Estima-se que, no concelho de Lousada, existam cerca de 500 cuidadores que prestam cuidados de supervisão ou substituição completa da pessoa cuidada. Um trabalho que desde 2019 é apoiado e auxiliado pelo Centro de Apoio ao Cuidador Informal de Lousada (CACIL).
O serviço de apoio foi criado pela Santa Casa da Misericórdia de Lousada (SCML) com o objetivo de disponibilizar uma resposta social para apoiar os cuidadores informais e minimizar o impacto da sobrecarga na vida do cuidador.
Em setembro de 2019 era aprovada a Lei n.º 100/2019 que conferia o Estatuto de Cuidador Informal e estabelecia um conjunto de normas que regulam os direitos e deveres do cuidador e da pessoa cuidada. Uma função que Bessa Machado, provedor da SCML, conheceu na primeira pessoa, foi cuidador da esposa - e que o levou a propor a criação do CACIL.

Equipa do CACIL
O CACIL disponibiliza um gabinete de atendimento e uma equipa especializada que ajuda o cuidador informal a cuidar de si e a encontrar as melhores respostas e apoios na comunidade. Silvia Silva, coordenadora do projeto e assistente social, recorda o início do CACIL, que "surgiu em 2019, através de pedido do provedor da SCML. Foi cuidador da esposa durante largos anos e percebendo, na primeira pessoa, as necessidades de um cuidador, pediu-nos para para criar uma resposta dirigida aos cuidadores".
Como nos explica, inicialmente foi realizado um levantamento dos cuidadores existentes no concelho e elaborado um protocolo de avaliação, para que "fosse possível aferir as necessidades principais dos cuidadores e, consequentemente, desenharmos o projeto à medida das necessidades principais identificadas".
Desde então, o CACIL foi "crescendo à medida das necessidades" e procurando parcerias para "ampliar a capacidade de resposta. Os recursos humanos, a equipa e todas as despesas do projeto são todas suportadas pela SCML, não há apoio do Estado, por isso, toda a ajuda é bem-vinda". Silvia Silva destaca o apoio da autarquia, entidade com a qual foi elaborado um protocolo - bolsa "Lousada Cuida".
O projeto iniciou com a resposta de apoio psicológico, "uma das principais necessidades que faziam referência", uma vez que, "normalmente, têm um nível de sobrecarga muito elevado. Todos os anos fazemos revisão das estatísticas, mas andamos sempre nos 85% de cuidadores com sobrecarga e, destes, cerca de 65% têm sobrecarga elevada, o que é bastante significativo", sublinha a coordenadora.
Para além da sobrecarga, os cuidadores apontam para a "fraca retaguarda familiar. Muitas vezes, a que têm está a trabalhar ou então não saem de casa, porque não têm ninguém que os substitua". Para colmatar essa necessidade foi criada a bolsa "Lousada Cuida", inspirada num projeto já existente. "Propusemos parceria à câmara, que nos dá um apoio por forma a que, desde 2021, temos uma cuidadora formal que faz a substituição no domicílio dos cuidadores. O objetivo é ter alguém que, uma vez por semana, possa substituir o cuidador, para o mesmo ter tempo para si. Demorou muito tempo a ter adesão e ainda sentimos essa dificuldade, porque os cuidadores ainda mostram alguma resistência. Mas depois de aceitarem não querem outra coisa".
A maioria dos cuidadores chegam-nos sem qualquer tipo de acesso a apoios e direitos que existem
Toda a equipa de profissionais do CACIL sente que "faz a diferença" na vida dos cuidadores e pessoas cuidadas. "A maioria dos cuidadores chegam-nos sem qualquer tipo de acesso a apoios e direitos que existem, ou seja, a medidas que existem na segurança social, ao nível da saúde, mas que desconhecem. Nós apoiamos na mobilização dos apoios".
Mas o "maior impacto" é sentido no "apoio psico-social. Já trabalho há 22 anos e nunca tive atendimentos tão longos como com os cuidadores, porque é uma necessidade tão grande de partilha e de exteriorizar. Acho que fazemos a diferença na vida deles".
Apesar de todo o trabalho já desenvolvido, Silvia Silva reconhece que "há sempre algo a fazer. Já tivemos muitas parcerias, projetos que iniciaram e já terminaram. com a visibilidade que vamos dando do trabalho, já fomos contactados por algumas entidades, para colaborar em projetos de mestrado e doutoramento. Todos os anos vamos fazendo candidaturas para alargar a capacidade de resposta", garante.
Para o futuro, estão previsos novos serviços, como o de "promoção do bem-estar, ainda em definição, para aqueles que não podem sair do domicílio. Mas para a coordenada está, ainda, em falta o serviço "cuidar do zero. Sentimos que a maioria da vezes os cuidadores aprendem a fazer os cuidados por eles próprios. Há uma orientação quando são crianças pequenas com deficiência, os serviços de saúde têm uma proximidade muito grande e explicam como fazer os cuidados. Nós achamos que devíamos criar um serviço em que nos sejam referenciadas situações de cuidadores um dia para o outro, para podermos orientar a família para necessidades de adaptação no domicílio. O nosso objetivo é orientar o cuidador quando, de repente, percebe que vai ser cuidador para o resto da vida ou durante muitos anos", explica.
Quando questionada sobre a sensibilidade da comunidade para com os cuidadores informais, Silvia Silva reconhece que "na sociedade ainda há uma confusão entre o que é o cuidador informal. O que distingue de um formal é que o informal é aquela pessoa que não é paga para prestar cuidados. Se eu contratar alguém para cuidar de um familiar meu essa pessoa não é cuidadora informal, é formal porque recebe um ordenado para prestar os cuidados. Sensibilidade acho que já existe alguma, sobretudo, porque desde 2019 tem estado na agenda política. Nos últimos anos, começamos a ficar mais alerta, até lá eram praticamente ignorados. Se há reconhecimento do verdadeiro papel? Acho que não, ainda é muito insuficiente", conclui.
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