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António Conceição, presidente da Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos

Aos 41 anos, com um percurso profissional de “algum sucesso, uma esposa maravilhosa e duas filhas”, com cinco e oito anos na altura, António Conceição sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Praticava alguma atividade física e desportiva, não era fumador habitual, não era hipertenso, nem sofria de diabetes. “Às vezes, algum stress, como é ‘normal’ de uma atividade profissional com certa responsabilidade”. Mas tinha “algum excesso de peso que se refletia no colesterol, por vezes um pouco elevado”.

“Sem avisar, como quase todos”, teve um AVC. “Estava a trabalhar e, apesar dos colegas, de imediato e muito bem, terem chamaram o 112, o meu caso revelou-se muito complicado… Também porque o meu AVC, originalmente isquémico (entupimento de uma artéria que conduz oxigénio ao cérebro), em poucas horas se transformou em hemorrágico (rompimento de uma artéria, causando abundante hemorragia cerebral). Sem oxigénio, assim como com a “inundação” pelo sangue, muitos milhões de neurónios morrem e as funções comandadas por essa parte do cérebro são afetadas”, recorda António Conceição.

Os AVCs são diferentes de pessoa para pessoa e no seu caso, ficou, “sobretudo, com sequelas físicas e motoras (dificuldade de movimentação), e mesmo na comunicação verbal. Comecei um longo processo de reabilitação. O que é muito importante, porque se deve iniciar logo após o AVC, ser coordenada e multidisciplinar, sem limites de tempo pré-estabelecidos. No meu caso, fisioterapia, terapia ocupacional e terapia da fala, mas também pode haver lugar à intervenção de psicólogo e/ou psiquiatra, nutricionista, e mesmo outros profissionais de saúde. Para além, é claro, dos médicos, em especial, nesta fase, o fisiatra e/ou o médico de família”, explica.

A recuperação foi “boa”, embora ainda persistam “fortes limitações”. No entanto, “com esforço, capacidade de adaptação da própria vida, existe vida pós-AVC. A (re)integração pessoal, familiar, social e profissional (se for o caso), são fundamentais na reabilitação”.

Entretanto, juntamente com outros sobreviventes de AVC, assim como familiares, cuidadores e profissionais de saúde ligados à área, António Conceição fundou, em 2016, a Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos. Esta associação tem por objetivo a promoção de iniciativas que visem, por um lado, contribuir para a prevenção do AVC e suas consequências, e, por outro, para a resposta às necessidades sentidas pelos sobreviventes de AVC, seus familiares e cuidadores.

A “experiência de vida” pela qual teve e tem de passar, trouxe-lhe “alguns conhecimentos (até então, praticamente desconhecia o que é um AVC). É um evento que pode acontecer, e acontece, em qualquer idade (até bebés e crianças). Por isso, é fundamental que saber os sinais de que pode estar a acontecer um AVC. Que, em geral, nem provoca dor. Em Portugal costumamos usar os 3Fs, identificando sinais de aparecimento súbito: FACE, desvio da face (comummente, “boca ao lado”); FORÇA. falta de força num braço ou numa perna, de um lado do corpo; FALA, fala arrastada, não conseguir falar ou não entender as palavras que ouve”.

Qualquer destes sinais, pode indiciar um AVC. Por isso, ligue de imediato o 112. “Mesmo que esteja perto do hospital, é o 112 que tem informação de qual é, no momento, a unidade melhor preparada para receber a pessoa, e, sobretudo, ativa a Via Verde do AVC: no hospital, já sabem que vem a caminho, e preparam-se para a receber e tratar de imediato. Porque cada minuto conta: para salvar vidas, ou mesmo diminuir as eventuais sequelas do AVC!”.

Mas, para o presidente da AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos, o mais importante é saber o que fazer para prevenir um AVC. “Alguns conselhos básicos: escolha uma alimentação pobre em gorduras e sal, rica em vegetais; emagreça, se o seu peso for excessivo; faça atividade física, de forma regular; controle periodicamente a sua tensão arterial; não fume; vá regularmente ao seu médico”.

O maior conselho deixado por este testemunho é: “Viva bem e feliz, mas não engrosse os números, daquela que é a primeira causa de morte e o principal motivo de incapacidade em Portugal”.