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Cristina de Sousa é fadista, mas não sabia que era fadista até aos 22 anos de idade. Aliás, se há artistas que cantam “desde que se lembram”, a penafidelense recorda com clareza o dia em que descobriu que sabia cantar.

Tinha 16 anos, quando uma amiga sua decidiu participar no concurso de talentos “Quero ser uma estrela”, promovido pela Câmara Municipal de Penafiel. Cristina ia sempre aos ensaios da sua amiga, até que “o Sr. Nicolau, que era um produtor, como me via sempre por lá, perguntou se eu não queria cantar. Eu nem sabia se sabia cantar!”, recorda a fadista. Mas cantou. Cantou, participou e ganhou. Foi “a primeira vez que tive consciência que tinha algum talento”.

Aos 22, foi convidada para cantar numa noite de fados “da minha minha terra”, Termas de São Vicente, “e eu achei que estavam malucos. Eu não sabia fado nenhum, só ouvia outros géneros musicais que não fado”, explica. No entanto, aceitou o desafio.

Foi com dificuldade que Cristina encontrou as palavras para explicar o que sentiu: “eu não sei explicar o que aconteceu em mim. Foi muito mágico e eu percebi que era ali que a minha alma tinha casa. É difícil explicar. Senti que era ali que eu me conseguia expressar. Se não fosse fadista, não era mais nada”.

Ao Jornal A VERDADE, afirma que tem “uma ideia romântica do ser-se fadista, porque eu acho que é uma ‘condição’ que nasce connosco. (…) Ser fadista é uma forma de estar na vida, é uma melancolia que já é intrínseca a nós. É uma voz, uma alma”.

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Cristina de Sousa canta maioritariamente no Porto, mas também em concertos e noites de fado por todo o país e no estrangeiro. E é lá fora que os portugueses a recebem com mais entusiasmo: “as pessoas que estão fora de Portugal têm uma saudade especial. O fado vive dessa saudade, dessa emoção, e é muito bonito”, declara.

No Porto, canta maioritariamente para um público estrangeiro “e a verdade é que eles não percebendo as palavras, sentem a emoção. Isso é muito bonito! Eles às vezes choram, e eu costumo dizer ‘o meu trabalho está feito, obrigada’, porque consegui tocar-lhes, chegar a eles. Aconteceu o fado no coração deles. É impressionante como um estrangeiro, que não percebe o que estou a dizer, sente aquilo que eu estou a dizer”, afirma a fadista.

Professora de formação, há cerca de dois anos que dedica a sua vida ao fado. Em novembro de 2023, lançou o seu primeiro álbum, intitulado “As rosas são amor”.

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Quando começou, a artista tinha “autores em mente que eu queria que fizessem parte do disco” e uma sabia “muito bem a mensagem que eu queria passar” com os seus originais. Por isso, com a ajuda do produtor André Miguel Santos, contactou os autores e “pedi especificamente, a cada um, aquilo que eu queria que eles escrevessem, sobre o que é que eu queria falar nos poemas”, diz a fadista, acrescentando que “no fado, é muito importante a verdade e é muito importante cantar-se coisas que se conhece e que se viveu”.

“As rosas são amor” conta com a participação dos autores João Monge, Amélia Muge, Pedro da Silva Martins, André Miguel Santos, Samuel Lopes, Pedro Fernandes Martins, Jorge Benvinda, Tiago Torres da Silva, Carlos Leitão e António Laranjeira que, com a direção da fadista, contaram a sua história.

Aos 35 anos, a fadista que não sabia que era fadista, Cristina de Sousa, diz que não se via a cantar outro género musical, “porque a minha identidade é fadista”.

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