Artigo de opinião de Lúcia Resende.
"Define-te, amor! E diz-me, quem permites que te abrace? Que nesse teu cárcere divino, vive em alegria e dor… (…) Desce desse teu pedestal consagrado, onde, por engano, te fizeram senhor. Queres tu, ser eterno? Então, entrega-te, como refém! Porque eu sei que sim! Que o meu amor por ti… É, algures, o amor de alguém…"
Define-te, amor! E diz-me, quem és tu? Esse que todos buscam. Que poucos encontram. E que muitos acham encontrar. Que definição, te dás? Diz-me, assim baixinho, para eu saber… Nessa tua definição, indefinida, te encontras e aos comuns mortais, te lanças e te fazes perder.
Define-te, amor! E diz-me, não és tu o mais sublime e eterno morrer? O mais aguçado sabor, que em ti, todos desejam perecer… Como te sentes quando a ti, te invocam em vão e em erro, sem perdão? Que definição trazes dentro de ti? Que onde devias plantar, semeias destruição.
Define-te, amor! E diz-me, a quem te dás e dominas, numa socapa mestria desigual?
O que levas e trazes a cada amante, dessa tua entrega parcial? A quem ferves e escaldas, quem de excesso te alcançou? Que medida tens tu, para consolidares nesse teu antro, quem diz que já amou?
Define-te, amor! E diz-me, onde descansas tu? Por onde paras e em que paragem te devo ir buscar. Onde morarás? Absorvido e colhido. Trancado e permitido. Oculto e evidente… Por esse caminho sinuoso, de sinais e evidências, que em júbilo renasce e eterniza, aquele que te puder achar.
Define-te, amor! E diz-me, quem permites que te abrace? Que nesse teu cárcere divino, vive em alegria e dor… Diz-me, piedosamente, sem medos e reticências, sem o teu pecado, de mau perdedor. Quem te busca perde-se em pecado, por pecar? Ou afinal és divino de santidade, de quem tu queres, nesse teu altar de amor?
Define-te, amor! E não digas nada mais… Emerge e pulsa! Em alegria e ternura. Em paixão e fulgor. Em insânia e loucura. Desce desse teu pedestal consagrado, onde, por engano, te fizeram senhor. Queres tu, ser eterno? Então, entrega-te, como refém!
Porque eu sei que sim! Que o meu amor por ti… É, algures, o amor de alguém…
