couto mineiro pejao minas paivaFoto: DR
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Desde 1994 que não há exploração mineira em Castelo de Paiva, mas as memórias desse tempo de um trabalho “duro”, mas feito por “uma família” ainda permanecem em muitos habitantes da região.

A 1 de maio de 1973, quando ainda não se assinalava o Dia do Trabalhador nessa data, Fernando Gomes, natural de Pedorido, começava a trabalhar no couto mineiro do Pejão, mais concretamente, na mina de Germunde. Apesar de não ser no subsolo que passava os seus dias, ajudava a varrer carvão e na limpeza das linhas e, mais tarde, foi operador de cabo aéreo, carregando e despachando as cestas com o carvão, naquilo que chama de “teleféricos”.

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Foto: DR

“São trabalhos muito complicados e duros. De 30 em 30 segundos, entrava uma cesta vazia e tinha de sair cheia. Cada cesta demorava uma hora e pouco a ir e vir, transportando entre 600 e 900 quilos de carvão”, conta.

O carvão era transportado em “bagonetas” e em tratores a bateria. No poço, havia um elevador que transportava quatro “bagonetas” de cada vez.

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Como não tinha possibilidades para continuar os estudos e como o seu pai e o irmão eram mineiros, Fernando Gomes acabou por seguir os mesmos passos. O pai morreu aos 53 anos, com silicose, e esta não era a vida que ambicionava, mas também reconhece que a mina era “a fonte de maior emprego aqui do concelho”.

“Muita malta chegou a trabalhar lá. Chegou a haver 2000 e tal pessoas naquela empresa. Os mineiros antigos diziam: «Quando acabarmos, isto acaba também». O que é certo é que a juventude aderia àquilo. Era um serviço doloroso, mas ultimamente não era tanto. Trabalhavam menos horas, já ganhavam bem ultimamente”, recorda.

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Esteve 21 anos naquele local, ou seja, até a empresa fechar. Afirma que a “alma mineira existe sempre e que era como se fosse uma família”. “Mal entrava, a gente levava uma alcunha. Era tudo uma família. Podíamos brincar com as pessoas, era como se fossem meus irmãos”, conta, entre risos, lembrando que a sua alcunha era “Padeiro”, devido à profissão dos avós.

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Já Rui Paiva esteve ligado ao couto mineiro 24 anos, desde a altura em que realizou o estágio nesta empresa, que pertencia ao belga Jean Tyssen desde 1933. Foi diretor de exploração e das últimas pessoas a sair da empresa, quando fechou a produção, para “desmontar tudo”.

É natural de Gaia, mas enquanto ali trabalhou viveu em Castelo de Paiva, onde ainda tem a casa, que guarda as “excelentes memórias” daqueles tempos.

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Foto: DR

Embora quando terminou o curso estivesse “mais virado” para a área Civil, a última visita de estudo que tinha realizado enquanto aluno tinha sido às minas do Pejão. Coincidência do destino ou não, o que é certo é que Rui Paiva acabou por realizar o estágio ali e achou que foi “muito apelativo e muito interessante”, motivo que fez com que aceitasse a proposta de continuar com as suas funções depois de ir cumprir o serviço militar.

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Foto: DR

Naquelas minas, trabalhavam cerca de 700 homens no seu interior (aproximadamente 300 ao mesmo tempo dentro da mina), a uma profundidade de mais de 400 metros. Rui Paiva “ia todos os dias à mina, fazia o controlo dos trabalhos que eram necessários ser efetuados”.

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No interior da mina existiam grandes galerias feitas pelos mineiros que atravessavam a própria camada do carvão e eram efetuadas outras pequenas galerias ao lado dessas e planos inclinados onde era efetuada a exploração do carvão.

“Era duro porque as condições de trabalho não eram muito cómodas. Tínhamos pequenas galerias que tinham 35º de inclinação”, relembra, acrescentando que o ambiente também podia causar “consequências em termos de saúde”.

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Foto: DR

Contudo, sublinha que a maior preocupação que havia era com “a segurança”. “Qualquer desleixo de uma brigada (trabalhavam aos pares), afetava a todos. Isto era um conceito intuitivo que qualquer trabalhador tinha”, refere. Também indica que a empresa era “muito bem organizada”, pois o dono “percebeu que para ter uma empresa forte e unida tinha de criar condições”, sendo estas, por exemplo, a criação de um jardim infantil, hospital privativo, cooperativa de consumo, equipa de futebol e a banda de música que permanece até aos dias de hoje.

Foram “várias as gerações” de pais e filhos que por ali passaram e vinham dos concelhos de Penafiel, Cinfães, Arouca, entre outros.

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Foto: DR

Da exploração deste recurso mineral às memórias

Desde o século XIX que foi reconhecida a existência de uma mina de carvão situada no Monte das Cavadinhas, no Pejão, no concelho de Castelo de Paiva. A Primeira Grande Guerra Mundial (1914-18) deu o primeiro impulso na exploração destas minas, indica o site da Banda do Pejão.

Foram, depois, localizados outros afloramentos de carvão que deram origem a diversas minas concessionadas, tais como: Folgoso, São Domingos, Arda, Serrinha, Paraduça e Germunde que, conjuntamente com o Pejão, formavam o Couto Mineiro do Pejão, estendendo-se desde o lugar de Germunde até ao Alto do Pejão, numa extensão de aproximadamente 10 quilómetros.

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Foto: Município de Castelo de Paiva

O carvão era comercializado através da tapada do Outeiro onde era queimado para fabrico de energia elétrica e outra parte para a indústria cimenteira (construção de cimento). A Tapada do Outeiro era uma central onde queimava o carvão, passando posteriormente a queimar fuel (combustível proveniente da destilação do petróleo bruto), informa a Câmara Municipal de Castelo de Paiva.

De acordo com o site da autarquia, a exploração do carvão terminou devido “ao preço do fuel ser mais barato”.

Destes trabalhos e do ambiente vivido, algumas memórias estão agora expostas no Núcleo de Experiências Turísticas do Couto Mineiro do Pejão, inaugurado em maio, no Parque de Lazer do Choupal, em Pedorido, Castelo de Paiva.