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Conheça o artista que está por detrás do mural de Carmen Miranda em Marco de Canaveses

Redação

Nascido em Vila Nova de Gaia, mas com ligações familiares ao concelho de Baião, Mr. Dheo passou por Marco de Canaveses para deixar a sua marca num mural dedicado à artista Carmen Miranda. O graffiter gaiense conta já com 21 anos de trabalho contínuo e tem deixado a sua marca em Portugal e além fronteiras.

Sem familiares ligados às artes, Mr. Dheo, como é conhecido no meio artístico, confessa que o graffiti nasceu consigo. "Desde criança que tinha esse hobby, mas não era de uma forma muito séria. À medida que fui crescendo, fui encarando como um passatempo, tal como jogava futebol, como fazia outras brincadeiras. Para mim o desenho era uma coisa que ocupava o tempo", recorda.

O primeiro contacto com o graffiti surgiu aos quinze anos, começando a explorar este mundo de forma autodidata "sem imaginar que ser graffiter pudesse vir a ser a sua profissão. Mesmo tendo alguns familiares a dizerem-me 'tens jeito para o desenho, devias seguir as artes', eu nunca quis e não era algo que perspetivasse para o meu futuro".

Passados 21 anos, coleciona trabalhos por várias cidades portuguesas, mas as obras não ficam por aqui e ultrapassam fronteiras, chegando a mais de 50 cidades, como Miami, São Paulo, Joanesburgo, Dubai ou até na Faixa de Gaza, em Israel.

"Foi de uma forma natural" que a carreira do artista de rua foi crescendo e acompanhando também a evolução do graffiti. "Há 20 anos não viajávamos a pintar, não havia trabalhos de grafiti. A minha postura foi acompanhando o boom que houve no street art e no grafiti. Não sabíamos quanto havíamos de cobrar e se o devíamos fazer, mas fomos criando um mercado. As coisas foram progredindo de uma forma muito natural".

Viajar é uma constante na vida profissional de Mr. Dheo e que de outra forma "não teria tido oportunidade para viajar tanto. O graffiti acabou por me levar a mais de 50 cidades, locais onde nunca pensei ir". Dos lugares excêntricos aos sítios mais desfavorecidos, há um traço comum: "tenho de estudar culturas, religião e há determinados cuidados que tenho de ter para não chocar. Há sítios que sabemos que em termos de liberdade de expressão são idênticos a Portugal, mas há outros que as coisas são muito mais complicadas. Por exemplo, nos países árabes temos de ter muita atenção às questões culturais. Lembro-me de um grande projeto numa discoteca, feito por um grupo de artistas em que eu era o único português, em que o rapaz que estava a dançar com a rapariga tinha de estar a uns determinados metros. Foi um projeto que esteve no papel três anos até ser 100% aprovado e ser executado", relembra.

Mr. Dheo confessa que a vida de um graffiter pode ser "de muito extremos", mas que lhe dão uma perspetiva "da realidade dos locais que visita e que como turista dificilmente iria ter". Em 21 anos de carreira "foram vários os momentos marcantes", mas pintar na Faixa de Gaza foi "uma experiência diferente por tudo o que envolve, ouvir as bombas e termos de  ser acompanhados pelas forças de segurança"

Mas é esta arte "que foge ao padrão da arte convencional" que fascina o artista de rua e que "alterou completamente os padrões normais da arte, que geralmente é muito elitista. Nós criamos um sistema revolucionário e diferente a nível da arte, ocupamos espaço público, onde quem aprova são as pessoas que passam por lá e tornamos a arte acessível a todos. Está na rua, é dos oito aos 80, é do pobre ao rico, não escolhe idades, religiões, raças e comunica de uma forma muito mais direta, com todo o tipo de público, é a maior vantagem de se poder trabalhar na rua", frisa.

A comunicação já nasceu com Mr. Dheo e foi através do graffiti que se decidiu exprimir

Mr. Dheo reconhece que "poderia ser um artista muito melhor a nível técnico, mas ao mesmo tempo acho que o facto de não ter seguido um curso de artes, não formatou a minha criatividade e essa liberdade é brutal". O artista portuense estudou humanidades e, posteriormente, comunicação. "Mais um acaso da vida, porque hoje a minha formação é extremamente útil para as viagens. Falo várias línguas, sei comunicar e o graffiti é a minha melhor forma de comunicação".

Atualmente, colabora com conhecidas marcas e empresas internacionais, mantendo sempre a sua "liberdade criativa. Não faço trabalhos extremamente comerciais, tenho de ter sempre a minha criatividade, o meu toque, o meu estilo, a minha linguagem. isso faz com que perca muitos trabalhos, mas também faz com que aqueles que eu faça são meus e têm a minha identidade".

Há 21 anos que o artista mantém a sua identidade, dedicando-se, sobretudo, a produções foto realistas que, conjugadas com componentes gráficas, lhe conferem um estilo próprio em constante crescimento e desenvolvimento. "Acredito que quem olha para um trabalho meu, reconhece o estilo e o que eu quero comunicar. No realismo é muito mais fácil comunicar com todo o tipo de público, e mais fácil de compreender e de interpretar a mensagem".

"O portugues é bom, mas falta-nos ter mais orgulho do que é nosso"

Na visão de Mr. Dheo, Portugal "começou agora, finalmente, a abraçar mais este tipo de arte. Estamos muito mais abertos e predispostos a ver intervenções destas na cidade, mas em termos de valorização do artista, ainda temos um longo caminho a percorrer. Cabe a nós artistas mudar isso".

Para essa mudança de paradigma, o artista aponta também para uma "maior sensibilidade das autarquias em perceber o impacto e o valor que da street art pode ter nas cidades. Os municípios ainda não têm a percepção do impacto que a arte urbana tem, hoje em dia, no mundo e que há turismo exclusivo para isso"

O graffiter dá o exemplo de um mural que pintou na baixa da cidade do Porto, em 2014, "e que ainda continua a ser constantemente fotografado e registado nas redes sociais. Se  as autarquias tivessem essa sensibilidade, já tinham percebido que têm de fazer um investimento muito maior, direcionado para a reabilitação urbana, por exemplo, porque existem muitos espaços abandonados que sendo intervencionados podiam ganhar outra dimensão", frisa. 

Alargando o espectro ao mundo das artes em geral, Mr. Dheo pede para que "se valorize o que é nosso. Temos talentos inacreditáveis em Portugal. O portugues é bom, mas falta-nos ter mais orgulho do que é nosso", finaliza.

Site oficial de Mr. Dheo.