Lembra-se "muito bem" do primeiro jogo que arbitrou (Juvenis - Lousada x Penafiel). Foi "surreal" e, no final, "queria desistir. Cometi muitos erros, como é lógico (risos), mas o comportamento do público foi mau demais", recorda Sara Alves.
Ser árbitra "nunca foi um objetivo" para a paredense de 33 anos, mas sim "um acaso". Num curso de espanhol conheceu um árbitro que a "convenceu" a tirar o curso com 22 anos.

É a primeira árbitra da família e assume estar "muito feliz" por ter seguido o conselho de colega de curso. "A arbitragem fez-me crescer muito enquanto mulher e pessoa. Trouxe para a minha vida pessoal pessoas fantásticas. E através da arbitragem consegui desenvolver várias competências, principalmente, emocionais".
A ligação ao mundo do desporto já conta com alguns anos. Jogou futsal federado desde os 14 anos e integrou a seleção da Associação de Futebol do Porto, de futsal e futebol de 7. "De um modo geral, o desporto sempre esteve muito presente na minha vida, desde que me conheço".
Qual é a sensação de arbitrar um jogo? Neste momento, é "algo natural" e uma "satisfação pessoal. Gosto de apitar e, sobretudo, de lidar com pessoas", explica a árbitra da AF Porto que esteve presente na Final do Campeonato de Portugal, como quarta árbitra do jogo.

Artur Soares Dias "tem feito uma grade exibição e só prova que Portugal tem árbitros muito competentes.
Nos relvados, Sara Alves luta para se manter "no topo da arbitragem em Portugal e ser reconhecida e lembrada como uma grande árbitra". Fora do campo tem um negócio de consultoria e auditoria a normas ISO, FSC, PEFC, licenciamento industrial entre outros serviços do ramo empresarial.
Conciliar a vida de árbitra com a atividade profissional "nem sempre é fácil" para a árbitra devido ao "patamar" em que está. Dedica "muito tempo dedicado a treinos e formações" e os fins de semana são reservados para os jogos, "muitas vezes para sul". Assume que "se torna cansativo e difícil", porque é preciso "abdicar de tempo para lazer, família, amigos".
Nunca senti preconceito em nenhuma esfera da vida
Sara Alves considera-se uma "exceção à regra" e admite que "nunca" sentiu "preconceito em nenhuma esfera da vida". Cresceu "no meio de homens", sempre trabalhou "no meio de homens" e é árbitra. "Em nenhum momento senti qualquer tipo de inferioridade por ser mulher. Aliás, quando dizem 'ela apita como um homem', é um grande elogio que me podem dar", garante.

Nesta conversa o tema do EURO 2024 não podia ficar de fora e enquanto adepta, a paredense reconhece que a seleção "tem de ser mais agressiva e eficaz na finalização. Engonham muito e depois correm atrás do prejuízo. Contudo, tenho de ressalvar que, independentemente disso, não sou uma adepta que ataca os nossos jogadores ou treinador e acho vergonhoso o que mais uma vez a comunicação social está a fazer ao Cristiano Ronaldo".
Já enquanto árbitra, Sara Alves assume estar "muito feliz" por ver Artur Soares Dias a representar a arbitragem portuguesa e portuense. "Tem feito uma grade exibição e só prova que Portugal tem árbitros muito competentes. Só espero que um esteja na final, ou a seleção ou o Artur", remata.