu sou uma filha adotiva e isso diz-me muito

Por isso, todas as admissões “são importantes”, mas as perdas “também marcam. Eu passo tanto tempo, ou mais, do que passo com a minha família. Tenho uma utente que diz que eu sou uma filha adotiva e isso diz-me muito”.

No final de um dia de trabalho, e no caminho para casa, é “impossível” não pensar na segunda família e Ana Pinheiro acredita que “quem gosta do que faz não consegue desligar-se. A minha avó ensinou-me que sermos bons profissionais, temos de ter um bom coração, principalmente para trabalhar com o próximo. E esse é o meu lema, todos os dias”.

Ana Pinheiro acredita no crescimento da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel

A diretora técnica da SCMP diz não se arrepender do caminho que escolheu e, hoje é uma profissional “muito feliz e realizada. Quando surge um problema, porque isto não é um mar de rosas, penso muitas vezes nisto: o facto de fazer o que gosto acaba por ser mais fácil levar o dia-a-dia. Sou muito feliz, não tenho dúvidas“.

Ana Pinheiro acredita que “todas as mudanças são importantes”, nomeadamente no que diz respeito à gestão da instituição. “É bom irmos mudando, porque a forma de ser e estar na vida e acabam por fazer com que cada mudança seja uma evolução. Há sempre uma esperança para mudarmos e para fazermos cada vez melhor. Acho que a instituição tem crescido e vai crescer mais, sempre a pensar naqueles que nos escolhem como ‘casa'”, termina.