"Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida". É o início de uma música portuguesa baseada num poema de António Gedeão, mas também pode ser usada para descrever a história que lhe trazemos, para assinalar o Dia Mundial da Dança. Beatriz Miguel Correia, de apenas 18 anos, decidiu pôr de lado o que era mais "cômodo" e seguir o seu sonho no mundo das artes.
Desde os quatro anos que a dança faz parte da sua vida, quando entrou para a Academia Movimentos e Variações. "Entretanto passei pelo Atelier de Dança Andreia Gaipo e, depois, decidi ingressar pelo ensino articulado no secundário. Foi então que entrei para o Ensino Artístico Especializado de Dança no Conservatório de Dança Vale do Sousa, em Paredes", descreveu.

No entanto, a decisão de seguir esta área não foi tomada de ânimo leve. Beatriz Correia ainda fez o décimo ano em Ciência e Tecnologias, na Escola Secundária de Marco de Canaveses e garante que tinha "boas notas". Mas a paixão pela dança não diminuía e surgiu a oportunidade do ensino articulado. "Nunca tinha pensado muito sobre isso, porque ia exigir uma mudança de vida, tinha de ir estudar para outra cidade. Então quando as minhas professoras me confrontaram com essa hipótese, foi como se me tirassem o tapete e eu fiquei muito indecisa. Era algo que gostava muito, então fui experimentar o primeiro período, adorei e decidi, depois de pensar muito, continuar porque era o que me despertava mais a todos os níveis, físico e intelectual", defendeu.

Dança clássica, contemporânea e jazz são os estilos com que mais se identifica, apesar de ir experimentando outros. Porém, a dança contemporânea é aquela que tem "o coração" da jovem. "Para mim é a que me dá mais espaço e mais liberdade para expressar o que realmente quero. É um estilo em que descobrimos também o nosso próprio movimento e a nossa identidade dentro da dança", sublinhou.
E quando está a dançar, o que sente? É uma pergunta "difícil de responder" e um sentimento "impossível de explicar", mas "é como se tudo à volta parasse. Acho que é o momento em que estou a viver, quando danço, só estou a pensar naquilo e a sentir aquilo. Não há antes, nem depois". O nervosismo ao entrar em palco "faz parte" e garante que, apesar dos anos passarem, continua a sentir "o friozinho na barriga", principalmente "em ambiente de concurso e competição".

Beatriz Miguel Correia tem nos pais um "apoio fundamental" e refere que quando decidiu mudar de curso eles "estiveram sempre lá. Sempre foram super imparciais, falaram-me de tudo o que envolvia, tanto uma coisa como a outra, nunca tentaram influenciar a minha escolha".
Atualmente, a jovem encontra-se na Escola Superior de Dança de Lisboa, a única escola superior de dança do país. "Estou a fazer a licenciatura em dança, que é focada na interpretação e criação em dança contemporânea", descreveu, acrescentando que "é outro mundo", mas está a "gostar do ambiente. Como venho a casa regularmente e custa menos".
Beatriz Miguel Correia ainda ponderou "ir estudar para o estrangeiros", hipótese que continua em aberto com a possibilidade da realização de Erasmus no terceiro ano.

Contudo, a jovem refere que o estrangeiro "fará parte" do seu futuro. "A longo prazo não gostaria, mas a curto prazo sei que vai ter de ser e que é importante para saber o que se passa nos outros países", apontando que a sua área ainda "é muito precária em Portugal. Acredito que se queremos que ela melhore e que gere mais oportunidades, também temos de ficar cá e mostrar que há pessoas de qualidade e que Portugal também merece ter as artes e a dança desenvolvidas", defendeu.
Para os jovens que, tal como ela, têm o sonho de singrar no mundo das artes, Beatriz deixa o conselho: "Quem tem essa dúvida, no fundo sabe que o que realmente faz sentido, é mesmo seguir essa paixão, apesar de todas as inseguranças e pensamentos. O facto de estarmos totalmente felizes e empenhados naquilo que escolhemos, faz com que tudo o resto acabe por desvanecer um pouco. Quando fazemos o que gostamos vale tudo isso. Essa esperança e desejo de continuar e realizar esse sonho é sempre aquela gasolina para continuar e esquecer um pouco de tudo o resto", finalizou.
