ricardo silva opiniao
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Artigo de opinião de Ricardo Silva, psicólogo.

Em tempos de pandemia e conflitos em continente europeu, onde a voz do povo afirma em alto tom que a sociedade só fala de pandemia e guerra, a curiosidade levou-me a fazer um levantamento dos temas mais procurados no mês de maio pelos portugueses no google. Desnecessário será dizer que me passaram logo pela cabeça temas como: Pandemia, covid-19 ou até mesmo a Guerra.

Quase fiquei espantado quando reparei que os temas relacionados com Futebol estão no topo das procuras, logo seguidos de: Dia da Mãe; João Rendeiro; Maro; Margarida Corceiro; Finanças; Segurança Social Direta; Varíola dos macacos; Ray Liotta.

Constatei, que afinal a preocupação dos portugueses não recaía sobre os temas que eu esperava. Foi aí que me surgiu a ideia de ir ver os tópicos mais abordados no Twitter!

Deparando-me com o seguinte cenário: Temas de Futebol 12 vezes no top; Eurovisão 3 vezes; Big Brother 2 vezes; Margarida Corceiro 2 vezes; João Almeida 2 vezes, e mais um bom conjunto de temas que estiveram apenas uma vez no top.

E, mais uma vez, os temas de interesse dos portugueses não batiam certo com o que eu achava ser a realidade das conversas de vizinhança. Por isso, decidi alargar a minha pesquisa, pois o problema deveria ser causado pelas constantes mudanças do tempo, onde a preguiça e a melancolia se tornam características, levando a um interesse por temas menos profundos. Daí, uma excessiva preocupação com a primeira liga portuguesa, com as infelizes circunstâncias do relacionamento amoroso do João Félix ou até em saber quem comeu o último croissant na casa do Big Brother.

Sabendo isto, lá fui para a minha última tentativa… analisar os temas mais pesquisados pelos portugueses no fatídico ano de 2021. Convictamente, pensei que desta vez não falharia nas minhas previsões de temas. Até que apurei que mais uma vez os temas relacionados com futebol dominavam a preocupação dos portugueses, desta vez seguidos de: Tempo para amanhã; Censos 2021; Marília Mendonça; Certificado digital; Maria João Abreu

Notei aqui uma diferença importante! É que as pessoas, em 2021, preocupavam-se mais com o tempo, do que com os namoricos da Margarida Corceiro, o que, em termos de civilização, se torna um marco, ou talvez um desmarco, nas relevâncias dos tempos. Outra das justificações que encontrei, é que a instabilidade meteorológica do mês de maio, trouxe aos portugueses uma descrença quase ateia, relativamente à meteorologia.

Claro que me questionei logo relativamente à baixa fiabilidade deste tipo de estatísticas. Até porque existe uma parte da população que não usa internet e/ou redes sociais, muito menos o Twitter. Mas uma reflexão mais profunda fez-me concluir que, em muitos desses casos, poderia haver uma vontade patriótica de discutir os resultados do clube da terra, uma procura por saber como está a vida amorosa da Sr.ª Joana do 3º esquerdo ou até uma forte discussão sobre quem escolheu os melhores insultos na gala do Big Brother. O que acabam por ser interesses muito idênticos aos encontrados na pesquisa.

Tudo isto, revela que o Homem, como ser social, sempre teve interesses característicos. E que, mesmo com mudanças civilizacionais de grande escala, esses interesses não deixam de existir. Apenas se transformam para melhor se enquadrarem com a nossa realidade. E se, por um lado, podem ser interesses básicos e pouco educativos, por outro, vêm ocupar um espaço no cérebro para libertar as pessoas de problemas bem mais desgastantes. Tornando-se, em alguns casos, uma excelente distração.