logo-a-verdade.svg
Paredes
Leitura: 8 min

Advogado por profissão, caricaturista por paixão

Paulo Pinto é advogado, mas é a fazer caricaturas que se sente realizado. Entre o traço tradicional e as possibilidades do digital, tem vindo a explorar e a criar trabalhos para os mais diversos contextos, mantendo viva uma forma de expressão que combina humor, observação e criatividade.

Redação

“Desde sempre desenhei. Aliás, a primeira coisa de que me lembro desde bastante pequeno é de desenhar, até fazia tipo cartoons, ainda no ensino primário”, começou por destacar o paredense, frisando que o seu lado caricaturista tem tido mais peso do que o de advogado. “Diria que, em termos de laboração, me tenho dedicado entre 20 a 30% à advocacia e 70/80% à caricatura", afirmou.

Qual lhe dá mais gosto de fazer? Ora, quase nem houve tempo para concluir a pergunta, pois, a resposta foi rápida. “Não, não é difícil escolher. Obviamente que é a área artística que me dá muito mais gosto”, partilhou, afirmando: “Portanto, nem posso chamar de trabalho, digamos que é uma forma de passar o meu tempo e de me divertir, além de ser retribuído, claro está”.  

Mas, será que as pessoas sabem qual é a essência da caricatura? “Muitas realmente desconhecem, não estão familiarizadas com o termo e pensam que é apenas um retrato”, explicou, dizendo que se sentam a pensar que vão ter um retrato tipo fotografia e “nós vamos exagerar em alguns pontos”.

Ainda assim, admitiu, há os que começam a ter noções sobre a arte em si. Nesse sentido, considerou, deveria haver mais informação. “É muito vista de leve. Acho que deveria haver uma cultura a trabalhar mais a caricatura e a explicar melhor às pessoas o seu significado", lamentou. 

Acima de tudo, destacou, a “caricatura é uma arte que, além de ser séria, também é divertida”.

Diferenças entre a caricatura tradicional e a digital

“A tradicional e a digital são duas áreas um bocadinho diferentes e temos que ver conforme a situação em que a vamos utilizar”, evidenciou. Ou seja, quando é para eventos utiliza-se muito a caricatura em papel, a tradicional. “As pessoas acham um bocadinho mais de graça e além disso é preciso ser rápido e entregar logo alguma coisa a quem está à nossa frente”, sustentou. 

No caso da digital, disse, convém não pensar que é só clicar nos botõezinhos e a caricatura aparecer feita. “Não, na digital é tudo desenhado à mão, como se fosse em papel, só que com uma mesa e canetas próprias”, evidenciou. 

“Para mim, é muito superior em termos de qualidade e conseguem-se efeitos muito bons. Trabalha-se muito mais, ao longo de muitas horas e tem várias vantagens, além da ecológica”, elencou, justificando: “Posso enviar através de um ficheiro, não sendo necessário imprimi-lo, tendo assim, também, a vantagem económica”

Paulo Pinto disse acreditar, portanto, que quer a caricatura tradicional quer a digital são áreas que têm bastante futuro. “Ainda por cima, agora, com a questão da inteligência artificial, a caricatura, felizmente, é uma das artes que não vão ter grandes problemas com estes aplicativos”, defendeu. Ao contrário dos retratos a carvão ou de alguns cartoons japoneses, lamentou, que podem ser feitos por inteligência artificial. 

Caricaturas feitas 'a estranhos' acabam por sair melhor

Na verdade, este paredense não tem muito o hábito de fazer caricaturas a familiares ou a pessoas próximas. Porquê? Porque “desenhar uma pessoa com a qual não temos qualquer ligação é inato e o resultado acaba por ser muito melhor do que fazer a alguém que já conhecemos”. Basicamente, sustentou, ficamos um bocadinho influenciados. 

Prática e experiência levam à qualidade

Ora, analisou, como atividade manual, quanto mais praticamos, em princípio, melhor qualidade vamos ter e maior rapidez. “Só para dar uma ideia. Neste momento, a caricatura mais rápida feita ao vivo, contabilizada através de gravação, foi de 1 minuto e 50 segundos”, detalhou. 

Será que fazer mais rápido faz com que se perca a qualidade? Paulo Pinto não teve dúvidas. “Não, não. Quando é feita ao vivo, temos que captar a essência momentânea. Portanto, quando não se tem rapidez suficiente e se quer limitar no minuto e cinquenta, vai-se perder muito. Já quando a rapidez acompanha, realmente a qualidade está lá”, assegurou, acrescentando: “O essencial e o que é importante é ter aqueles pontos mesmo essenciais e característicos, que permitem desde logo reconhecer a pessoa que está à nossa frente”

Continuar na arte até que as mãos lhe doam, ou até não…

“Felizmente, quanto mais desenho, menos me doem as mãos. Portanto, felizmente não tenho esse problema”, disse em tom de brincadeira. 

“Eu adoro todas as caricaturas que faço, obviamente que depois há aquelas que acho mais bem conseguidas e outras menos. Mas, é sempre engraçado ver o resultado final e eu fico sempre realizado, especialmente se as pessoas gostam”, mencionou. 

Caricatura, uma arte maior

Se algum dia a caricatura foi uma arte menor, “neste momento é uma arte maior", garantiu, dizendo tratar-se de uma arte com capacidade de crescimento.

Ainda assim, lamentou, “deveria haver uma maior cultura relacionada com a caricatura". “Deveria haver investimento por parte das autarquias e do Ministério da Educação para haver um estudo relacionado com a caricatura”, defendeu.

Como tudo começou...

Começou por desenhar animais e figuras inspiradas na clássica escola franco-belga, como Tintin e Astérix. Mais tarde, aventurou-se no retrato a carvão. 

Quando ingressou na universidade recebeu o primeiro convite profissional, para participar numa ação promocional da Frisumo durante a época natalícia, onde desenhava caricaturas ao vivo em supermercados. O sucesso da iniciativa levou-o a mergulhar mais a fundo neste universo artístico. Durante os anos de faculdade, caricaturava professores durante as aulas e colegas finalistas. 

O talento levou-o a colaborar com empresas, a participar em concursos nacionais e internacionais, e a expor o seu trabalho um pouco por todo o mundo. Um dos pontos altos da sua carreira foi no prestigiado Porto Cartoon, onde conquistou o terceiro lugar em 2014 com uma caricatura de Nelson Mandela e arrecadou outros três prémios em edições seguintes, até o festival terminar durante a pandemia.

Em 2010, participou numa campanha da Samsung para promover o Galaxy Note, tendo realizado cerca de 2200 caricaturas em quatro meses com recurso ao telemóvel, num projeto digital que envolveu 50 artistas e abrangia todo o país.

Ao longo dos anos, tem participado em diversos concursos e exposições em países como Brasil, Roménia, Egito e China, conquistando vários prémios e integrando exposições coletivas de grande relevância no meio artístico.

“Para mim, o mais importante, além das exposições físicas, são as virtuais. Portanto, pesquisando na internet por Pinto Caricaturas, Traços Caricatos, Advogado Caricaturista ou Paulo Pinto vão encontrar várias caricaturas", concluiu.