O valor angariado terá como destino uma instituição social.
Aos 74 anos, Maria Amélia Soares, natural de Vila Boa do Bispo, Marco de Canaveses, vive com o desejo de dar um destino às suas coisas. Para isso teve a ideia de criar uma feirinha durante o mês de dezembro e doar o valor angariado para uma instituição social.
Embora a marcoense tenha um gosto pelas artes e decorações desde pequenina, o fascínio tornou-se mais evidente na idade adulta. "Ia para os ateliês aprender a pintar, andava na Escola das Belas Artes onde fazia objetos originais para museus. Corria de um lado para o outro, desde novinha que gosto muito de trabalhos manuais". No entanto, os anos foram passando e a saúde já não permite o mesmo ritmo de vida e, por isso, chegou a hora de "terminar com esta festalhada".
Para Amélia Soares o anseio é só um, garantir que a coisas ficam "em boas mãos. Não quero que as minhas decorações acabem num caixote do lixo. Na velhice tinha de lhes dar um seguimento".

Tudo o que estará exposto faz parte da vida "longa e dura" da marcoense. Maria Amélia Soares nasceu em Vila Boa do Bispo, mas "emigrou a salto" para França, onde esteve mais de 30 anos. "Antes de emigrar levei uma vida dura, de pobrezita, andava sempre descalça. A França cheguei grávida e passamos três anos numa miséria, só depois comecei a trabalhar muito e a vida correu melhor". No regresso a Portugal limpou casas e foi porteira numa residência que descreve como "muito linda, de cem apartamentos e com piscina. De lá tenho muitas satisfações, lembranças, boas amigas e prendas". Um esforço que fez durante a vida e que lhe permitiu estar "tranquila" na reforma. O único problema é que já não tem "a mesma força e energia. Pensei que ia fazer muita coisa quando estivesse na reforma, mas já não tenho a mesma disposição e, por isso, quero dar um fim feliz às minhas coisas. A vida engana-nos, agora tenho tempo mas, está tudo escangalhado", sorri.
Atualmente, o dia é passado entre a sua casa e a Fundação Santo António, o espaço que escolheu quando adoeceu. "Estou melhor aqui, tenho boas colegas e a fundação é muito bem orientada. Tenho muito gosto em estar cá", partilha.

Para Amélia Soares, as prateleiras enfeitadas com bonecos e decorações vindas de vários cantinhos deve-se "à pobreza. Não tinha nada e depois apanha-se as coisas e quer-se guardar tudo. Foi um vício maldito, mas quero desfazer-me, se não qualquer dia nem tenho força para arrastar tudo", partilha, entre risos.
A exposição pode ser visitada no Outeirinho, na freguesia de Vila Boa do Bispo, durante os dias 15, 16 e 17 de dezembro, entre as 14h00 e as 17h00. Na chegada ao local terá à sua espera uma placa a dizer "Exposição de Amélia Soares", depois terá apenas de entrar e escolher algumas decorações.
Para terminar, Maria Amélia Soares deixa um convite: "se as pessoas vierem, e desejo que sim, para o ano, se cá estiver, volto a fazer. Quero ainda agradecer à D. Teresa do Pinheiro que me ajudou a fazer as bonecas".
Foto-galeria Exposição de Amélia Soares













