maria do ceu centenaria enfermeira
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D. Maria do Céu foi toda a vida enfermeira, trabalhou largos anos no IPO do Porto, e teve a “sorte” desta quinta-feira, dia 11 de abril, celebrar 100 anos. 

O Jornal A VERDADE esteve à conversa com Miguel Peixoto, sobrinho da centenária, que deu conta de uma mulher de “personalidade vincada, forte, mas sempre humana e dedicada”. 

os cinco e tia ceu

Miguel Peixoto e o resto dos sobrinhos são os filhos do coração de D. Maria do Céu. “Ela nunca teve filhos, mas sempre nos tratou como tal. É uma relação muito intensa”. Durante toda a vida, o sobrinho, carinhosamente, brincava com a tia chamando-a “Napoleão. Gosta de manifestar a sua opinião e, às vezes, até de a impôr, sempre com muito cuidado, jeitinho e cortesia, mas a opinião dela é forte. Quando já chegamos a qualquer entendimento, eu digo ‘Oh Napoleão, já chega!’”, partilha. 

D. Maria do Céu tornou-se uma mãe para os sobrinhos quando a mãe biológica, de origem francesa, mudou-se para Portugal e foi “obrigada” a readaptar-se a uma nova realidade. “Quando nos instalamos em Portugal, nos anos 50, ela foi a pessoa que ajudou a minha mãe a adaptar-se à vida em Portugal, que era muito diferente da francesa. Em França tinha acabado a guerra, havia um vento de liberdade e abertura, e em Portugal era exatamente o oposto. Nessa vontade de ajudar a nossa mãe a fazer a transição para uma vida conservadora, e com todo o carinho, num dia quente, propôs-lhe tomar um chá na Baixa Lisboeta e a nossa mãe, como boa francesa que era colocou uma saia leve, uma blusa sem mangas com algum decote. Quando a nossa tia a viu disse: ‘tu não podes sair assim para a rua, não é possível, tens que tapar a cabeça, os ombros e as pernas”, isto tudo dito com todo o amor e carinho de maneira a não chocar a nossa mãe’.

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Miguel Peixoto partilha que a “longevidade” é uma característica da família e que ultrapassar a casa dos 90 é comum, mas os 100 da D. Maria do Céu é um “marco”, principalmente, ao verem o seu estado de saúde. “A nossa tia continua fresca, alerta, com capacidade para acompanhar as conversas e para participar nas coisas. Não está nada aliada da realidade, tem as suas limitações físicas, mas mentais muito poucas”.

Saúde que comprovou a poucos meses dos 100 anos, D. Maria do Céu subiu um lanço de escadas e deixou todos boquiabertos. “Fomos visitar uns familiares e havia um lanço de 15 degraus altos e pensei que tínhamos de ir buscar uma cadeira para levar a tia Céu por aí acima, qual quê, foi só preciso dar-lhe o braço e ela foi…”. 

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Embora o material seja o menos importante, os sobrinhos da D. Maria do Céu fizeram uma “vaquinha” e ofereceram uma televisão com “um ecrã maior. Demos-lhe uma televisão para estar à vontade”, mas a felicidade nos olhos surgiu ao ver toda a família reunida em sua casa. 

Mesmo no dia em que completou 100 anos, os sobrinhos garantem que a “tia Céu” continua “na linha da frente quando se trata de ajudar. A minha tia sabe escutar os outros, sabe manifestar o seu acordo e desacordo, sabe aceitar a diferença”. 

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