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O mais novo de seis irmãos, António Pereira, viu os seus 74 anos serem passados “sempre” na freguesia de São Gonçalo, no concelho de Amarante.

Embora os sonhos profissionais passassem pela cozinha, este amarantino dedicou grande parte da vida ao mundo da alfaiataria, mais precisamente dos “10 aos 71 anos”. Confessa que “gostava” do que fazia, “pelo contacto com o cliente” e pelo “gosto em ver as pessoas a vestir com elegância”.

Em Amarante, todos o conhecem. E, será mais facilmente reconhecido se perguntar pelo senhor António ‘ADA’. “Estou ligado à Associação Desportiva de Amarante – ADA – desde a fundação (1977), enquanto associado. Continuei ligado aos órgãos sociais até 2018 e, atualmente, sou oficial de segurança nos jogos de andebol e voleibol”.

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Fotografia: RTP

Casou com uma modista e com ela havia “um trabalho de entre-ajuda”. Hoje, existe uma ligação “eterna”. A esposa faleceu em 2020, vítima de doença prolongada, depois de 46 anos de casados. “Metade” de António da ‘Ada’ partiu, mas, desde então, tem feito “tudo o que fazia com ela, caminhadas, tradições, entre outras coisas. Na última hora e meia em que esteve cá, disse-lhe no final que ia tentar continuar a fazer o que fazia até então. Eu sabia que ao dizer-lhe isso, a estava a fazer feliz”, recorda.

E, falando em tradições, este amarantino, “contador de histórias”, dedicou-se, também, a “recuperar algumas tradições: do Carnaval (corrida dos compadres e comadres), a noite dos carrapatos (30 abril), a caminhada do homem da pera branca (dia aniversário Banda Musical Amarante)”. Mas foi a marcha da montanha que levou à reunião de cognomes e lendas de muitas freguesias. “Eu e a minha esposa íamos conversar com os pastores. Aí comecei a escrever numa sebenta os cognomes e lendas que me contavam, que resultou num livro editado em 2021 (Amarante, memórias que se apagam) em homenagem a ela. Agora, sou conhecido como o contador de histórias e recuperador de memórias, porque, a partir daí, contava essas lendas em qualquer sítio“, explica.

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Começou a fazer desporto aos 28 anos. Fez 249 meias maratona e 23 maratonas

A ligação ao desporto já era antiga, mas enquanto praticante começou aos 28 anos. Realizou 249 meias maratonas e 23 maratonas, “corridas de 10 e 15 quilómetros perdi a conta. A minha ultima prova oficial foi a Corrida de São Silvestre no Porto, em dezembro 2019“, recorda.

O desporto foi diminuindo, agora fica-se pelas “caminhadas”, mas António ADA é um homem “muito ativo e dinâmico noutras áreas”. As tardes da semana são “todas ocupadas” com a prática do voluntariado e “é isso” que o faz “viver”.

Começou há 43 anos na Cercimarante, saía “às 12h30 do trabalho, ia para lá ajudar a dar as refeições aos utentes, ia a casa almoçar e voltava para o trabalho”. Além deste, fala-nos do voluntariado “na igreja de S. Domingos. Recebo os turistas à terça-feira e aos domingos, quando não há jogos de andebol ou voleibol”. Já as tardes de quinta e sexta-feira são passadas na ADESCO.

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Também as crianças recebem a atenção deste amarantino, que “de vez em quando” é chamado às escolas do concelho, para ensinar e mostrar aos mais novos “26 jogos tradicionais com que brinquei quando era criança. Eles adoram aquilo, é uma felicidade e eu consigo conquistá-los. Tem corrido muito bem. Dá-me muito orgulho, porque eram memórias que estavam a perder, já ninguém fazia e é bom levar aos mais novos estas tradições, dá-me uma felicidade que ninguém imagina”.

António ADA recorda “uma criança de 10 anos que pediu ao avô para arranjar quem fizesse um dos meus brinquedos, porque esteve comigo a brincar com aquilo. Disse que daqui a 60 anos ainda se iria lembrar de mim. Isso é o melhor que posso ouvir”, garante.

Aos 74 anos, este amarantino de ‘gema’ é um “apaixonado pela vida e por Amarante. Conheço muito deste país, mas Amarante está no meu coração”.

Hoje, quer passar o testemunho a outras pessoas e ficaria “feliz” se “conseguisse inspirar alguém. Saiam de casa, vivam, não se isolem. Viver é bom, mas conviver é muito melhor”.