No próximo fim de semana, dias 11 e 12 de janeiro, a comunidade de Figueira, do concelho de Penafiel, volta a reviver uma tradição que, segundo indicam os vestígios, remonta à Idade Média.
O Auto Dos Reis Magos de Figueira começou por ser algo simples e simbólico, mas hoje o evento assume-se um festival singular que une a população, dos oito aos oitenta, através da cultura e do espetáculo.

O ponto alto é a parada e o teatro cantado, que enchem e transformam as ruas de Figueira num palco vivo. Mas quis a modernização que o evento crescesse e apresentasse novas atrações, como a feira de artesanato e gastronomia, onde a criação se encontra com a memória das raízes culturais de Figueira, e os espetáculos culturais, que abrilhantam o festival.
Atualmente, a organização é “quase totalmente comunitária, ou seja, todos na aldeia – dos mais novos ao pessoal mais velho – trabalham e ajudam na preparação e no próprio dia. Há uma gestão central, mas é mínima e serve para agilizar o funcionamento”, explica Márcio Duarte, da Associação Genoma que agiliza a organização.

Todos se envolvem nas atividades, como a decoração que é “descentralizada” e colocada “à porta de casa”. Há, aliás, “determinados pontos que se juntam e decoram o próprio lugar”. Portanto, o trabalho “é mesmo comunitário“.
Programação: “Muitos dos artistas que vão atuar são daqui ou de locais próximos”
Quem é de Figueira conhece bem o Auto Dos Reis Magos, que serve, nada mais, nada menos, para celebrar o Dia de Reis. “Normalmente, o evento é realizado no fim de semana a seguir e, tradicionalmente, há uma parada composta por pessoas da aldeia. A parada tem vários atos e diferentes personagens, como os Reis Magos, pastores e anjos, que vão entrando em pontos diferentes da aldeia”.

Como tudo acontece? Segundo Márcio Duarte, a parada “começa numa ponta da aldeia, passa num determinado sítio, onde decorre uma pequena peça de teatro e os atores dessa peça entram na parada e por aí adiante, acabando no Largo da Igreja, onde está um presépio vivo, com uma representação da Sagrada Família e onde acontece a representação central. É o momento que reúne um maior número de pessoas a ver. É um pequeno musical, é tudo cantado”, explica.
O “mini festival de inverno“, como o intitula, conta com uma programação que privilegia os artistas locais, no que aos espetáculos diz respeito, de forma a dinamizar a economia local. “Muitos dos artistas que vão atuar são daqui ou de locais próximos. Para nós é importante divulgamos o trabalho artístico deles”.

Já na feirinha destaca-se o artesanato, mais precisamente o trabalho de madeira, “uma identidade e muito importante para os figueirenses”, e a gastronomia, que dará ênfase, também, à raízes culturais, com a venda de papas, rojões e a ‘sopa de Figueira, “feita por pessoas mais velhas da aldeia que preservaram a receita. É do nosso interesse divulgar a nossa gastronomia local aos visitantes”, garante Márcio Duarte.
Desde “muito novo” que o jovem de Figueira está nestas ‘andanças’. Em pequeno participava na parada, “como a maior parte dos habitantes o faz”, mas hoje está “mais na parte da gestão“. Ser jovem e estar envolvido numa tradição como esta “não é tão comum”, principalmente numa aldeia “pequena de 300 e tal habitantes. Eu andei na escola apenas com mais de duas pessoas, então é escasso haver pessoas novas e algumas delas vão para fora, mudam de cidade”.


Na primeira pessoa, Márcio Duarte recorda que, enquanto estudante universitário esteve “um pouco desligado das tradições”, mas no regresso voltou a reconectar-se com a comunidade. “Fico orgulhoso de estar a ajudar”.
A programação do evento pode ser consultada nas redes sociais