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O cancro bateu à porta da família de Ana Paula Monteiro e Fátima Barbosa, irmãs, há 15 anos com a doença do pai: um cancro de próstata e, anos mais tarde, um cancro de estômago que acabou por levá-lo em agosto de 2022. Já sabiam que era uma “realidade dura”, mas não esperavam que se repetisse, ainda por cima, ao mesmo tempo. Em abril de 2023, a mãe descobriu um cancro uterino e a filha, Ana Paula, um cancro de mama.

Na primeira vez, o cancro traz um “sentimento de impotência” e, embora haja muita informação, predomina o “desconhecimento, porque lidar diretamente com a doença é diferente” e senti-la na própria pele ainda mais. No caso de Ana Paula, começou por notar uma deformação na mama, mas não sentiu, de imediato, “sinais de preocupação. Andava a fazer um tratamento hormonal e voltei a tomar a pílula, porque antes disso tinha tido anemia. Mas durante todo o processo senti-me bem, nem um cansaço! A última mamografia estava bem e a ingestão de ferro ajudou-me a estabilizar os valores e curei a anemia”. Mas a teima ficou lá. A verdade é que depois de uma consulta no centro de saúde e uma mamografia acusou R4. “Podia ser maligno ou não. Precisávamos de uma biópsia”, o exame que acabou por confirmar a presença de um tumor maligno. “É um choque, é uma bomba que nos cai em cima. Porquê eu? Porquê em nossa casa? Porquê ao mesmo tempo?”. Foram pensamentos que abundaram a cabeça de Ana Paula e que partilhou com a irmã quando revelou o cancro de mama. Abraçadas choraram e, durante alguns dias, não contaram à mãe que já se encontrava fragilizada.

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No caso da doença da mãe, um cancro uterino, tudo começou com sinais de emagrecimento, conta Fátima. “Depois de ter perdido o marido começou a emagrecer muito e achamos que era a solidão e a dor pela perda de uma pessoa que amava, por isso, não nos preocupamos muito, até ao dia em que a cor da pele começou a mudar e veio a tossiqueira… na altura achamos que era COVID, mas a médica do Hospital de Penafiel disse que tinha de ser internada porque podia ser algo maligno. Foi difícil voltar para casa. Não aceitamos bem. Mas temos de ser fortes e lutar”, recorda Fátima com angústia.

Uma mãe e filha que partilharam sintomas, dificuldades e que viram o cabelo cair em simultâneo. É uma doença de “picos”, por isso alguns dias apoiavam-se, noutros não tinham energia. No meio disto tudo, Fátima tentava ser o apoio constante, sem nunca deixar a sua vida pessoal e profissional para trás enquanto cuidou do pai e, agora, da mãe e irmã. “Nunca deixei de dar atenção à minha família, continuei a trabalhar, o que me ajudou a aliviar a cabeça, continuei com as minhas funções enquanto presidente do Grupo Desportivo de Tabuado, e também com a minha licenciatura e, mais tarde, mestrado. Os meus colegas de trabalho e amigos têm sido incansáveis, porque não me podia concentrar só na doença se não, não ganhava força para dar apoio a quem realmente precisa”, partilha.

Num século “focado nesta doença”, Ana Paula foi vítima de um cancro hormonal que surgiu na pré-menopausa. Depois do “choque” inicial encarou com “positividade” e, graças ao seu caráter “resiliente” e ao apoio que recebeu, foi à luta.

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Felizmente, em todo o processo Ana Paula sentiu-se “bem”. Apenas os tratamentos de quimio e radioterapia vieram demonstrar que era “grave”, sobretudo, nos dias em que a “atirava” para a cama. “No geral fiz a minha vida normal, continuei a fazer caminhadas e não fiquei presa a quatro paredes nem a pensamentos negativos”.

Perante um cenário negro, Fátima teve de se munir de força e encorajar as mulheres da sua vida. “Cheguei a levar a minha mãe aos tratamentos ao IPO, onde ficava cerca de seis horas, e levar a minha irmã ao Hospital São João, que demorava 2h30”, relata, emocionada. Perante esta realidade, também a irmã mais nova decidiu tomar “todas as providências. Fizemos o teste genético, mas não houve confirmação… agora já não vivo com receio, mas continuo a ter preocupação com os meus hábitos”.

Enquanto cuidadora de três pessoas com cancro, a irmã percebeu que a “comunicação e o espírito de luta são essenciais. O meu pai nunca gostou de pedir ajuda e sofreu sozinho, preocupava-se muito com a esposa, mas esquecia-se de si. Não o ajudou nem a ele nem aos cuidadores”.

Ao fim de 15 anos, Fátima afirma, convicta, de que “os cuidadores também precisam que cuidem deles. Também temos os nossos momentos de fragilidade emocional, porque vivo aquilo como se fosse meu, não tenho a dor física, mas tenho a dor psicológica… mental”, deixando uma nota positiva: “mas enquanto há vida há esperança”.

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Entretanto, Ana Paula foi operada, e apesar de ter realizado um esvaziamento da axila por prevenção conseguiu manter os dois peitos. Atualmente, realiza consultas de vigilância e fisioterapia.

Toda a envolvência com a doença fez com que ganhassem uma nova sensibilidade perante o cancro. “Agora toca-nos de outra forma, gosto de trocar impressões, porque estamos todos dentro da mesma bolha, embora cada caso seja um caso”, afirma Ana Paula, deixando uma mensagem de esperança: “não se fechem, não se coloquem na cama, há esperança. O espírito positivo é metade do caminho e ter pessoas que nos apoiam é fundamental, o meu marido é o meu braço direito, um pilar, largou tudo em França para me ajudar. É preciso que a família se una e agradeça por cada dia passado”, destacou.

Felizmente, a família tem sido apoiada por familiares, amigos, colegas de trabalho e toda a equipa médica envolvida. “Não temos razão de queixa de nenhum hospital por onde passamos”, realçaram. Para terminar, as irmãs deixam ainda um agradecimento ao médico de família Rui Correia, à equipa e à Santa Casa da Misericórdia de Marco de Canaveses pelo “apoio. Têm sido muito prestáveis”.