maria da conceicao resende
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Uma iguaria típica de Resende, as falachas são um marco das celebrações do Dia de São Brás que todos os anos, no dia 2 de fevereiro, junta a população em Cimo de Resende, para um dia de adoração e convívio.

Maria da Conceição é “falacheira” há 47 anos e diz com orgulho e confiança “que as minhas falachas são as melhores”. A tradição do São Brás fez sempre parte da vida da “falacheira”, que aprendeu os segredos de uma boa falacha com a mãe, mas a ligação ao santo protetor dos males da garganta não fica por aí.

“Quando a minha mãe estava grávida foi vender falachas lá no alto em São Brás e quando voltou a casa depois de vender eu nasci”, conta a mulher de 74 anos que partilha o dia de anos com as celebrações do santo.

Assim, não será por acaso que Maria da Conceição tenha agarrado a tradição da falacha, seguindo o exemplo da mãe e agora fazendo o mesmo pela filha. “Já vamos na terceira geração de mulheres “falacheiras” na família, começou na minha mãe, foi para mim e agora passei a tradição para a minha filha”, conta a idosa.

Uma bolacha achatada feite de farinha de castanha, a falacha só se costuma comer durante o Dia de São Brás e talvez seja por isso que “recebo muitas encomendas e se tivesse mais farinha ainda mais encomendas tinha”, realça a cozinheira. “Cada qual tem a sua maneira de as fazer”, comenta a “falacheira” sobre o trabalho das colegas, mas tipicamente a massa da falacha é moldada e embrulhada em folhas secas de castanheiros antes de ser levada ao forno de lenha.

O segredo para uma boa fornada deste petisco está na confeção da massa e Maria da Conceição admite que ” a minha farinha fica mais branquinha e fica mais doce. A minha filha foi há dias entregar umas encomendas e uma senhora até ficou admirada que podia comer aquilo sem mais nada, que a farinha sabia mesmo a castanha”.

As falachas são um dos destaques desta festividade mas Maria da Conceição explica que os populares não vão à capela de São Brás só para puderem provas este petisco regional. Logo pela manhã, começa a chegar a este ponto de encontro “muita gente de manhã para fazer promessas ao santo. Depois como já é tradição de muitos, as pessoas levam para lá potes de ferro para fazer grelos, feijão e carne de porco, misturam tudo e fazem lá o almoço ao ar livre“, adianta a mulher de 74 anos.

O convívio “é o mais importante” durante as comemorações deste dia e ainda são muitas as “falacheiras” e populares que todos os anos voltam à capela em Cimo de Resende para festejar mais um ano junto de São Brás.

Esta antiga tradição resiste desde os tempos de infância de Maria da Conceição que se recorda de ver a mãe “a ir lá para a capela vender vinho ao copo. As mulheres iam para o São Brás com um garrafão de 15 litros de vinho na cabeça e lá iam, pelo caminho de terra, que na altura nem havia lá estradas. Mas lá iam de garrafão à cabeça e a mãe de vez em quando tinha de descer tudo para vir ao vinho outra vez porque um de vinho não chegava”.

As gentes da terra não deixaram este certame cair no esquecimento do tempo e ainda hoje é possível ir a Resende ver “muita gente lá a comer e a festejar”.

A tradição “continua viva” graças ao esforço de todos os populares e mesmo Maria da Conceição orgulha-se de “ter ensinado a minha filha a fazer falachas, assim já vamos para a terceira geração de falacheiras na família”.