Fundada a 1712, a Banda de Música de Vila Boa de Quires, na freguesia de Vila Boa de Quires e Maureles, concelho do Marco de Canaveses, é parte integrante da história da freguesia e do concelho. Foi nesta banda que se começaram a formar músicos, mais tarde, famílias e também uma paixão em comum que une uma freguesia e um concelho: a música. É a banda filarmónica mais antiga do país e, neste especial, trazemos-lhe um pouco da história, bem como do futuro, que passa pelo investimento nos jovens.
Paulo Silva, presidente da Banda de Música, está ligado à associação desde 1982. Foi músico, amador, durante 15 anos e fez parte da direção "mais 13 ou 14". Desde 2014 que assumiu os comandos da banda de música. "Tem sido muito gratificante", começou por dizer, acrescentando que houve "uma mudança radical. Quem conheceu a banda em 2014 e quem olha para a banda hoje, não é a mesma coisa. Foi preciso haver uma restruturação e um rejuvenescimento. A faixa etária estava muito envelhecida, e se queríamos implementar mudanças, era preciso renovar todo o panorama. Não foi fácil, mas houve uma mudança profunda e os jovens que temos hoje, trazem muito entusiasmo e vêm acrescentar muita coisa à banda", apontou.

O objetivo sempre foi "ter uma banda jovem" e que os mais novos se sintam valorizados. "Se os jovens não estiverem motivados, acabam por ficar pelo caminho. A nossa ideia era um pouco essa, criar dinâmicas dentro do projeto para que os jovens se sintam, cada vez mais, realizados. Talvez sejamos uma referência completamente diferente do cenário que vivemos no panorama filarmónico. Somos a banda que tem mais anos e creio que, atualmente, seremos a banda mais jovem do país. E isso provoca uma dinâmica brutal", apontou.
Parte deste "sucesso" também se deve à criação da Banda Juvenil, que surgiu há cerca de oito anos. "Antes, não tínhamos formação e é impossível renovar uma banda se não houver formação. Convidei algumas pessoas a dar aulas e começamos a formação e a ideia, um pouco arrojada, de se criar uma banda juvenil. Inicialmente tínhamos só dez ou 12 miúdos. O primeiro concerto foi numa audição e foi o melhor que fizemos até hoje. Começou em 2017 e, hoje, temos cerca de 40 jovens na Banda Juvenil e, muitos deles, já passaram à banda principal", descreveu.

Outro fator que também deixa o presidente orgulhoso é o facto da maioria dos alunos, e músicos, serem do concelho. "Temos também atenção aos jovens que terminam a formação na Artâmega e que não continuam na área. Deixamos o convite e, muitos deles, têm aceite, o que nos permite ter a prata da casa a atuar nas nossas fileiras", sublinhou. Dos 70 elementos que pertencem à banda, apenas "15% não são do concelho. Todos os anos vamos reduzindo o número dos músicos contratados porque a escola vai fornecendo. Este ano, creio que batemos todos os recordes de menores que entraram para a banda, creio que entraram uns 15. Para o ano já vão entrar mais uns dois ou três. Todos os anos, isto vai aumentando", explicou, orgulhoso.
Maestro Fernando Coelho afirma que é "muito prestigiante" representar a banda
O atual maestro da banda é Fernando Coelho, que assumiu o cargo em outubro de 2023. No entanto, a sua ligação à associação é "muito antiga", e foi ele que começou, em conjunto com o presidente, a "aventura" da Banda Juvenil. Natural da Maia, a ligação iniciou-se em 1983. "É uma ligação que, apesar de desfasada, tem muitos anos. Apesar de não ser de cá, é como se esta fosse a minha terra", disse, orgulhoso.

E como é "estar à frente" da banda mais antiga do país? Fernado Coelho refere que é "muita responsabilidade, mas ao mesmo tempo é muito prestigiante. Temos uma banda tricentenária, com muitos jovens, o que é ainda mais reconfortante. Nós somos a mais antiga e também a mais jovem, em termos de faixa etária. 80% da banda são miúdos dos 12 aos 20 anos, mais ou menos", referiu. Também o maestro refere a importância da Banda Juvenil e da escola, bem como da Artâmega. "Conseguimos rentabilizar as mais valias que lá adquirem e tem sido muito positivo", disse.
Para o maestro, a nível cultural, nos últimos 20 anos, as bandas filarmónicas, foram as instituições que mais evoluíram. "Antigamente era impensável a estrutura de uma filarmónica, que são bandas de rua e de procissão, tocarem repertório dos cantores de excelência, artistas do panorama nacional e não só. As bandas evoluíram muito, mesmo a nível de repertório. Temos de valorizar essa evolução. Temos de dar valor às filarmónicas no contexto geral, não só à nossa", apontou.

