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Apenas um em cada três jovens acredita que vai comprar casa nos próximos anos

Redação

Os preços elevados das habitações e os rendimentos insuficientes são os principais obstáculos à independência dos jovens, conclui o estudo "Habitação para jovens em Portugal: desafios e tendências atuais", desenvolvido pela Century 21.

Os dados revelam que a independência habitacional em Portugal varia "consideravelmente" de acordo com a faixa etária e que os jovens portugueses "precisam de mais anos para se conseguirem emancipar. Numa altura em que os dados do Banco de Portugal referem que há pelo menos uma década que não havia tantos novos créditos para a compra de casa feitos por jovens, as conclusões desta análise profunda revelam que, ainda assim, ter casa em Portugal continua a ser um percurso cheio de obstáculos".

Os dados apresentados mostram que 88,6% dos jovens dos 36 aos 40 anos vivem de forma independente, enquanto esse número desce para 76,3% entre os 28 e os 35 anos. No entanto, entre os jovens dos 20 aos 27 anos, 49,5% ainda vivem com os pais.

Habitação: o sonho da independência dos jovens esbarra nos desafios financeiros

Entre os jovens que já se emanciparam, 74,8% dos que têm entre 36 e 40 anos alcançaram essa condição há mais de cinco anos. No entanto, diz o estudo que para os que ainda não são independentes, o caminho para a emancipação está repleto de desafios.

"Quase 65% dos jovens não independentes planeiam emancipar-se no próximo ano ou no seguinte, e outros 45,4% deste grupo atribuem a pontuação máxima (10 numa escala de 0 a 10) ao desejo de independência, com uma média geral de 8,5 pontos".

Os principais obstáculos à independência são os preços elevados das habitações (43%) e os rendimentos insuficientes (30%). Entre os jovens de 36 a 40 anos, 31% acreditam que só conseguirão comprar casa dentro de cinco a dez anos.

"Este desafio é agravado pela forte concentração da oferta de imóveis em valores superiores a 300 mil euros, que representam a maior parte das casas disponíveis no mercado. Em Lisboa, essa tendência é ainda mais acentuada, com 59% da oferta nessa faixa de preço, enquanto no Porto o valor é de 56%. No segmento acima dos 300.000€, a tipologia disponível no Porto é o T2 (25%), e em Lisboa, o T3 (26%)", refere o mesmo estudo.

Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, afirma que "para muitos jovens, sair de casa dos pais significa dar início a uma vida a dois, mas a verdadeira dificuldade não está na vontade de emancipação e sim na conjugação de rendimentos baixos com a instabilidade profissional. Ter uma casa própria e construir um futuro continua a ser um grande sonho para a maioria dos jovens portugueses. No entanto, para muitos, esse sonho tem sido adiado indefinidamente. Este estudo apresenta uma realidade inquestionável: os jovens não desistiram de sair de casa, mas o sistema tem dificultado que consigam atingir esse objetivo de vida", garante.

Área Metropolitana do Porto: maior intenção de emancipação e maior satisfação com o tempo de deslocação

Na Área Metropolitana do Porto (AMP), 67% dos jovens são independentes, uma percentagem ligeiramente inferior à de Lisboa. No entanto, os jovens do Porto mostram maior intenção de emancipação no próximo ano (35%) comparativamente a Lisboa (24%).

O desejo de independência é ligeiramente superior ao de Lisboa, com uma média de 8,6 pontos, sendo que 47,7% dos jovens não independentes atribuem a nota máxima (10) a esse desejo. Os principais obstáculos são os mesmos que a nível nacional: preços elevados das habitações (43,3%) e rendimentos insuficientes (29,5%).

Em termos de preferências de habitação, 60% dos jovens da AMP querem permanecer na mesma cidade, uma percentagem maior do que em Lisboa (51,4%). Apenas 11,5% consideram mudar-se para fora do país, uma percentagem inferior à de Lisboa (18%).

Em Lisboa, os jovens levam mais tempo para chegar ao trabalho ou local onde estudam, o que contribui para a menor satisfação com o tempo de deslocação (72,4%) em comparação com o Porto (77,4%). Além disso, as expectativas em relação à habitação foram mais frequentemente atendidas no Porto (22,2%), enquanto em Lisboa a localização é uma das principais fontes de insatisfação (18,6%).

Estudo conclui que há a necessidade de soluções estruturais e políticas públicas eficazes

Os dados da Century 21 Portugal revelam que o problema do acesso à habitação é amplamente disseminado, embora esteja a afetar especialmente os mais jovens, que se veem obrigados a emancipar cada vez mais tarde. Embora o pacote de medidas do Governo tenha permitido que os jovens não precisem recorrer a capitais próprios iniciais, o desafio persiste: não há habitações acessíveis em termos de tipologia e preço, compatíveis com os rendimentos nacionais.

"Os elevados custos habitacionais continuam a colocar pressão nas famílias, obrigando muitas a rever critérios de escolha, como localização ou área, para conseguir adquirir ou arrendar habitação", destaca Ricardo Sousa, acrescentando que os apoios são insuficientes pois o problema é estrutural: "Nenhum banco financia quem não tem um contrato de trabalho e não cumpre com os requisitos de taxa de esforço. Devem ser pensadas soluções de incentivo às empresas na contratação dos jovens e na valorização da força laboral. Para um jovem que já ia comprar casa, as medidas de isenção do IMT, do imposto de selo e emolumentos são apenas uma poupança. A maioria dos jovens que não conseguia aceder, vai continuar a não conseguir."

Os desafios para a emancipação continuam a ser significativos, especialmente devido à forte concentração da oferta atual em valores superiores a 300 mil euros e à escassez de imóveis acessíveis abaixo dos 125 mil euros. Essa realidade exige não apenas a modernização da mobilidade urbana e a revisão dos Planos Diretores Municipais, mas também a implementação de políticas públicas que ampliem a oferta de habitação a preços alinhados com os rendimentos dos jovens.

Informação cedida por Century21