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"Depois de uma perda gestacional, o pior que se pode ouvir é: então, quando é que têm filhos?"

Redação

A perda gestacional e neonatal é uma realidade comum a muitos casais, mas que é vivida, na maior parte das vezes, em silêncio. No mês da sensibilização pela perda gestacional e neonatal, damos-lhe a conhecer o testemunho de uma mãe que passou por várias tentativas e perdas e que pretende deixar uma mensagem de "apoio" a outros casais que se identifiquem com a sua história.

Ser mãe não era um "sonho", mas havia a "vontade de maternar e cuidar, sobretudo através da adoção. Comecei a pensar, seriamente, em ser mãe depois de conhecer o meu marido", começa por contar Sofia Teixeira. Seguiu-se um processo de gravidez "muito longo e complexo" pelo caminho "natural. Fiz um 'check up' para saber se estava tudo bem e avançar com tentativas".

Foram precisos 15 meses até conseguir o primeiro teste positivo, mas a "alegria inicial" terminou uma semana depois. "Tive de ser internada de urgência. Era uma gravidez ectópica (o embrião estava alojado na trompa), o que acabou por gerar uma hemorragia interna". Submetida a uma cirurgia de urgência, Sofia perdeu o bebé e a trompa esquerda. "Esta situação gerou complicações pós cirúrgicas que acabaram por confirmar um quadro de impossibilidade de gravidez natural. Fui reencaminhada para o Hospital de Gaia, nomeadamente para consultas de fertilidade", recorda.

A "única" opção de engravidar seria então através do processo de Fertilização In Vitro (FIV), mas que levaram a "meses de espera, um tratamento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e dois no privado. O último acabou por trazer a tão desejada gravidez, mas aos cinco meses perdemos o bebé. Tinha um problema cardíaco congénito muito grave e incompatível com vida. Foi muito difícil, porque para além da perda tive de passar pelo processo do parto normal, numa ala da maternidade onde outras mulheres davam à luz bebés com vida". O quarto tratamento - realizado este ano - culminou "em mais uma perda, gravidez bioquímica".

Como e porque se mantém a esperança e a vontade de ter um filho, depois de cinco anos de tentativas, é a pergunta que muitos de nós poderemos fazer e que este testemunho nos diz "não saber. A verdade é que a esperança vai-se perdendo aos poucos, a cada perda, a cada má notícia vai um pouco mais … neste momento é um pontinho muito fraco, mas ainda cá está", garante.

Já o sentimento de perder uma vida que tanto se deseja "é muito difícil explicar por palavras" e uma "dor que vai além do físico, diz Sofia. "Ficamos com uma sensação de que estamos perdidos, sem chão e somos incompreendidos. Há um sentimento de revolta e raiva, de negação. Ficar sem futuro ou esperança. Um vazio na alma que se sente todos os dias, mesmo naqueles onde acabamos por continuar a viver normalmente e a sorrir. A dor e a lembrança estão sempre presentes".

Depois de várias tentativas, tratamentos e perdas, fica apenas a "pior dor", mas "não estão sozinhos. É normal sentirem-se incompreendidos e cansados das perguntas, por vezes invasivas, e da falta de empatia de terceiros. É normal acharem que a maternidade/paternidade é algo fácil para a maioria dos casais, mas a verdade é que existe um enorme 'tabu' sobre infertilidade e perda gestacional". Esta é maior certeza que tem Sofia Teixeira, que aconselha outros casais a procurarem "grupos de apoio online (paiscoragem, amor.com.asas, amorparaalemdalua) onde podem trocar experiências, ouvir histórias iguais ou diferentes e, sobretudo, sentirem-se compreendidos e perceberem que não estão sós".

Mas a mensagem vai, também, para todos aqueles que estão do 'lado de fora', "sejam homens ou mulheres. Entendam que a vida das pessoas/casais, não se pode focar apenas na questão dos filhos. A pior coisa que alguém que esteja a passar por infertilidade ou perda gestacional precisa ouvir é 'então, quando é que têm filhos?', 'Já está na hora, não vão para novos' ou a pior delas 'vocês não sabem o que é o amor que se têm a um filho'. São coisas horríveis de se dizer, por mais que sejam com boa fé. Não sabem o que os outros estão a passar. E sim, sabemos o que é o amor que se têm por um filho. Afinal é por esse amor que continuamos a tentar".