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Ser bombeiro não foi uma herança familiar, mas sim o sonho de Hugo Magalhães, que se veio a concretizar aos 18 anos, quando ingressou no Quartel de Bombeiros de Gondomar, de onde é natural. 

Com uma vida “normal e ativa“, era bombeiro voluntário, “cumpria os piquetes, passava lá o tempo. Tinha os meus amigos ao fim de semana”, recorda. Em 2005, entrou na força especial dos bombeiros, onde esteve por seis anos, chegando a chefe de brigada em 2008.

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Mas em 2010, aos 31 anos, Hugo Magalhães via o sonho ser interrompido, com o diagnóstico de esclerose múltipla e que o obrigou a abandonar a profissão. “No meu trabalho tínhamos de fazer atividade física todos os dias. Ia correr e sentia formigueiro nas pernas, mais do lado direito e sentia a perna a arrastar. Não me sentia bem, mas longe de descobrir o que era”, descreve.

Mais tarde, aparecem problemas na visão, “do lado direito. Estava em casa a ver televisão,  e sentia umas picadas no olho”.

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Na procura pela ajuda, os médicos diziam a Hugo que “estava tudo bem”, mas o antigo bombeiro não se conformava. “O oftalmologista mandou uma carta para a médica de família, para ela me encaminhar para o hospital da minha área. Após vários exames a nível ocular, e uma ressonância magnética descobri que tinha esclerose múltipla”.

Após o diagnóstico, os sintomas continuaram a avançar. Conta que começou a sentir-se “mais desequilibrado, a arrastar as pernas” e sem condições para “fazer o trabalho”. Foi então que mudou de função, tendo ido para operador de telecomunicações do CDOS do Porto. “Houve em que fiquei sem ver nada, estava a olhar para o ecrã e deixei de ver. Fui ao hospital, e a partir daí não trabalhei mais”. Aos 31 anos, foi-lhe dada baixa médica, até receber a reforma por incapacidade, em 2013.

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Com novas limitações, Hugo e a família enfrentavam uma nova dificuldade, a casa onde viviam. Morava em casa dos sogros, que se tornou desadequada à medida que foi perdendo a mobilidade. “Tinha muitas escadas e o acesso era difícil”.

Nasceu um novo sonho, construir uma casa para fazer face à falta de acessibilidade onde estava a viver, mas que para esta família era “difícil”.

Em 2018, Hugo e a família encontram uma nova esperança com a ajuda da Polícia Municipal de Gondomar, que já havia apoiado outras causas. Em 2018, organizaram o Trail das Fardas e todo o valor angariado com o evento reverteria para construir uma casa adaptada, num terreno cedido pelos sogros. “O comandante conhecia-me e soube que estava nesta situação. Abordou-me e perguntou como podia ajudar. Viu-me na cadeira de rodas e disse-me ‘vamos ajudar-te a concretizar esse sonho’”.

A nova casa “mudou” a vida de Hugo Magalhães, uma vez que agora consegue ser mais autónomo, numa habitação adaptada às suas necessidades de mobilidade e que garante mais qualidade de vida à mulher e aos dois filhos, a Matilde, com 9 anos, e o Gabriel, de seis. “Agora é mais fácil. Os bombeiros chegam aqui deixam-me e eu venho na cadeira.  Quero ir à casa de banho ou à cozinha e tenho acessibilidade. Torna tudo mais fácil, mais autónomo”, garante.

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Em 2009, Hugo conheceu a mãe dos dois filhos, que é natural de Lodares, concelho de Lousada e que tem sido “um grande apoio em todo o processo. Ajuda-me a levantar, deitar, tomar banho, nas refeições. Ela é tudo para mim, não escondo isso a ninguém”.

O antigo bombeiro deixa um agradecimento a “todos os amigos e pessoas que ajudaram” e um “em especial ao Trail das Fardas, que me permitiram tudo isto, e a todos os bombeiros a nível nacional”. Os agradecimentos estendem-se aos presidentes da Câmara Municipal de Gondomar e de Lousada, “que também estiveram presentes no evento e me têm apoiado neste processo”.

Aos 43 anos, Hugo Magalhães garante que é preciso “ter força, esperança e não desistir. Somos todos diferentes, assim como os sintomas”.