Ariana Carvalho vive em Marburgo, na Alemanha. Natural do Marco de Canaveses, a jovem tem saudades do sol e não perde uma oportunidade para mostrar aos seus colegas a “comidinha” portuguesa.
Aos 25 anos, a cientista biomédica decidiu partir para realizar um projeto de doutoramento. Já lá tinha estado três meses, quando estava a fazer a tese de mestrado, e planeava voltar ao país, mas nem tudo correu de acordo com o plano original. “Fiz algumas candidaturas a financiamentos para tentar arranjar bolsa”, mas o financiamento não veio.
Decidiu procurar trabalho em Portugal, “porque para trabalhar preferia até ficar no meu país. Mas não
foi possível, não apareceram vagas sem doutoramento”, conta Ariana. Mais tarde, surgiu uma nova oportunidade em Marburgo e, em setembro de 2023, “mandei-me para a aventura, basicamente”.
Mandei-me para a aventura, basicamente
Na cidade, conta Ariana, não há muitos portugueses, “só tenho mesmo outra rapariga que, por acaso, trabalha exatamente no mesmo edifício que eu”, mas há “muitos alunos estrangeiros e acabamos por criar uma comunidade internacional, como nós dizemos. Todos nós acabamos por criar ali uma família”.
Para a marcoense, existe um certo “preconceito com a cultura alemã” que ela diz não corresponder à realidade. Tem muitos amigos alemães e há diferenças em relação à cultura latina, mas que se notam sobretudo na separação entre trabalho e vida pessoal: “não há o hábito de criar planos fora do trabalho” com os colegas, mas no dia a dia, a trabalhar, interagimos bastante. Abraçam os amigos, são mais de abraços do que de ‘dois beijinhos’, mas quando encontra outros latinos nota que “o abraço é diferente”.
A separação entre trabalho e vida pessoal característica traz uma das coisas que a jovem mais valoriza na cultura alemã, “a capacidade que eles têm de equilíbrio vida e trabalho. Isso é algo que eu não notei tanto em Portugal, durante a tese de mestrado e quando estava à procura de trabalho. É muito nosso perdermo-nos no trabalho. É muito fácil passarmos muito mais horas no trabalho, só porque temos muito que fazer”, diz Ariana, acrescentando que na Alemanha é diferente, “tentam mesmo cumprir o horário. Fim de semana é fim de semana. Não perguntam se tenho que vir ao laboratório, perguntam quais são os meus planos. E isso é uma coisa que gosto muito lá e à qual me estou a adaptar”.
Ir para a Alemanha era parte do plano, mas há sempre coisas que deixam saudade. Agora no verão “é o
nosso céu azul, o nosso tempo, o nosso sol e a nossa praia”, diz entre risos. O clima é completamente diferente e “não têm estas festas que nós temos durante o verão. Nesse sentido, é um povo menos festeiro”.
Já estou a planear a próxima viagem
Há sempre a saudade da família e dos amigos, mas também “da nossa comidinha, para mim tem muito valor”. Na Alemanha, o supermercado LIDL também realiza semanas temáticas e, “volta e meia, na semana Ibérica, a Ariana é que vai ao LIDL comprar tudo, para mostrar a toda a gente o que é português. Ainda recentemente comprei pastéis de nata para cozinhar e levar para o meu grupo de laboratório, para eles perceberem o que é comida boa. Adoraram! Não é igual ao nosso, mas para eles foi ótimo”, recorda.
A estadia na Alemanha termina em março, quando Ariana Carvalho voa até Viena, na Áustria, para a segunda parte do projeto. Por enquanto vai continuar a tentar regressar de dois em dois meses, aliás
“já estou a planear a próxima viagem”.