No dia 5 de maio memoramos o Dia Europeu da Insuficiência Cardíaca. Tratando-se de um verdadeiro problema de saúde publica, com proporções epidémicas, é ainda pouco reconhecida pela população geral. Para expor a dimensão do problema, dados do estudo EPICA apontam a sua prevalência em Portugal como rondando os 4,36% (cerca de 450 mil insuficientes cardíacos). Mais impactante ainda, é o facto da sua prevalência aumentar com a idade, sendo expectável que um em cada cinco adultos venha a sofrer de insuficiência cardíaca (IC) ao longo da sua vida.
O aumento da prevalência de IC é resultado de um conjunto de fatores, nomeadamente, o envelhecimento da população, o aumento da sobrevida de outras doenças cardíacas (como os enfartes e as doenças cardíacas congénitas) e o aumento da prevalência de doenças crónicas como a hipertensão arterial e a diabetes. Sendo estas as principais causas de IC, existem outros motivos para desenvolvimento de IC, como as arritmias, as doenças das válvulas cardíacas ou doenças do músculo cardíaco (p.ex. miocardites).
Mais do que uma doença, a IC é uma entidade complexa em que o coração é incapaz de dar resposta às necessidades aumentadas de fluxo sanguíneo do organismo, com consequente desenvolvimento de sintomas quando o paciente tenta realizar atividades comuns do dia-a-dia. Com a progressão da doença, esforços progressivamente menores desencadearão sintomas, até uma fase em que estes surgem em repouso. Entre os principais sintomas de IC destacam-se o cansaço, a falta de ar e as pernas inchadas ou aumento do volume abdominal.
É ainda importante não esquecer que se trata de uma doença com um prognóstico sombrio se não acompanhada e tratada. A sua mortalidade chega a ser superior à de muitos cancros (nomeadamente cancros comuns como o da próstata, da mama ou o melanoma); mas continua a ser mais temido um diagnóstico de cancro que um diagnóstico de IC.
Mas neste dia dedicado à IC e a todos os que vivem diariamente com esta doença é importante ressalvar dois pontos de esperança:
Em primeiro lugar, trata-se de uma doença prevenível, ponto em que é basilar a adoção de um estilo de vida saudável, cumprindo uma dieta equilibrada, realizando exercício físico de forma regular e abstendo-se do consumo de álcool e de hábitos tabágicos, conjuntamente com o controlo adequado de doenças crónicas como a hipertensão arterial, a diabetes, a dislipidemia (colesterol alto) e a obesidade.
Em segundo lugar, dispomos, cada vez mais, de terapias eficazes, que permitem uma franca melhoria da qualidade de vida, mas também ganho de anos de vida. É por isso importante que conseguir diagnosticar o mais rapidamente possível, para iniciar tratamento dirigido e eficaz e, assim, garantir uma melhoria do prognóstico. De igual importância, é que os doentes cumpram a medicação de forma regular. Além disso, os doentes com insuficiência cardíaca, e seus familiares/cuidadores, devem aprender a reconhecer sintomas de descompensação (agravamento da falta de ar, inchaço nos pés e pernas ou aumento súbito de peso) e procurar ajuda junto da equipa médica assistente precocemente, para assim evitar uma descompensação mais grave.
Neste dia tenhamos em mente que todos somos importantes na prevenção, diagnóstico e gestão da insuficiência cardíaca, desde a população geral aos profissionais de saúde. Só trabalhando conjuntamente poderemos “detetar o não detetado”.
Artigo de Opinião de Ana Nascimento – Núcleo de Estudos de Insuficiência Cardíaca da SPMI