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Há 12 anos, um acidente de mota vinha mudar o rumo da vida de Augusto Pinto Oliveira. Para trás, havia um homem que, “desde miúdo e por vontade própria”, levava o desporto “muito a sério”. Começou no atletismo, por volta dos 10 anos, e depois seguiu-se a canoagem, modalidade em que se dedicou “a 100%”, representando as cores portuguesas pela Seleção Portuguesa de Canoagem de Águas Bravas além fronteiras em campeonatos do mundo e outras provas internacionais. 

Augusto Oliveira atingiu o “auge” da carreira desportiva ainda muito jovem. Mas o abandono da Alta Competição, com cerca de 19 anos, conduziu-o a um “vazio emocional e psicológico”. Recorda que começou a sentir “falta da adrenalina da competição, de algumas emoções, disciplina” e encontrou, “numa fase inicial, no álcool e, posteriormente, nas substâncias” o que “precisava” para preencher esse vazio.

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À sua volta, família e amigos, “não se aperceberam” desta dependência, porque “durante alguns anos” Augusto Oliveira “conseguia disfarçar e camuflar esses comportamentos aditivos”.

A viver uma vida de boémia e de dependências sentiu-se “sozinho numa instabilidade emocional profunda”, com vários internamentos, hospitalizações e desintoxicações. 

Com o nascimento da filha Mara tentou mudar o rumo da situação e conseguiu reduzir “bastante” os consumos, mas “passado algum tempo” voltou, novamente, “ao comportamento que estava a ter antes dela nascer”, recorda.

Uma vida de excessos e sem regras que o levaram a uma noite em que “a morte bateu à porta. Depois de muito álcool e droga, tive um acidente de mota. Foi uma queda desamparada, bati com a cabeça num passeio e fiquei inconsciente. Fui para o hospital, deram-me uns pontos e mandaram-me para casa sem fazer exames”.

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Depois, lembra-se de chegar a casa “de táxi”, deitou-se e acordou “passado um mês”. Quando acordou recorda que “foi complicado” porque estava “bastante confuso. Às vezes, não distinguia bem o que era real ou o que era fruto da minha imaginação”.

Após vários diagnósticos, os médicos diziam-lhe que “a probabilidade de sobreviver era quase nula” e que caso acontecesse “ia sair do hospital numa cadeira de rodas”. Perante as informações que iam chegando, Augusto confessa que “nunca acreditou nisso”, ao contrário da família “que já se preparava para o pior”.

Os consumos continuaram depois do acidente, até que um dia resolveu pedir ajuda à mãe. “Há 12 anos comecei a grande mudança numa clínica de desintoxicação”, conta.

Tinha 38 anos quando terminou o tratamento e voltou a seguir o “sonho” de ir para a faculdade. “Andei 5 anos na faculdade e trabalhava ao mesmo tempo. Dormia quatro ou cinco horas por dia. mas mantive sempre o foco”.

Desse percurso ficaram algumas sequelas, entre elas o excesso de peso. Quando saiu da clínica tinha mais de 100 quilos e viu na corrida a forma de voltar a estar em forma. “Comecei com as corridas normais e depois passei para as de longa distância. Fiz provas em quatro continentes diferentes”.

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Depois de todo o processo “conturbado” e de lhe terem dito que não voltaria a praticar desporto, conseguiu voltar a fazer o que gostava. “É um sentimento especial e estou orgulhoso. O desporto proporciona-me bem-estar e vontade de abraçar desafios maiores, mais longos e mais difíceis”, confessa.

Toda a história de vida foi passada para um livro que, para Augusto Silva, pode ser uma forma “de as pessoas perceberem que podemos passar fases complicadas na vida, mas temos sempre oportunidade de dar a volta por cima. A nível psicológico temos muito mais capacidade do que às vezes pensamos ter”, diz a voz da experiência.

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Hoje, reconhece que o passado “menos bom” o ajuda a ter mais motivação e a querer lutar mais por aquilo que corre todos os dias. “O foco que tinha para fazer coisas más, agora uso para atingir objetivos e para me auto motivar. Essa forma de pensar ajuda-me muito a ultrapassar todos os obstáculos”.

Para este ano, a meta passa por fazer uma prova de 300 quilómetros, a travessia integral do Algarve. Ou “o grande desafio”, a ida ao deserto da Tunísia, para fazer uma prova de 100 quilómetros

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