Entre os dias 28 de agosto e 8 de setembro, Carla Vieira, natural do Porto e fisioterapeuta da Unidade Local de Saúde (ULS) Tâmega e Sousa, integrou a equipa clínica do Comité Paralímpico de Portugal nos “Jogos Paralímpicos Paris 2024”.
Esta não foi a primeira participação internacional, pois já tinha estado integrada nos Jogos Paralímpicos de Tóquio (2020) e nos Campeonatos Paralímpicos Europeus de Roterdão (2023). “É a medalha de ouro para um fisioterapeuta, porque estamos a representar o país e a acompanhar os atletas em tudo é necessário, como na prevenção de lesões e no tratamento, se surgirem”.
Carla Vieira chegou a Portugal na segunda-feira, 10 de setembro, mas ainda vive o espírito dos jogos e recorda a rotina diária. “Não temos hora para levantar, para deitar e vamos comendo conforme podemos, porque acompanhamos as diferentes modalidades. Às vezes tínhamos transporte da aldeia até ao pavilhão, onde decorriam as competições ou os treinos, e às vezes. No Boccia, por exemplo, demorávamos quase uma hora ou 45 minutos. Tomávamos o pequeno-almoço por volta das 07h00, ir para as competições e depois regressar, às 23h00. Houve um dia que foi até à meia-noite mesmo”.
São experiências “cansativas”, mas que “dão resultados. Correu tudo bem, felizmente. Trouxemos aquelas medalhas, os diplomas, foi muito bom. É um cansaço que vale a pena”, diz com orgulho a fisioterapeuta.
A experiência para-olímpica resultou, também, em troca de conhecimentos com colegas da área, como do Brasil e do Canadá. “Brasil, do Canadá. Estávamos na sala da fisioterapia e, às vezes, conversávamos. Afinal, estávamos todos ali a trabalhar para o mesmo, para ajudar atletas de alta competição e de alto rendimento”.
No regresso, vem também o sentimento de “dever comprido” e o “orgulho pelos resultados dos atletas. Eles fazem muito. Acho que, muitas vezes, os paralímpicos são vistos como ‘os jogos dos coitadinhos’, mas em França, nestes jogos, os pavilhões estavam cheios. Por exemplo, quando a Carolina Duarte correu os 400 metros às 09h30, estava repleto, bateu o recorde de assistência e as pessoas pagavam”, descreve Carla Vieira.
Em Portugal o cenário seria o mesmo? “Não me parece“, garante a fisioterapeuta. “Em Portugal, às vezes, olhamos para a pessoa com deficiência como um coitado. Na área da pediatria, em que estou mais envolvida, o desporto pode ser uma área para desenvolver outras competências. Devemos normalizar a deficiência. Estão numa cadeira de rodas, mas trabalham, estudam e fazem uma vida igual a toda a gente”.
A experiência profissional de Carla Vieira mostra-lhe que “o desporto é de todos e para todos. Não é só futebol, não são só grandes equipas. Nos paralímpicos ficamos nervosos ao ver aquilo, é mesmo muito emocionante ver as capacidades que têm para efetuar aquelas provas todas e, isso, tem de ser reconhecido, temos de mudar a nossa mentalidade e desmistificar. Temos de dinamizar mais o desporto adaptado pelo país todo, porque há alguns Centros de Alto Rendimento, mas depois, em alguns sítios não há nada e era importante que isso acontecesse”, frisa.
Para a fisioterapeuta, a deficiência é uma área “desafiante” e que gosta “muito”
Carla Vieira iniciou o percurso de fisioterapeuta há 32 anos
Em 1992, Carla Vieira deu início ao percurso profissional de fisioterapeuta, data em que a rotina se dividia entre Matosinhos e Penafiel, a mesma que se mantém até aos dias de hoje. Em 1995, após a abertura de um concurso para o hospital publico, entrou na, atual, ULS do Tâmega e Sousa.
Trinta e dois anos depois continua a gostar “muito” da profissão que exerce e “se não fossem as despesas mensais em transportes, seria perfeito. Mas não posso dizer que estou arrependida, nem pensar”.
Sempre quis seguir a área da saúde, apesar de ser “má aluna a matemática”. A verdade é que esteve “um ano” a concluir a disciplina e conseguir ingressar em fisioterapia. E não se arrepende até hoje da escolha? “Na próxima encarnação quero voltar a ser fisioterapeuta. Gosto muito e estou sempre a investir e a evoluir. Não é porque chegamos a determinada idade que já sabemos tudo. Temos de continuar a investir para fazermos a diferença”.