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Com formação em fisioterapia, Raquel Camelo não dizia que não ao mundo da moda, mas “nunca” pensou vir a ser eleita Miss Queen Portugal 2024, um título que arrecadou no dia 15 de junho, em Castelo Branco.

Natural de Raimonda, Paços de Ferreira, a jovem de 23 anos vai representar Portugal num concurso de beleza internacional e partilha com o Jornal A VERDADE como foi a experiência que lhe deixou o “bichinho para participar em mais coisas”.

Para além da faixa Miss Queen Portugal, um dos títulos principais, Raquel Camelo recebeu o de Melhor Talento.

Como surgiu a participação no concurso? Era uma vontade antiga?

A fisioterapia sempre foi a minha paixão e sabia que era isso que queria fazer na vida. No entanto, sempre soube que a minha atividade profissional não iria ficar só por aí e, apesar de ser algo que gosto muito de fazer, sinto o mesmo neste momento. Sou muito dinâmica, não gosto de monotonia, gosto de estar ativa e de ter novos projetos e estar fechada num gabinete oito horas por dia, cinco dias por semana é ‘matar-me’.

Quanto à moda, toda a gente me dizia ‘se calhar até tens jeito para fazer alguns trabalhos de modelo, nunca pensaste?’. Eu, sinceramente, nunca dei ouvidos, mas no fundo sabia que se calhar se tentasse podia conseguir. Entretanto, o concurso foi divulgado e o meu namorado, como é mais doido e acredita ainda mais no meu potencial do que eu, inscreveu-me. Ele sabia desta minha vontade de fazer mais do que uma coisa na minha vida profissional. Quando soube fiquei reticente, mas também expectante por saber o que poderia sair dali.

E como foi viver toda a experiência?

Fui muito tranquila. Cheguei lá e percebi que era um mundo completamente diferente. Eu sentia que elas queriam aquilo para a vida delas e que estavam a trabalhar imenso para estar ali e eu pensei ‘se calhar este não é o meu sítio’. Depois comecei a perceber que estava a gostar e comecei a dedicar-me e a empenhar-me mais. Eu nunca tinha desfilado na vida, quase nunca uso salto alto e não tinha treinado o desfile. Apenas ali, duas horas antes no pré-ensaio. Não estava muito preparada e, por isso, não estava expectante que ia passar. A verdade é que não passei. Fiquei muito triste, porque estava a gostar. Mas quando me estava a despedir, uma pessoa da organização veio ter comigo e disse-me ‘um beijinho e até dia 7’. Não percebi. Fui para casa a pensar naquilo. Depois percebi que, naquele dia, havia repescagem das duas meninas com mais votações pelos jurados. No dia 7 acordei, fui ao telemóvel e a primeira publicação que vejo no Instagram era a dizer que eu era mais uma finalista selecionada pelo comité para participar na final. Fiquei radiante. 

A partir daí comecei a pensar que de facto ia entrar neste mundo, mas nunca com o pensamento de que iria ganhar. Conhecia as candidatas, sabia que tinham muito potencial e sabia que não iria chegar longe. A semana de estágio começou a aproximar-se, recebemos cada vez mais informações, coisas para fazer, como o traje personalizado, para o qual tive imensa ajuda de toda a gente, como a Junta de Freguesia de Raimonda. Fiquei nervosa, mas ao mesmo tempo tranquila, porque pensava ‘vou fazer, mas sei que não vou ganhar’.

A final regional decorreu de 10 a 14 de junho. Uma semana foi incrível e muito dura e exigente a vários níveis. Levantávamo-nos as 06h30, fazíamos várias atividades durante o dia e, a partir das 18h00, tínhamos os ensaios para a gala. Só voltávamos à pousada por volta das 00h30. Fui genuína e tranquila, porque percebi que estávamos a ser avaliadas desde o início do estágio. 

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Esperavas vencer ou foste sem qualquer expetativa?

As minhas expetativas nunca foram muito altas e nem sequer estava confiante de que ia passar na primeira fase (regional). Inicialmente, não esperava vencer, mas quando começou a semana de estágio percebi que se calhar teria potencial para chegar, pelo menos, ao Top 12. Comecei a confiar muito em mim e a meio da semana o feedback começou a ser muito positivo. Todos me diziam que chegaria ao Top 5 e que, provavelmente, ia receber uma coroação. Tudo isso me deu mais força. Mesmo no dia da gala cheguei a duvidar, mas estava muito tranquila e fui eu.

Sentes que para além de uma vitória pessoal foi, também, uma oportunidade de divulgar as tuas origens?

