A 4 de setembro de 1991 nascia, em Matosinhos, André Americano, 22 anos mais tarde assumiu uma segunda pele, a de drag queen Lilly Prozac.
Ser drag queen não era um “sonho” de André Americano, “apenas surgiu”. Em conversa com o Jornal A VERDADE, partilha que “tudo começou num Carnaval”, quando aceitou um novo desafio na sua vida. Nessa noite, acabou por ganhar o primeiro lugar em todos os concursos de Carnaval e terminou como a imagem principal de uma discoteca.
André Americano partilha que em jovem “não tinha tendência para coisas femininas” como, por exemplo, maquilhagem e roupas. No entanto, gostava dos “tacões da mãe e de roupas diferentes” e de maquilhar as colegas de escola. “Colocava-as a todas com os olhos azuis e as bocas vermelhas”, recorda entre risos.
Um “acaso” levou-o a criar a Lilly Prozac e a desenvolver negócios em volta da boneca, ligados à maquilhagem e à roupa artística destinada a drag queen’s, mas também para “teatro, cinema, roupas de cerimónia, no fundo, tudo o que seja diferente”, explica.
Há nove anos que Lilly Prozac tem se “comercializado” e chegado a todo o mundo. “Eu não faço só shows, faço expos, cosméticas, feiras internacionais, eventos para marcas mundiais”, acrescentando que “nunca foi só noite, a Lilly Prozac é uma dinamizadora de uma marca e não um show de uma música durante 4 minutos e 20 num bar”.
No seu estúdio já criou “mais de 30 drag queen’s de raiz”. Partilha que existem “miúdos a chegar aqui com esse sonho e ambição e eu realizo isso”. Desde a peruca, maquilhagem e até as roupas, André Americano transforma qualquer um numa drag.
Mas porquê Lilly Prozac? O nome surge da junção de um antidepressivo aos laboratórios que os criam. “Prozac é um antidepressivo que é fabricado pelos Laboratórios Lilly, porque a boneca em qualquer lugar que está é um antidepressivo”.
Em relação à família, a avó de 83 anos é a fã número um do neto e da Lilly Prozac e “sempre o acompanhou para todo o lado”. No decorrer da sua carreira teve a oportunidade de prestar uma homenagem, no Teatro Sá da Bandeira, à avó. “É um dos momentos que guardo com muita ternura”, recorda.
No que toca ao pai, partilha que “claro que o sonho dele não era que o filho fosse drag queen, mas com o tempo aprendeu a aceitar isso, porque pai que é pai aceita o filho incondicionalmente”. Acrescentando que “até uma certa idade os pais educam-nos, a partir de um certo ponto também temos de saber educar os pais”.
Bullying e preconceito são duas palavras pouco frequentes na vida de André Americano, porque garante “que sempre encarei isto como uma profissão e me dei ao respeito“. Assim, a “postura e atitude” que assumiu nunca deixou que alguém o “quebra-se”.
Ao longo dos anos tem quebrado vários estereótipos, entre eles, partilha que as drag queen’s não estão sempre associadas ao mundo gay. “No meu caso, sou contratado para muitos eventos heterossexuais”, partilha.
Quase a chegar ao fim da conversa, André Americano fala sobre a sua forma de ver o mundo. “Nem tudo na vida é preconceito, as pessoas focam-se muito nessas áreas negativas, qualquer pessoa se mete debaixo da chancela de ser vitima de…”
Acrescentando que “nós temos que estar muito sensíveis ou predispostos para isso acontecer porque como é logico eu também recebo alguns comentários negativos, é normal. Temos que aceitar isso, eu não gosto de todas as pessoas no mundo, tento encontrar pessoas com quem me identifico e que se identificam comigo, mas é legitimo alguém não gostar de nós e temos de aprender a viver com essa reprovação”.
Terminando mesmo por dizer que “ficamos muito magoados e damos muito importância a isso, mas na verdade tem de ser uma pessoa mesmo importante para ti para tu dares ouvidos. Que se banalize o negativismo e que se foque no positivismo da vida”.