De acordo com o maestro, a Banda de Música de Vila Boa de Quires é, "provavelmente", das bandas que mais marchas próprias tem. "Temos um repertório ligeiro que é nosso, que organizamos para a banda, isto também é mais uma dinâmica que temos dentro da banda. Temos esse cuidado de irmos preparando e organizando temas que acho que são bonitos, que se encaixam na nossa dinâmica. Isso faz a nossa banda ser um pouco diferente, também, daquilo que são os conceitos das outras filarmónicas. Tem sido uma experiência muito interessante", garantiu.
Objetivo é alargar escola de música a todo o concelho
O objetivo da direção, para os próximos anos, passa por alargar as aulas da Escola da Banda de Música de Vila Boa de Quires para outras áreas do concelho do Marco de Canaveses.

"Vamos criar quatro ou cinco novos polos de ensino. Já não vamos ficar só em Vila Boa de Quires. Temos uma parceria com as Juntas de Freguesia de Santo Isidoro e Livração, Tabuado, Soalhães, Avessadas e Rosém e também com Alpendorada, Várzea e Torrão. A nossa ideia é abrir novas escolas para atrair mais juventude. Não estamos a dar aulas só para a música, temos outras áreas de instrumentos que as pessoas podem aproveitar. A nossa ideia é levar o ensino, levar a cultura, o mais possível à nossa juventude", disse o presidente.
O maestro Fernando Coelho deixa um apelo à população do concelho. "Para conquistarmos o futuro noutras regiões temos que, primeiro, ganhar as nossas. Às vezes há um bocado de resistência em valorizar aquilo que é nosso. E nós temos muitas romarias, por aqui, que ainda não fazemos. E gostaria de apelar aos nossos mordomos, para, pelo menos, falarem com o presidente, falar com a direção, para tentarem elevar a banda, que era um prazer. Pessoalmente, que sou maestro da banda, defendo que as bandas existem para fazer romarias. Depois vem estes projetos que nós somos também pioneiros e é ótimo fazer concertos com cantores e outras atividades, mas as romarias são a nossa génese", defendeu.

Na mesma linha de pensamento, o presidente refere que "é preciso que as pessoas tenham um bocadinho de consciência. Devido à dinâmica que nós temos implementado na banda, que tem sido espetacular, o ano passado organizamos o primeiro festival de bandas, que creio que foi um sucesso, então acho importante darem-nos uma oportunidade", referiu.
Neste seguimento, a Banda de Música de Vila Boa de Quires foi convidada para participar no "maior festival de bandas do mundo", que decorre em Liverpool. "No meio de quase mil bandas em Portugal, ligarem para a banda de Vila Boa de Quires, creio que deve deixar felizes todas as pessoas do concelho do Marco de Canaveses, vamos estar presentes a representar o concelho e o país, é um projeto brutal, é um momento único para todos os músicos".

Em jeito de conclusão, o presidente deixa um agradecimento a "todos os parceiros fundamentais", bem como "a alunos, pais e músicos. Sem esquecer, claro, os professores, o nosso maestro e também à nossa claque". Já o maestro Fernando Coelho, estende ainda os agradecimentos à direção, nomeadamente ao presidente, que é "um visionário. É a peça chave deste projeto, se não fosse este homem, a banda estaria no limbo que esteve durante muito tempo, ele é o principal impulsionador deste magnífico projeto".
Família de Augusto Loureiro tem "a música" a correr nas veias
Nas fileiras da Banda de Música de Vila Boa de Quires é possível encontrar muitas famílias e muita tradição. É o caso da família de Augusto Loureiro. Natural de Abragão, pertenceu à banda, "quando era mais novo" e, hoje em dia, vê os filhos a seguirem os seus passos.

"Entrei para a banda tinha mais ou menos dez anos e toquei trompete", começou por dizer, acrescentando que "a esposa também sabe um pouco de música, mas nunca chegou a frequentar a banda". Dois dos três filhos fazem parte, atualmente, do grupo, enquanto que o do "meio abandonou temporariamente, espero".
Afirma ser "arrepiante" ver os filhos a seguirem os seus passos. No entanto, "em casa, às vezes, é difícil lidar com três filhos músicos, mas é muito positivo. Sou um pai orgulhoso e sinto-me muito feliz por ver os meus filhos na banda da terra".


Augusto Silva fez também parte da direção, sendo que atualmente já não pertence, mas garante que a Banda de Música de Vila Boa de Quires, "ficará para sempre no meu coração. Ainda faço questão de os acompanhar e dou-me muito bem com todos os músicos".
Faça parte da Banda de Música de Vila Boa de Quires
A Banda de Música de Vila Boa de Quires convida-o a conhecer esta associação e, se quiser experimentar, basta entrar em contacto: 934 476 593 ou do e-mail: [email protected]
Foto-galeria Banda de Música de Vila Boa de Quires














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