Superei-me a mim mesma. Houve alturas em que duvidei, não acreditava que pudesse ganhar. No final, trouxe a coroa para casa e para a minha terra. Sei que é um motivo de orgulho muito grande para os raimondenses e pacenses. Toda a onda de carinho e amor que tenho recebido é enorme. O feedback tem sido muito positivo e foi um orgulho para mim poder levar a minha freguesia e concelho a este concurso, para que pudessem ser ‘ouvidos’ por Portugal inteiro. Apesar de ter sido uma vitória muito pessoal e, sim, uma oportunidade de divulgar as minhas origens.

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Ficaste com o ‘bichinho’ de participar em mais concursos do género?

Claro que sim. Foi uma experiência incrível. Ainda nem passou uma semana e já estou com muitas saudades. Apesar de muito exigente, foi muito enriquecedora. Aprendemos muita coisa sobre culturas, projetos … sem dúvida que fiquei com o ‘bichinho’ de participar em mais coisas. No próximo ano, vou participar no Miss Earth e representar Portugal num concurso internacional. Tenho um ano de preparação e, em simultâneo, vou trabalhar em fisioterapia. Se vou representar Portugal tenho de o fazer da melhor forma possível. Tenho de me dedicar, até porque podem surgir muitas coisas daí. Vou dar o meu melhor e quem sabe, um dia, possa vir a participar num Miss Universo. 

Foi importante ter o apoio da família e namorado?

Foi muito importante ter o apoio de todos os familiares e do meu namorado. Sem ele não teria ganho e nem me teria inscrito. Tenho muito a agradecer-lhe, a ele e a todos os familiares, que nunca me deixaram cair e duvidar de mim. A minha mãe era muito ‘pés na terra’, não queria que criasse expetativas, já o meu pai muito mais estravagante e dizia que ia ganhar. No dia da gala estavam lá, foi uma experiencia única para mim e para eles. Estão todos muito orgulhosos da minha prestação. 

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No teu caso, foi o teu namorado a inscrever-te no concurso É fundamental que o parceiro apoie os sonhos e objetivos do outro?

Infelizmente, e apesar de já estarmos no século XXI, vejo que as mulheres ainda se sentem muito limitadas em seguirem os seus sonhos e procurarem a verdadeira motivação, porque os namorados ou companheiros não as deixam voar. Quando estamos com uma pessoa que nos motiva para mostrarmos o nosso melhor, sentimo-nos apoiadas e seguras, dando-nos ainda mais força para acreditarmos em nós mesmas.

Quando um parceiro incentiva e apoia o outro, isso fortalece a relação e ajuda cada um a crescer pessoalmente e profissionalmente. O apoio mútuo pode aumentar a confiança, a motivação e a felicidade de ambos, criando um ambiente positivo onde cada um se sente valorizado e compreendido. Além disso, num relacionamento onde os parceiros se incentivam a perseguir os sonhos pode levar a uma maior satisfação e realização pessoal para ambos. No meu caso, sei perfeitamente que o meu sucesso e a minha felicidade é o sucesso e a felicidade do meu namorado, e vice versa, por isso, este apoio e compreensão foi fundamental.

Na tua experiência sentiste que, ainda, existe algum preconceito associado aos concurso de moda e beleza? Achas que tem vindo a diminuir?

Sim, o preconceito em relação a concursos de beleza, frequentemente vistos como “fúteis” ou associados a mulheres “sem interesse”, tem vindo a diminuir, especialmente entre as novas gerações. As mudanças, sociais e culturais, têm mostrado que estes concursos podem ser plataformas importantes para destacar os talentos, inteligência e destacamento social de algumas mulheres. Muitas concorrentes usam estes concursos para promover causas sociais, educativas e ambientais, demonstrando que possuem interesses e preocupações que vão além da aparência física.

Além disso, as novas gerações tendem a valorizar mais a diversidade e a inclusão, reconhecendo que as participantes de concursos de beleza podem ter uma variedade de habilidades e ambições. Este novo entendimento ajuda a desmistificar estereótipos antiquados e a promover uma visão mais equilibrada e justa das mulheres.

No entanto, sinto que Portugal ainda é um país que não destaca muito este concurso, quando comparado com outros países, como França, onde o concurso é transmitido em direto na televisão. As coroadas e, principalmente, a Miss França são destacadas com vários prémios e muitas outras coisas. Penso que Portugal tem de aprimorar o pensamento em relação a este tema e dar mais destaque, porque de facto ser miss não é só ter beleza, mas sim defender causas importantes, sendo essa uma obrigação para nós. Por isso, se tivéssemos ainda mais visibilidade conseguiríamos levar causas ainda mais longe.

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