artesaos madeira paredes2Foto: Município de Paredes
Publicidade

Nos últimos dias, o concelho de Paredes tem apostado na divulgação da madeira, uma indústria que é um dos ex-líbris do local, num festival que promove a arte feita neste material. O Jornal A VERDADE foi conhecer dois artesãos que estão a dirigir duas oficinas ligadas à área.

Há cerca de 30 anos que Carlos Ferreira, natural de Rebordosa, Paredes, se dedica à arte da escultura. “Era uma arte muito na moda. Qualquer um que fosse aprender esta arte, ia para esta área ligada às madeiras, era entalhador. Por acaso, fui e tive vocação. Nasci na arte ligada aos móveis, mas, depois, há 30 anos, comecei a ver que tinha um bocadinho de vocação para as esculturas”, conta.

309707743 473987851437426 5091320411105148927 n
Foto: Município de Paredes

Foi desenvolvendo o seu trabalho como autodidata e enveredou pela arte de moldar e esculpir madeira exclusivamente através do trabalho manual. Atualmente, utiliza ferramentas mais sofisticadas, como por exemplo, os pantógrafos.

Defende que “qualquer escultura que faça, é com o mesmo gosto” e não tem trabalhos preferidos. Apesar de a maior parte do trabalho que elabora ser para os vários pontos do país, também já chegou a enviar encomendas para a Áustria e França, por exemplo.

309445827 473987841437427 5678711039979836769 n
Foto: Município de Paredes

Carlos Ferreira é procurado com frequência para a realização de esculturas de arte sacra, mas tem mantido alguma diversidade na sua obra. Quando surgiu a oportunidade para participar no Festival de Artes em Madeira de Paredes, apesar de ser “uma pessoa muito fechada”, aceitou, uma vez que é “para divulgar esta arte”.

Quanto ao futuro, não tem quem continue este trabalho nas próximas gerações, porque acredita que os mais jovens “não se interessam mais por esta arte”, mas sublinha que se vai manter na profissão até não poder mais.

whatsapp image 2022 09 30 at 13.13.04 3

A oficina que promoveu na passada sexta-feira e que vai ser realizada novamente no dia 7 de outubro, pretende abordar as bases da escultura em madeira, nomeadamente a escolha e tratamento de diferentes madeiras para escultura; a identificação e utilização segura e eficaz das ferramentas da arte; técnicas simples e práticas para execução de pequenos trabalhos de escultura em madeira.

whatsapp image 2022 09 30 at 15.20.28 4

Mais ligado ao trabalho feito em talha de madeira é Manuel Fernandes, mais conhecido por Fialho, também natural de Rebordosa. Começou com 14 anos a trabalhar na empresa Zé Pereira, com o mestre Martins, tendo depois trabalhado noutra empresa, Joaquim M. Venda. “O início da minha arte foi um incentivo do meu pai para trabalhar na talha ou ser mecânico, eu optei pela talha”, recorda.

308992421 474611491375062 6550299282037024811 n
Foto: Município de Paredes

Três anos depois, tornou-se independente e, na sequência da execução de vários trabalhos de elevado grau de dificuldade, foi obrigado a pesquisar formação adicional. “Fui obrigado a ir a França comprar livros para adquirir conhecimentos, noutros estilos, conhecer um pouco a história. Gastei algum dinheiro que achava fundamental na aprendizagem, que hoje se reflete nos nossos trabalhos e foi nesse sentido que eu me estabeleci”, explica. Também usa como inspiração os trabalhos realizados em igrejas e museus.

309260923 474611041375107 531191352975802285 n
Foto: Município de Paredes

Atualmente, dá nome à empresa Móveis Fialho, com sede em Rebordosa, que nasceu em 1982. Acredita que é preciso “dar a conhecer esta arte que está a ser esquecida pelos responsáveis lamentavelmente” e, por isso, agradece a realização deste festival, que considera “muito importante”. “Este é um trabalho que está a ser referenciado, está a ser elogiado por pessoas do concelho e não só, mesmo em concelhos vizinhos. Isto é muito importante, mesmo para os empresários. Hoje, amanhã, com toda esta divulgação, o próprio concelho, todos nós vamos ganhar, por isso, é que é de uma importância extraordinária”, continua.

Além disso, considera que não há mais ninguém que continue esta arte porque “dizem que não era compensador e são artes que levam muitos anos e não são vistas precisamente dessa forma, é uma arte a ser valorizada e ser valorizada é um incentivo”.

309500332 474611731375038 2463123250310969479 n
Foto: Município de Paredes

Quanto aos trabalhos que mais gosta de realizar, diz que “todo o trabalho, quanto mais difícil ele é, mais se sente realizado depois de concretizá-lo”, mas que esses trabalhos “não vêm do país” e esclarece ainda que, hoje em dia, “a tecnologia sobre as pinturas é totalmente diferente”, sendo, por isso, mais fácil de limpar e ter na mobília de casa.

A oficina que realizou na semana passada e que vai também voltar a realizar no dia 7 de outubro pretende que os formandos façam o acabamento manual de peças pertencentes a uma consola estilo LXV, previamente passadas no pantógrafo.

O Festival de Artes em Madeira de Paredes decorre até ao próximo domingo, dia 9 de outubro, com diversas atividades que promovem este ofício.