O Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante, acolheu, na manhã deste sábado, dia 15 de outubro, a sessão solene de abertura das comemorações do centenário de Agustina Bessa-Luís, que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Perante a presença de muitos convidados, a cerimónia marcou o início de um programa que pretende assinalar o centenário do nascimento da escritora, uma iniciativa de um consórcio que junta várias entidades, coordenadas pelo Município de Amarante, onde nasceu Agustina Bessa Luís, integrando ainda as câmaras de Baião, Esposende, Porto, Póvoa de Varzim, Peso da Régua e Vila do Conde, bem como a Direção Regional de Cultura do Norte, as universidades do Porto, do Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro, a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte, a Fundação de Serralves e a Associação de Turismo do Porto e Norte de Portugal, com o apoio institucional da CCDR-NORTE.
Para Mónica Baldaque, filha de Agustina Bessa-Luís, esta comemoração “deve-se ao desafio lançado ao senhor professor António Fontainhas Fernandes, ao senhor professor António Cunha, presidente da CCDR-N, que aceitando o desafio, entendeu considerar as câmaras municipais ligadas à vida de Agustina, às universidades, à Fundação Serralves, à RTP, e a outras entidades para constituírem um consórcio, com o fim de se organizar a comemoração deste centenário. A todos o meu apreço e agradecimento”, disse.
A filha da escritora natural da freguesia de Vila Meã, recordou a importância que as raízes tinham para Agustina Bessa-Luís, que recordava o seu nascimento num “pequeno quarto de paredes azuis, num “domingo de chuva, às seis horas da tarde”. Mónica Baldaque deixou ainda uma agradecimento ao presidente da Câmara Municipal de Amarante, José Luís Gaspar, que “aceitou presidir ao consórcio” e por “ter aberto as portas do município a esta comemoração”, bem como pelo “apoio que disponibilizou”.
A filha de Agustina Bessa-Luís concluiu a sua intervenção com a leitura, para os presentes, de dois textos da autoria da sua mãe, um “é como que a sua identidade” e o segundo “mostra a admiração que tinha por Pascoaes e a importância da sua opinião”.
Dirigindo-se aos presentes, o presidente da Câmara Municipal de Amarante, José Luís Gaspar, recordou que Amarante “é uma terra protegida pela sorte de ter, entre os seus, algumas das mais geniais e criativas personalidades nacionais, com um reconhecimento internacional. É inegável que toda a extensa obra de Agustina Bessa-Luís é amplamente marcada pelo ambiente deste território e pelas memórias da sua infância e adolescência”, referindo que Vila Meã e Travanca “habitam nos seus manuscritos traduzidos e fortalecidos pelas relações entre as personagens”.
De acordo com o autarca, falar de Agustina “não é tarefa simples, por quanto a sua linguagem narrativa é densa, enigmática e paradoxal. Dona de uma imaginação, as suas personagens não deixam de estar territorializadas e firmemente vinculadas à terra. Este território marcou as suas personagens e o seu mundo, o qual via de forma coletiva como alimento da sua imaginação. Agustina Bessa-Luís, um dos mais proeminentes nomes da ficção portuguesa contemporânea, deve-nos inspirar, animar, por um lado, e inquietar por outro, para que não nos deixemos acomodar ao que nos parece fixo e imutável”.
O presidente considerou a abertura das comemorações do centenário da escritora como um “um momento de excelência, para afirmar toda a região Norte de Portugal, pois com um conjunto alargado de municípios e instituições, a visão de se unirem em torno do nome maior de Agustina e a oportunidade de reforçar os seus laços institucionais e as suas relações naturais. Desejo que Agustina seja a fonte que alimenta esse propósito e que nos fortalece enquanto comunidade que tem mais de semelhante e comum que quaisquer das suas diferenças”.
Este ano de comemorações “irá fazer justiça à memória de Agustina e à sua obra, resultando na ampliação dos seus efeitos, quero destacar a importância das inúmeras iniciativas que ao longo deste próximo ano nos haverão de ajudar nas comemorações do centenário de Agustina e que só poderão fortalecer os objetivos conjuntos da região Norte e de Portugal. Agustina Bessa-Luís foi, de facto, notável e continua a inspirar grandes obras e grandes movimentos com a sua literatura e com o seu espírito fascinante, saibamos nós, em conjunto, seguir esse caminho e o seu exemplo”, concluiu.
“Uma mulher sem medo”…
Para o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa , recordou Agustina Bessa-Luís como “uma mulher sem medo, de uma coragem ilimitada”, realçando-a ainda como “uma mulher política, no sentido de viver o que é ser-se político, na dimensão mais profunda do termo”.
Aos jornalistas, depois de ter discursado nos claustros do Museu Amadeo de Souza-Cardoso, Marcelo assinalou que a autora, natural de Amarante, “vibrava com aquilo que era o interesse nacional, vibrava com aquilo que considerava fundamental para a comunidade”.
“Essa sua independência, o seu amor a Portugal, essa sua ligação às raízes, é ser político para aquele tempo”, referiu, acrescentando que o país precisava que “todas as mulheres e homens fossem mais positivos, no sentido de lutarem na sua vida, no dia-a-dia, para tornarem Portugal melhor”.
“Ela era visceralmente portuguesa, sentia Portugal, não só naquilo pensava, naquilo que era a sua maneira de ser, tinha raízes”, acentuou.
Pode acompanhar toda a programação do aniversário no site oficial do evento, agustina.pt.
