jose monteiro
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José Monteiro, natural de Lustosa (Lousada), tem 67 anos e recorda a entrada no mundo das corridas aos 50 anos. Com várias títulos conquistados, o lousadense sonha, ainda, ser campeão nacional de maratona.

Quando começou no ‘mundo’ das corridas e porquê?

Eu corria quando era novo. Fui atleta durante o tempo todo de tropa. Um ano depois de ter terminado o serviço militar casei. Depois vieram os filhos e a vida começou-se a complicar. Comecei a ter muito menos tempo e, também, fumava bastante naquela altura. Por isso, disponibilidade para correr era pouca e os esforços também já não eram muitos. Fiz uma pausa e, aos 45 anos, decidi deixar de fumar e ainda bem. Mas parar um vício destes é difícil e têm de se encontrar outras alternativas, outros refúgios. Eu escolhi o desporto. Inscrevi-me no ginásio e fiz de tudo um pouco. Mas chegou uma altura em que aquilo já não me satisfazia. Um dia, ao sair das piscinas, vi um cartaz de uma corrida, um grande prémio de Lousada. Eu sentia-me muito bem e em condições de poder fazer uma corrida de dez quilómetros. Inscrevi-me, foi uma experiência, correu bem, na altura fiquei mais ou menos a meio de tabela. Isso deu-me um entusiasmo muito grande. A partir daí nunca mais parei.

O que lhe diziam as pessoas à sua volta?

Na altura corria por conta própria e fazia umas corridas porque gostava, mas tinha de ser ao final do dia ou muito cedo, porque durante o dia éramos criticados. Hoje não, hoje é moda e corre-se em qualquer sítio, em qualquer cidade, em qualquer jardim, até é moda. Ainda bem que é assim. A partir dos 50 anos comecei a correr, alta competição, e inscrevi-me num clube. Faço parte do Clube de Matosinhos.

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Algum dia pensou em inscrever-se num clube de corrida?

No início não e nunca pensei que desse o resultado que deu. Eu sou muito persistente e levo as coisas muito a sério e os resultados começaram a aparecer. Então tomei essa decisão. Já fui a vários países e todos os anos vou a um diferente. Em Portugal vou sempre que eu posso.

Que provas gosta de fazer?

Segundo as minhas características, eu sou atleta de grandes distâncias, mas faço um pouco de tudo,

Nas provas sente que o substimam pela idade?

Tenho histórias muito curiosas. Lembro-me quando fui fazer a Corrida do Dia do Pai, desafiado pelos meus filhos. Terminei a prova antes deles, que achavam que não ia conseguir. Nunca mais me desafiaram. Há pouco tempo, na Maratona do Porto, ia lá um grupo de atletas novos. Eu ia ao ritmo deles como se nada fosse e sentia-me muito bem. No percurso ouvi algumas ‘bocas’ do público que estava a assistir ‘olha aquele velho’.

O que sente quando está a correr?

Um prazer enorme. Dá-me mais vida e saúde. Quando faço uma corrida ou um treino em dias de chuva, e frio é muito difícil, mas aí é que eu fico satisfeito. Chegar ao fim e conseguir é uma satisfação tremenda. E se for a um pódio melhor ainda.

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Como é a otina de treinos, uma vez que tem de conciliar com o trabalho?

Levanto-me todos os dias às 06h00 e faço o meu treino de cerca de uma hora. Tomo um banho e vou trabalhar. Faço isto todos os dias, 365 dias no ano, mesmo em dias de Páscoa, Natal, Ano Novo, em dias de casamentos, batizados. Sinto que preciso desse treino para estar bem disposto.

Que cuidados tem na corrida?

Tenho muito cuidado com a alimentação e com o descanso principalmente. Quando comecei a correr pesava 72kg e hoje peso 58kg. É uma diferença muito grande, porque na corrida dois quilos faz muita diferença. No Natal, por exemplo, abuso mais um bocadinho, mas compenso com a corrida.

O que mais custa nas corridas, a dor física ou a parte mental?

É a dor física, porque mentalmente sou muito forte.

Quantas provas já fez até hoje?

Em termos de maratonas já fiz doze e ganhei nove em nove países diferentes. Já fui a Israel, Países Baixos, Grécia, França, Roménia, República Checa, Áustria, Espanha, são os que me lembro agora. A prova da Grécia, em Atenas, é linda. Fica tudo repleto de gente à espera dos atletas, uma coisa fora de série.

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Gosta de correr sozinho ou em grupo? Sempre sozinho. Eu tenho o meu ritmo e eu não me sinto bem a baixar o ritmo com outros colegas. Não gosto de correr em grupo, mas não critico quem o faça. São gostos e opções.

Já fez várias provas, mas há algum sonho que, ainda, gostasse de concretizar?

O que me falta no currículo é ser campeão nacional de maratona. Já fui campeão nacional de várias distâncias, mas falta-me esse. Este ano, mesmo sem treinos, fui vice-campeão. Sinto que perdi a melhor oportunidade da minha vida de ser campeão nacional, mas estou a preparar-me para, no próximo ano, tentar ser campeão nacional. E não é impossível.

Que mensagem pode deixar aos nossos leitores?

Posso dizer que nunca é tarde para começar algo novo, seja corrida ou outra coisa. Eu comecei aos 50 anos e fui campeão nacional. Portanto, nunca é tarde para nada.