Na manhã de sexta-feira, dia 11 de agosto, Clara Correia, uma jovem de 21 anos, natural da freguesia de Sande e São Lourenço do Douro, em Marco de Canaveses, fazia o percurso habitual até ao trabalho, em Penha Longa, por um caminho que "não é muito frequentado". Ouviu rumores sobre cães abandonados, mas confessa que achou que eram cães grandes porque "infelizmente é habitual andarem lá". A verdade é que acabou por encontrar cinco cães bebés abandonados, aos quais não ficou indiferente e, à semelhança de outras vezes, levou-os para casa.
"Isto aconteceu por volta das 07h45. A minha mãe acabou por ir comigo e eu disse 'por favor, leva-os para casa', porque não os podemos deixar aqui, ninguém vai fazer nada". Dentro de uma caixa de papelão os cinco cães foram acolhidos em casa de Clara Correia.

Trabalho terminado, Clara Correia juntou-se à mãe para lhes "tirar pulgas. Foi mesmo surreal, eles ainda estão com a barriga inchada porque eu só dei um comprido desparasitante". No que a desparasitantes diz respeito, a jovem tem tido o apoio da Animarco, mas realça que a associação "está lotada, por mais que queiram ajudar eles não iam conseguir ficar com eles e é preciso que as pessoas percebam isso. Todos deveriam colaborar".
Sem saber ao certo o que fazer, Clara acabou por partilhar fotografias dos cães na esperança de serem adotados. "No primeiro dia uma ficou adotada, depois a minha mãe disse que também ficava com um, mas eu coloquei todos para adotar e se restasse algum nós ficávamos com ele. Felizmente foram todos adotados".

Uma história com um final "possivelmente trágico", mas que acabou por terminar "muito bem. Muita gente começou a partilhar, eu não estava à espera que tanta gente ficasse sensível ao assunto porque já não é a primeira vez que vejo situações destas. Sabia que seria mais fácil alguém os adotar porque as pessoas adotam mais facilmente cães bebés, mas claro que fiquei contente. Como muita gente partilhou era mais fácil receber adotantes, se alguém mudava de ideias eu tinha sempre outras pessoas que queriam", partilha em conversa com o Jornal A VERDADE.
Para além das partilhas e das pessoas que se disponibilizaram em adotar os animais, a jovem destaca o apoio prestado por Sara Nadine, voluntária da Animarco, que disponibilizou formulários. "Eu não queria dar os cães a qualquer pessoa, queria dar a pessoas responsáveis e que cuidassem bem deles". Para além disso, outra jovem que "também gosta muito de animais" doou 14 quilos de ração, o que tem sido uma "grande ajuda".

Em casa de Clara Correia já é habitual acolherem-se animais de rua. "Tive gatos pretos porque as pessoas dizem que eles dão azar, então eu ficava com eles. A minha cadela faleceu em novembro, mas chegou a minha casa quando eu tinha seis anos e esteve quase 15 anos connosco", conta.
Para terminar a jovem deixa uma mensagem: "Se toda a gente fizesse o mínimo e não fosse indiferente à vida animal as coisas corriam melhor, porque deixar tudo em cima de um abrigo também não é fácil. As pessoas que têm sensibilidade deviam de tentar ajudar porque as pessoas só fazem asneiras".

Veterinária Ana Barros fala sobre cuidados a ter no verão com os animais
Contactada pelo Jornal A VERDADE, Ana Barros, veterinária, explica que "os animais não transpiram e como tal estão muito mais sujeitos a ter efeitos adversos das altas temperaturas do que propriamente as pessoas".
Por isso, deixa os seguintes conselhos:
- Não devem passear com eles nas horas de mais calor, deve ser pela manhã ou ao fim do dia;
- Durante o dia mantê-los em locais frescos sempre com acesso a água fresca;
- Se vir que o animal está bastante aflito e a temperatura do ar está muito quente pode ir molhando o pelo de forma a arrefecer, obviamente não fazer choques de temperatura, não lhes dar com água gelada, mas sim com água a temperatura ambiente;
- Mantê-los dentro de casa se possível;
- Em relação a queimaduras que podem acontecer no asfalto deve-se evitar passear com eles na hora de maior calor;

No seu espaço partilha que receber animais com "queimaduras nas patinhas não é frequente, isso é uma coisa rara e só acontece quando o asfalto está mesmo muito quente", no entanto o que é frequente são "situações de golpe de calor ou em princípio de golpe de calor, sobretudo, porque estão na moda as raças braquicefálicas, isto é, pug, bulldog francês... estas raças de focinho achatado têm uma dificuldade enorme de respirar, a única forma de arrefecer o organismo quando a temperatura sobe é aumentar a velocidade de ventilação através da língua de fora para inspirar ar fresco que arrefece o organismo e, posteriormente, o ar quente sai. No entanto, quando a temperatura do ar está muito quente, eles não conseguem refrigerar porque o ar que inspiram já ele próprio está quente, o organismo começa a entrar em falência, as temperaturas do corpo começam a subir e há uma falha multissistémica dos órgãos, isso acontece com muita frequência, sobretudo, nestas raças e, por isso, o cuidado tem de ser a dobrar, não sair mesmo com eles à rua quando está muito calor", destaca.



