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Cães errantes responsáveis por 62% dos ataques em Arada, Cinfães e Montemuro

Redação

Lobo ibérico: Foto de Daniel Allen

Danos causados por cães errantes têm sido confundidos com ataques do lobo-ibérico.

Um estudo recentemente lançado pela Rewilding Portugal revelou que existe um aumento de cães errantes em Portugal e na Europa, sobretudo, em regiões rurais, como é o caso de Arada, Cinfães e Montemuro.

O tema do estudo é a predação de cães errantes em gado doméstico, bem como a predação do lobo ibérico e os possíveis impactos. Neste ponto os casos ocorrem sobretudo na Suécia, Estónia, Polónia, Itália e em Espanha.

O número de cães errantes "permanece desconhecida. Grande parte são cães de caça e de companhia abandonados ou cães com dono que devido ao seu papel nas atividades humanas (cães de gado), são autorizados a vaguear livremente", refere o estudo da Rewilding Portugal.

Em Portugal, o lobo-ibérico diminui "drasticamente" durante o século XX devido "à perseguição humana e perda de habitat". Atualmente, está em 20% daquela que seria a sua área de distribuição original. Embora seja uma espécie protegida por lei em Portugal desde o ano de 1988, continua a fazer parte da lista "Em perigo" no Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental.

O estudo desenvolvido teve como foco três alcateias de lobo confirmadas (Arada, Cinfães e Montemuro), onde foram analisados 107 excrementos de lobo e 95 excrementos de cão confirmados geneticamente. Adicionalmente, foram contemplado 40 ataques a gado com confirmação genética das espécies que se alimentaram das carcaças dos animais predados.

Em todas as regiões analisadas, as cabras foram a presa mais consumida. Na maioria dos ataques (62%) os cães foram os únicos predadores detetados, este dado revela "o papel altamente influente que estes poderão ter no agudizar de conflitos entre comunidades locais e o lobo-ibérico, uma vez que o lobo é muitas vezes presumido como autor dos ataques por defeito".

O estudo também aborda "a crescente representatividade de ungulados silvestres na dieta do lobo-ibérico a sul do rio Douro, outro problema identificado, bem como a predação sobre espécies silvestres, muitas vezes em competição direta com o lobo (ex. corço, javali e lebre); disseminação de doenças entre carnívoros; e possibilidade de hibridização com lobo". Este estudo defende que devem ser "criados novos desafios que precisam de uma resposta rápida e assertiva".

Este estudo foi desenvolvido pela Unidade de Vida Selvagem da Universidade de Aveiro, em parceria com a Rewilding Portugal e a Zoological (Lino et al., 2023, ver aqui), que inclui dados recolhidos no âmbito do projeto LIFE WolFlux.

A Rewilding Portugal entregou, até à data da redação deste artigo, 96 cães de gado e 34 vedações para prevenir e reduzir os ataques de lobo em toda a área de distribuição da espécie a sul do rio Douro. Também trabalha para restaurar e proteger o habitat das presas do lobo em conjunto com os atores locais, estando atualmente a realizar trabalhos de restauro de florestas nativas e pastagens em 50 hectares, criação de 20 novos pontos de água para a fauna selvagem e trabalhando em colaboração com associações de caça para implementar Planos Globais de Gestão de fauna sustentáveis e zonas de refúgio de caça em mais de 700 hectares.