artigo de opiniao
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No próximo dia 10 de março, os portugueses serão chamados às urnas para eleger os deputados que vão representar os eleitores na Assembleia da República.

Nesse âmbito, o Jornal A VERDADE esteve à conversa com Marisa Matias, cabeça de lista do Bloco de Esquerda, no círculo eleitoral do Porto, que nos apresentou os objetivos do partido, os contributos que poderá dar para o distrito e a medida mais urgente a tomar após as eleições.

Quem é a Marisa Matias?

Eu sou uma mulher, socióloga, política, com um trabalho enquanto eurodeputada de mais de uma década. Tenho vivido em Bruxelas nos últimos anos embora seja de Alcouce em Coimbra. O que me motivou a entrar na política foi a ideia de que os problemas coletivos só podem ser resolvidos de forma coletiva e que não podemos aceitar as injustiças como um desastre natural ou vontade divina, que toda a gente tem um papel no seu combate.

Quais são os propósitos do Bloco de Esquerda?

O Bloco de Esquerda tem lutado por uma política progressista que permita à população em geral ter uma vida boa, ter habitação, salário digno, lazer e tempo de descanso, saúde e educação. Entendemos que a desigualdade que existe no nosso país onde o administrador do Pingo Doce ganha só num ano 187 salários de um dos seus trabalhadores não pode existir. A EDP não pode fugir aos impostos que são necessários para garantir saúde, educação, habitação. E deve haver forma de taxar as empresas tecnológicas que têm vindo a ter cada vez menos trabalhadores e cada vez mais lucros de forma a garantir a sustentabilidade da Segurança Social e de quem trabalha e trabalhou toda a vida. Grandes lucros à conta da vida das pessoas, de lucros usurários e de exploração não podem ser normais e tem de haver políticas públicas que invertam o estado de coisas a que chegamos.

Quais são as prioridades e/ou contributos que o Bloco de Esquerda pode dar ao distrito?

Várias das propostas que temos visam melhorar a qualidade de vida em todo o país e também no Porto. Resolver o problema da habitação e dos transportes são os mais evidentes. Há um grave problema no acesso à habitação e deve existir habitação pública em todos os concelhos mas também se deve garantir um teto às rendas e a descida das taxas de juro que dão lucros exorbitantes à banca.

Para os estudantes foi essencial garantir a gratuitidade dos transportes, mas deve ser alargado a todos os jovens e todos os estudantes, e também às pessoas com mais de 65 anos, desempregados e pessoas com mobilidade reduzida. Garantir transportes fiáveis e frequentes de acordo com a necessidade da população é essencial para quem quer trabalhar e estudar mas também no combate às alterações climáticas. Os transportes não podem continuar a ser o caos no distrito e é essencial expandir o metro de uma forma contínua para cidades fora da cidade do Porto – Gondomar, Maia, Trofa, Matosinhos. Garantir uma linha do Douro que serve de transporte público de facto, construir a linha do Vale do Sousa e abrir a Linha de Leixões a passageiros. O distrito deve ter muito mais ferrovia e muito mais acessível.

Para além disso, existem questões específicas no distrito que têm vindo a ser adiadas: a construção do novo hospital Vila de Conde/ Póvoa Varzim, aumentar a capacidade de resposta – de meios e trabalhadores – do Hospital de Penafiel e ainda resolver definitivamente os problemas de poluição nos rios, e em especial no rio Ferreira com o eterno problema da ETAR de Arreigada. É essencial abolir as portagens na A41 e requalificar a EN 14 e construir o IC35. Devemos ainda garantir mais voos desde o Porto para destinos internacionais que foram descontinuados e acabar com a ponte aérea Porto-Lisboa.

Por fim, uma resposta integrada a pessoas consumidoras, garantindo mais salas de consumo assistido no Porto e em outros concelhos com incidência de consumos e ainda garantir uma maior capilaridade com outros serviços públicos, nomeadamente na área da saúde.

Se for eleita, qual será a medida mais urgente a tomar?

Diria que a habitação e os transportes são das coisas mais urgentes, porque poderiam ajudar a minorar vários outros problemas na vida das pessoas. Por exemplo, o programa Housing First ajuda a reduzir as pessoas em situação de sem abrigo e em situação de exclusão, autonomizando as pessoas para a gestão do seu dia-a-dia após anos de marginalização. As pessoas ganham assim mais condições para assegurar um trabalho estável e para cuidar da sua saúde, ao mesmo tempo que se mitiga problemas de exclusão social. Ter uma casa e suporte social são essenciais. Ter transportes para ir trabalhar também.