A Procissão do Corpo de Deus é um dos pontos altos da comemoração da data em Penafiel. Atualmente, são mais de 250 os figurantes que se vestem a rigor e percorrem as principais artérias da cidade, mas nem sempre foi assim. Alberto Barros, mais conhecido como Berto Boss, foi um dos principais impulsionadores por revivar esta tradição e, em entrevista ao Jornal A VERDADE, falou um pouco sobre o que o levou a começar a integrar a tradição.
Tudo começou há cerca de 15 anos. Era proprietário de um bar, em Penafiel, e "nem sempre" conseguia ir ver a procissão. Contudo, nesse ano conseguiu "deixar tudo orientado" e foi até ao centro da cidade. "Já tinha feito parte da procissão várias vezes e, nesse ano, senti uma tristeza tão grande porque a parte religiosa estava completamente desfalcada. A procissão teria uns 30/40 figurantes, estava muito fraca para aquilo que estava habituado", recordou.

Após esse acontecimento, Berto Boss decidiu que, no ano seguinte, iria fazer parte da procissão. "Convenci os meus amigos, disseram-me que sim e eu apontei logo o nome deles. Quando estava a chegar o dia, tive de voltar a falar, mas lá consegui", refere. O espanto foi geral, principalmente quando o grupo, que protagonizou o quadro da Última Ceia, chegou à Avenida Principal. "Vimos o impacto que teve nas pessoas, ouviu-se um grande 'wow' conjunto. O facto de sermos mais velhos e termos características físicas parecidas com os apóstolos, fez com que as pessoas ficassem espantadas", descreveu.
E assim começou uma aventura que já dura há cerca de 15 anos. "As pessoas começaram a questionar como faziam para participar na procissão, o que nos deixa muito felizes. Começou-se então a criar grupos e, atualmente, cada grupo é responsável por um quadro", afirmou, acrescentando que, para determinadas personagens "é preciso que as pessoas tenham determinada característica física, para 'bater a bota com a perdigota'. Por exemplo, os centuriões romanos, têm de ser jovens com algum porte físico".

Uma iniciativa que o teve como timoneiro e que o deixa orgulhoso. "Num bom barco, tem de haver um bom timoneiro e eu fui esse timoneiro, mas com a ajuda das pessoas, que foram sempre solidárias. Ao princípio era muito difícil, mas agora já é mais fácil. Antigamente, eu com a minha irmã, que também me ajuda, chegamos a juntar 170 pessoas e tivemos de as coordenar, o que era mais difícil, então começamos a criar nichos e, hoje em dia, já há pessoas responsáveis por cada quadro. A Procissão do Corpo de Deus é a segunda procissão mais antiga do mundo, em termos de Bula Papal, automaticamente as pessoas deviam ter gosto e orgulho em participar. Isto é nosso, temos de vestir a nossa farda".
Berto Boss representa Jesus Cristo no quadro da Última Ceia. "Um dia destes vou passar a pasta", diz, em tom de brincadeira, recordando que tem "mais 20 anos do que Cristo". Contudo, garante: "enquanto mantiver o espírito, continuarei".

Em 2023, e apesar da chuva forte que caiu no dia da Procissão do Corpo de Deus, Berto Boss e os colegas continuaram até ao fim. "Continuamos a nossa cruzada à chuva, aquilo foi épico, nunca mais ninguém vai esquecer", recorda. Este ano, a esperança é que o "tempo esteja melhor" para que as pessoas saiam à rua. "Não se esqueçam do ano passado, que choveu e que nos mantivemos firmes e este ano, se o tempo estiver à feição, acho que as pessoas deviam de vir assistir, porque é um momento idílico, bonito da nossa cidade e as pessoas são importantes para nos dar aquele conforto de que a nossa caminhada não é feita em vão", finalizou.
