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O cancro fê-lo desistir do futebol, mas Gonçalo ainda sonha ser guarda-redes

Redação

Acreditar que "vai correr tudo bem" e manter "sempre a esperança" tem sido o principal pensamento, nos últimos meses, da mãe de Gonçalo, um menino de 12 anos que luta contra o cancro.

Esta quarta-feira, dia 15 de fevereiro, assinala-se o Dia Internacional da Criança com Cancro, criado pela Childhood Cancer International, para garantir a todas as crianças o acesso a melhores tratamentos e medicamentos, bem como dar apoio às suas famílias e amigos.

Todos os anos, mais de 400 mil crianças e adolescentes com menos de 20 anos são diagnosticados com cancro, um número ao qual Gonçalo Cravo não conseguiu escapar. Com apenas 12 anos foi diagnosticado com germinoma bifocal, um tumor maligno localizado no cérebro e que a família "não esperava".

A mãe, Maria Belém Caldas, conta na primeira pessoa o início desta 'luta'. Dores de cabeça, dificuldades na visão e cansaço foram os sintomas que começaram a dar o alerta de que o pior estava para vir e, hoje, Maria Belém Caldas, vai "montando todas as peças do puzzle. Na altura, ele queixava-se e como também sou doente oncológica, aqueles sintomas foram uma chamada de atenção. Um dia no treino de futebol sentiu-se mal e desmaiou. Foi a partir daquele momento…".

Seguiu-se uma ida para o Hospital de Guimarães, onde a palavra 'cancro' começava a falar mais alto. "Uma médica não o deixou sair sem saber o motivo das queixas da dor de cabeça e viu que havia algo estranho na visão. O Gonçalo fez um exame e o resultado revelou que tinha um tumor na cabeça", recorda.

De Guimarães foi para a ala pediátrica do Hospital de São João do Porto, e confirmava-se o pior cenário. "Foi aí que recebemos o diagnóstico, a 8 de junho de 2022". A mãe não esquece a data e os primeiros momentos após a notícia. "Eu estava numa fase que não conseguia andar, então era o pai que estava com ele. Mas quando me ligou a dizer o que se passava, disse logo que queria estar perto do meu filho. O meu foco é ele".

A palavra cancro já não era desconhecida para o pequeno Gonçalo, mas ainda assim a mãe decidiu "prepará-lo aos poucos. Disse-lhe que tinha um problema na cabeça, que ia passar por um processo mais ou menos como o meu, que ia perder o cabelo. Ele aceitou bem o diagnóstico, não mostrou revolta", conta.

Pela frente, o menino de 12 anos tinha meses de tratamentos. "Fez quimioterapia, uma cirurgia para libertar um líquido que estava a fazer pressão na cabeça e que lhe provocava dor de cabeça, mas não puderam mexer no tumor. Como a quimioterapia resultou muito bem, então passou logo para a radioterapia, que entretanto já acabou. Agora ele vai fazer uma ressonância para saber o resultado de tudo".

Casa Ronald McDonald do Porto é a "segunda família" do Gonçalo e da mãe

A vida de Gonçalo mudou por completo, assim como a de toda a família. "Tudo muda. Estou com ele todos os dias, mas tenho outro filho que está longe. De vez em quando vem ter connosco e está com o irmão", diz Maria Belém Caldas. 

Descrito pela mãe como um menino "muito aplicado, organizado e querido", Gonçalo consegue manter o sucesso escolar. "Ele já era muito responsável, mas agora ainda é muito mais. Cresceu muito. Aliás os médicos dizem que precisa de brincar e deixar as coisas dos adultos".

Tem aulas online, seis aulas por dia e "quer sempre mais. Acorda-me durante a madrugada para fazer trabalhos inclusive. Não descansa enquanto não acaba tudo. Está a correr tudo muito bem, mas nos últimos tempos anda mais ansioso por causa da ressonância"

Toda esta rotina é mantida na Casa Ronald McDonald do Porto, aquela que considera a "segunda família. Entramos em junho de 2022 e fomos muito bem acolhidos. As pessoas foram fantásticas connosco. Os voluntários estão sempre presentes e dão-nos muito apoio. Depois temos outros miminhos, como as terapias, massagens de relaxamento, cabeleireiro, manicure, que oferecem de coração. Ajudam a atenuar a dor e dão conforto".

Mais de seis mil famílias já foram apoiadas pelos projetos da Fundação Infantil Ronald McDonald e que, como nos diz esta mãe, "são o suporte. Trocamos vivências que, às vezes, são iguais ou parecidas, mas estamos todos a passar pelo mesmo processo. Vamos levar estas famílias para toda a vida", garante. 

Para Maria Belém Caldas esta 'casa' é "fundamental" e deveriam existir "muitas mais. No nosso caso, somos de longe e têm sido um grande apoio. É tudo gratuito".

"Tinha o sonho de conhecer o Cristiano Ronaldo, sonho esse que foi realizado"

Antes de todo este processo, Gonçalo gostava de jogar futebol e mantém o sonho de vir a ser guarda-redes. Algo que será "difícil, porque depois desta fase vai ter de fazer uma hormona de crescimento, mas é um dia de cada vez", diz a mãe.

Entretanto, viu outro sonho ser realizado, conhecer o Cristiano Ronaldo, "sonho esse que foi realizado. Ele não sabia, não lhe disse nada até ao dia. Dois dias antes da seleção rumar ao Qatar, para disputar o mundial, fomos até à cidade desportiva, em Lisboa, e conhecemos-o e a outros jogadores da seleção".

Aquele foi "o melhor dia" do filho, que "andou meses super radiante. Foi tão bom ver o sorriso dele. São estas pequenas coisas que fazem a diferença".

Diferença que fazem também os conselhos de quem passa por um processo destes. Aos pais e cuidadores, Maria Belém Caldas deixa palavras de "esperança. Com amor sinto que vamos vencer esta batalha. Tenho sempre fé que tudo vai correr bem. Temos de pensar sempre com otimismo, tudo se vai superar. Quem tem crianças que estejam a passar pelo mesmo peço que acreditem e que lutem até ao fim".

Na mensagem final, esta mãe sublinha o papel da Casa Ronald McDonald. "Que haja mais casas como esta. Se puderem ajudar façam, é um dinheiro muito bem empregue", garante.

Há cinco anos, Maria Belém Caldas foi diagnosticada com cancro da mama e antes do diagnóstico do filho descobriu que o cancro se tinha alastrado para os ossos. Mesmo assim, mantém sempre a "esperança. Dizem que acreditar é meio caminho para a cura".