"Trabalho, empenho, paixão e alguma sorte à mistura" têm sido a base das conquistas de André Marques, jogador profissional de poker, natural de Lousada.
O jovem, de 27 anos, foi o primeiro português campeão na 14.ª edição anual do Spring Championship of Online Poker (SCOOP), festival que iniciou no dia 8 de maio e termina no dia 1 de junho, nas mesas do maior site de poker online do mundo, o Pokerstars.

Esta conquista é uma continuidade a uma série de resultados positivos do jogador profissional de poker que, em 2020, foi o grande vencedor do World Championship of Online Poker, um evento com quase 300 jogadores.
"Sem imaginar que chegaria a este patamar e tão rapidamente", André Marques começou a jogar poker com os amigos, aos 15 anos, mas com o passar do tempo "o gosto foi crescendo" e percebeu que "gostava de ser jogador profissional".
Um sonho que viria a concretizar quando estava na faculdade, no curso de Engenharia Informática. "Aos 21 anos, estava na faculdade, e encontrei uma publicidade sobre uma equipa de poker portuguesa que estavam a formar, a Polarize Poker. Candidatei-me e consegui entrar para uma equipa de pessoas que estavam a começar a carreira", recorda.

Em 2017, André Marques decidiu trocar o curso para iniciar a sua carreira no mundo do poker e, hoje, as cartas preenchem os dias do jogador profissional de poker. "O dia de um jogador de poker é normal, a grande diferença são as horas de trabalho. Temos liberdade de horários, ou seja, escolhemos o horário que fazemos e os dias que queremos trabalhar. Mas quando temos objetivos temos de trabalhar muito e os nossos mínimos têm de ser muito altos".
Quando está em torneios, a equipa tem "um horário de estudo entre as 09h00 e as 10h00. Depois temos uma hora e meia para fazer desporto, almoçamos e por volta das 13h30 começamos a trabalhar até cerca das 22h. É assim 6 dias por semana", explica.
Mas afinal, o que é preciso para se ser um bom profissional de poker? "O segredo é querer muito. Quando queremos muito, em qualquer área da vida, os resultados vão aparecendo". André Marques não tem dúvidas de que "o poker não é muita a questão do talento, mas sim muito trabalho. Claro que é preciso sorte, mas ao longo do tempo a sorte vai diminuindo e quem trabalhar e gostar do que faz, vai acabar por ganhar", sublinha.
São muitos os adversários que André vai encontrando nos torneios, "normalmente jogo 14 mesas ao mesmo tempo e tenho oito adversários em cada uma delas" e, por isso, o estudo e a preparação são mais direcionados para a "matemática do jogo. O poker é um jogo muito matemático e temos de nos ir adaptando ao adversário".
"Embora ainda existam alguns tabus e preconceitos, a mentalidade está um pouco diferente"
O poker é um jogo cada vez mais reconhecido, que faz parte do dia-a-dia de vários portugueses. André Marques acredita que, "hoje, embora ainda existam alguns tabus e preconceitos, a mentalidade está um pouco diferente", principalmente em Lousada, de onde é natural. "Em Lousada já encaram o poker como algo sério. Mudou-se muito o ponto de vista do que é e já há muitas mais pessoas a acompanhar. Recebo muitas mensagens quando estou em torneios e esse apoio é muito bom, porque me faz acreditar que a mentalidade mudou".

Para o jogador, o poker "é uma profissão como todas as outras, que requer trabalho e empenho. Claro que a partir do momento que lidamos com dinheiro, é muito fácil falar em vícios e, claramente, tudo o que envolve dinheiro pode ter os seus lados negativos, mas avaliando bem o poker é um desporto mental e é algo que é preciso ser trabalhado e que requer muito esforço. Quanto ao preconceito, estou tranquilo".
Dúvidas e medos demonstrados pela família quando André trocou a faculdade pelo poker. "No início é sempre difícil dizeres aos teus pais que vais deixar a faculdade para jogar às cartas. O início foi bastante complicado, sabiam que eu já tinha esta paixão, mas não entendiam muito bem. Com o passar do tempo começaram a interessar-se pelo que eu fazia e, hoje, são as pessoas que mais me apoiam".

"A minha ambição é ser sempre melhor amanhã do que sou hoje e ir evoluindo constantemente"
André Marques confessa que, enquanto jogador de poker, nunca teve ambições monetárias. "Gosto de ganhar, mas o que me motiva é evoluir e superar os meus adversários. Mas é sempre bom receber os frutos do nosso trabalho".
No dia 5 de junho a equipa, composta por dez portugueses, viaja até Las Vegas, para disputar o Campeonato do Mundo, e onde André vai estar "pela primeira vez. São vários torneios, e para além do prémio monetário, o vencedor ganha uma bracelete (troféu). Esse prémio pode ser uma boa ambição", conclui.