Iryna Tkachuk e a sua filha de 15 anos vieram de Kiev, Ucrânia, para Baião em março de 2022, juntamente com a sua irmã, Oleksandra Bilohorodska, e dois filhos menores. Apesar do maior desejo ser regressar à terra natal, sentem-se “bem acolhidas” em Portugal e ao longo de vários meses os baionenses têm sido “tudo o que precisavam num grande momento de stress”.
A 24 de fevereiro de 2022, as irmãs acordaram ao som de explosões, a guerra estava mais perto do que esperavam. “Foi ao lado da nossa casa, não foi por causa da sirene, foi mesmo o barulho da explosão”, recorda Iryna Tkachuk em conversa com o Jornal A VERDADE.
A mulher de 43 anos admite que “não queria ir a lado nenhum, porque não esperava que isto tudo começasse e fosse tão grave”, ao contrário da irmã que estava “mais preparada”.
Antes de partirem para Portugal, as duas irmãs estiveram algumas semanas no oeste da Ucrânia, a 600 quilómetros de Kiev, onde se refugiaram na casa dos familiares do marido de Oleksandra Bilohorodska. Para manter “a cabeça e as mãos ocupadas”, acabaram por realizar algum trabalho voluntário, mas rapidamente se aperceberam que continuar na Ucrânia era “impossível”, porque a guerra estava a ficar “cada vez mais perigosa”.
No meio de todos os receios, o que mais temiam era a segurança das crianças e, por isso, rumaram até Portugal, país que visitavam pela primeira vez e que os iria acolher durante largos meses das suas vidas. Depois de um longo suspiro, Iryna diz que estão quase a completar um ano em Baião, cidade que desconheciam até pisarem Portugal.
No que toca aos estudos da filha e dos dois sobrinhos, a mãe diz que “apesar das circunstâncias” o plano que lhes ofereceram é “ideal e muito confortável”. De momento, a filha de 15 anos continua a estudar online na escola ucraniana, ao mesmo tempo que frequenta uma escola portuguesa para se envolver nas atividades e com colegas da sua idade.
A jovem inicia os seus estudos duas horas mais cedo do que em Portugal e tem um espaço atribuído na biblioteca onde pode conciliar as aulas ucranianas com as portuguesas. Para além disso, também lhe foi dada a possibilidade de frequentar a Academia de Dança e participar em espetáculos.
No caso dos sobrinhos, tem sido mais “simples”, um ingressou na escola primária e o mais novo, apenas com quatro anos, encontra-se a frequentar o infantário. Iryna partilha que ele está “muito feliz” e, entre risos, conta que “ele tem alguns problemas com a fala e devido ao contacto com o português tornou-se ainda mais difícil percebê-lo, porque já mistura as línguas”.
Apesar do menino de quatro anos não saber ler em ucraniano, já consegue contar os números em português. No que toca a irmã de 38 anos, Oleksandra Bilohorodska, tem realizado algum trabalho como funcionária de uma escola, já Iryna Tkachuk revela que continua a trabalhar para uma empresa ucraniana de forma a “manter o seu posto”, porque sonha em regressar.
Ao longo do tempo, no concelho de Baião acabou por se formar uma pequena comunidade apoiada diariamente pelos baionenses. Quando questionada sobre como é estar em Portugal, Iryna diz que é como se estivéssemos “atrás das costas de deus. Nós tivemos mesmo muita sorte e eu simplesmente não me farto de o dizer”.
Acrescentando que “eles meteram em cima deles a resolução de todos os problemas… casa, comida, bens de primeira necessidade, documentos, tudo. Perante o nível de stress que nós estávamos, uma ajuda deste género foi tudo”.
Ao longo destes 11 meses, a comunidade tem sido convidada para diversas atividades. “Convidam-nos para jantares, incluindo agora no Natal, eventos com o presidente e outras entidades, festas pequenas e grandes, eles nunca nos abandonam”, conta. Inclusive, a dada altura, realizaram um piquenique onde misturaram as culturas a nível gastronómico.
Recentemente, presenciaram uma tradição que não existe na Ucrânia, o Dia dos Reis e o cantar das janeiras. Assim, Iryna Tkachuk, o resto da sua família e outros refugiados ucranianos juntaram-se no Jardim Dr. José Teixeira da Silva e fizeram soar músicas de Natal ucranianas, acompanhadas pela guitarra de um dos membros da comunidade e celebraram, mais uma vez, com os portugueses.
Apesar de Iryna partilhar vários momentos felizes vividos ao longo destes meses em Portugal, diz que falta-lhes a “casa. Apesar de nos acolherem bem, ser um país maravilhoso, onde nos sentimos muito bem, a natureza é lindíssima e dá vontade de conhecer cada canto de Portugal, no entanto, falta-nos a casa. Não há mais nenhum motivo, queremos ir para a Ucrânia porque lá é casa, só isso”.