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Em apenas um segundo, a vida, como a conhecemos, pode mudar. Foi o que aconteceu ao jovem Pedro Moura, natural de Soalhães. Com 24 anos, emigrado na Alemanha, sofreu um acidente de trabalho que o deixou em coma durante seis semanas. Em entrevista ao Jornal A VERDADE, e agora com 32 anos, Pedro Moura fala sobre este momento que deu “uma volta de 180 graus” à sua vida.

Foi em 2010 que embarcou “numa nova aventura” e decidiu emigrar para a Alemanha. “Concluí o secundário e o salário que me ofereciam em Portugal não era muito bom, então apareceu esta oportunidade e decidi aproveitar”, afirmou. Começou esta jornada, em conjunto com um amigo, na área da serralharia, o que lhe permitiu conhecer o país de acolhimento “de norte a sul”. Apesar de ser “um trabalho difícil”, era “desafiante” e garante que “gostava do que fazia”.

No dia do acidente, estava a trabalhar no terminal dois do Aeroporto de Munique. “Íamos fazer o transporte de uma palete de vidro”. Numa fração de segundos e a palete estava em cima de Pedro Moura. “Eram mais de mil quilos. A partir daí tudo mudou” mas, as memórias “foram apagadas”, uma vez que Pedro não se lembra “de nada do acidente. Não tenho memórias, tudo o que sei foi o que me contaram e imagens que vi”.

Após o acidente “foi rapidamente acionado o socorro”, e “foram muitos os bombeiros” que chegaram ao local. Pedro refere que lhe contaram que teve de “assinar um termo de responsabilidade” para o induzirem ao coma. “Acho que era para não ter tantas dores, porque eu dizia que não sentia as pernas”. Foi transportado para o hospital de helicóptero, onde acabou por passar seis semanas em coma.

Foram várias as operações realizadas, sendo que a mais delicada “foi à cabeça”, para a colocação de um dreno. “Foi uma operação realizada com sucesso e seguiram-se outras. Fui operado às duas pernas e à bacia. Mas não me lembro de quase nada”, disse. Na cabeça, acabou por ficar com um pedaço de platina, uma vez que o corpo “rejeitou o pedaço de crânio que colocaram quando o cérebro desinchou”.

Pedro foi transferido para outro hospital, onde lhe disseram que era provável que não voltasse a andar. Mas, contrariando todas as probabilidades, o jovem voltou a andar pelo próprio pé e a fazer uma vida normal. “Foram muitas horas de fisioterapia. Só pensava que tinha 24 anos e que não podia ficar preso a uma cadeira de rodas a minha vida toda”, constatou.

O jovem garante que “a força de vontade foi o melhor remédio”. Apesar das “dores”, levantava-se, todos os dias, para as sessões de fisioterapia. “Cada passo, cada salto era uma conquista para mim e para toda a equipa que me acompanhava. Foi um processo muito desgastante, mas valeu a pena. A fisioterapia na água foi o que mais me ajudou a recuperar a força”, contou.

Depois de um total de nove meses, Pedro saiu do hospital, que foi a “segunda casa. Éramos como uma família”, e foi para uma casa de reabilitação. “Na Alemanha é assim. Quando passamos muito tempo no hospital, temos de ir para uma casa destas para voltar a aprender a viver em sociedade”, descreveu. Nesta época surgiu a oportunidade de tirar um curso de técnico de Ortopedia. “Foi uma área pela qual me apaixonei e gostava muito de conseguir arranjar emprego em Portugal”, constatou.

Hoje, com 32 anos, e já de vez em Portugal, o jovem ficou com algumas sequelas. “A nível físico é apenas quando corro que as pessoas notam. A sequela maior foi a epilepsia para a qual tomo medicação diariamente. Tive algumas crises, mas agora tenho a medicação ajustada, anda tudo controlado”. Pedro Moura não esquece “todos os que estiveram ao meu lado neste tempo”, a quem deixa um “agradecimento especial, de coração”.

A quem estiver a passar por uma situação complicada, o segredo “é não desistir, por mais que seja difícil, é preciso olhar sempre em frente”.