Violinista desde os quatro anos de idade e cantor de rua desde os 12, Afonso Pires é de Lousada, em 19 anos e, por agora, vive “só a fazer música mas este ano também vou entrar na faculdade para estudar engenharia de som”.
A música faz parte da vida do jovem músico “quase desde que nasci, comecei a aprender a tocar violino com quatro anos no Conservatório Vale do Sousa”, explica. Quando questionado sobre a idade a que aprendeu a tocar o instrumento o violinista apenas diz que “cabe a cada pessoa definir qual é a altura certa, mas acho que todas as alturas são boas para se começar”.
Apesar da habilidade e do gosto pela música Afonso Pires admite “que ao início via as aulas mais como uma tarefa a cumprir. Até houve uma altura onde me sentia desmotivado para continuar mas depois comecei a ficar entusiasmado aos 12 anos, quando comecei a tocar na rua”.
Uma “uma brincadeira com os amigos do conservatório” lançou o jovem cantor no mundo das performances de rua, “pois vi que me conseguia divertir e que conseguia ter algum rendimento”. A solo e acompanhado só do violino, Afonso Pires fez das ruas da cidade do Porto o seu palco e ainda hoje podemos encontrar o jovem a atuar nas ruas da cidade invicta.

“Acabas por aprender a atuar em toda e qualquer circunstância“
Artista de rua, há sensivelmente sete anos, o músico de Lousada reflete sobre as suas experiências e conclui que “a mentalidade das pessoas tem evoluído bastante. Já se nota uma grande aceitação e mesmo até alguma procura por parte das pessoas no que toca a performances na rua”.
Um ambiente “diferente” das atuações em palcos e eventos, ser-se músico de rua implica lidar diretamente com o público. Por um lado, “há pessoas que quando não me vêm durante alguns meses sentem a minha falta e dizem que era bom estar ali porque animava a rua” e por outro “há pessoas que já estão saturadas de ver artistas e músicos na rua”.
Em tom compreensivo, Afonso Pires não acredita “que as pessoas me odeiem por estar ali” e que muitas das vezes “os comentários maldosos” não têm origem num ódio pelo músico, mas sim “por alguma revolta ou infelicidade pessoal das pessoas”. No entanto, não são só os momentos negativos que deixam marcas e o jovem recorda-se bem de “ver as pessoas a fazer uma roda à minha volta no meio da Rua de Santa Catarina e dava para ver toda a gente a dançar, a cantar e a falar comigo a dizer que alegrei o dia delas”.
Assim, resumindo todas esta vivências, as atuações de rua “são uma experiência muito positiva, para perspectiva em cada mil comentários bons só costumo ter um mau comentário”, salienta o lousadense.
O gosto pela música falou sempre mais alto e o cantor reforça que canta nas ruas porque “o mercado de música não é só feito de contratos para eventos é mais do que isso e ao oferecer um bocadinho da nossa paixão gratuitamente às vezes também acabamos por ser compensados”.
Os “concertos de rua” ajudaram Afonso Pires a preparar-se para todo o tipo de atuações até porque “acabas por aprender a atuar em toda e qualquer circunstância, seja com um caminhão de lixo à tua beira, seja com uma senhora que está lá em cima a dizer que já está a farta de te ouvir”.
O público imprevisível e as condições do “palco” deram novas competências ao jovem de Lousada como ” passar a ter consciência da mentalidade do público”, entre outras aprendizagens que hoje em dia são uteis em eventos mais sérios.

“Acabo sempre por me sentir mais presente no que estou a fazer quando toca na rua“
Os eventos fechados “num palco onde sei que me estão a pagar para prestar um serviço e onde tenho lá tudo pronto e depois vou-me embora e não tenho problema nenhum é uma experiência totalmente diferente de estar na rua. Quando estou no Porto ninguém me pediu para estar ali a tocar e fico nesse momento estou totalmente dependente da aceitação das pessoas”.
Contudo, são nos eventos pagos “onde sinto mais nervosismo”, revela o músico, “acabo sempre por me sentir mais presente no que estou a fazer quando toca na rua e consigo ver a reação das pessoas e se elas estão a gostar, se não estão”.
As performances nas cidades já são “uma rotina é uma forma de apresentação que gosto muito de fazer e que ao mesmo tempo sinto que me faz muito bem”.
E esse sentimento leva Afonso Pires a afirmar “que não me vejo a largar o mundo da música por completo” no futuro.

“Prefiro ter sempre a ideia de que estou estável na vida”
O jovem acrescenta que “estou numa fase em que quero criar alguma estabilidade e por isso é que estou a investir na minha formação noutro tipo de áreas”. Descrevendo-se como “uma pessoa prática”, o violinista dá importância a ter uma boa formação e a arranjar um emprego que lhe permita dar . estabilidade enquanto conjuga o amor pela música e pelas atuações.
Os artistas de rua por vezes são vistos tendo em conta os estereótipos de serem “pessoas irracionais, vivem um bocadinho à deriva e sem pensar em estabilidade financeira. Não julgo essa forma de pensar mas acho que essa filosofia de vida não é para mim e prefiro ter sempre a ideia de que estou estável na vida”, explica o cantor.
Após anos de experiência e ainda com o futuro pela frente Afonso Pires apela às gerações mais novas “para não se deixarem influenciar pelas redes sociais, elas só transmitem aquilo que as pessoas querem transmitir”.
O conselho do músico experiente é para “não se deixarem deixar influenciar porque isso pode causar um sentimento de inferiorização”, cada um “deve fazer o seu próprio caminho e sem ficar colado ao percurso de ninguém. Cada um de nós ocupa um espaço do mercado e ele é tão pequeno que só tem espaço apra coisas novas e não para mais do mesmo”.