Desde 2010 que Cristina Coelho faz da prevenção um hábito. Foi nesse ano que a mãe viveu a dura realidade do cancro da mama e, a partir daí, decidiu começar a fazer exames “com regularidade no privado”.
Uma realidade que viria a conhecer na primeira pessoa. Em 2022, e após um rastreio, “houve alarmes” que, mais tarde, comprovavam o que a penafidelense, de 53 anos, mais temia. Cristina Coelho foi diagnosticada – em julho – com um Carcinoma Invasivo Triplo Negativo (grau 3) e que fez passar a viver “com medo. Em setembro estava de férias, andava a passear pela Escócia, e ligaram-me a dizer que tinha exames para eu fazer”, recorda.
Relativizamos muita coisa e damos prioridade à vida
Foi tudo “muito rápido” e “tinha de ser assim” perante um caso de cancro “o mais perigoso que existe”. O momento em que se recebe o diagnóstico “não se esquece” garante. “É horrível. perdemos completamente o chão, porque achamos que o cancro está associado à morte. Ficamos em pânico e com um medo terrível. Todo o processo, os meses que se seguem até fazermos a cirurgia, é horrível. Questionamos tudo, relativizamos muita coisa e damos prioridade à vida, de certa forma”, admite a penafidelense natural de Eja.
Em dezembro de 2022, Cristina foi submetida a uma mastectomia
Perdendo o chão, consegue-se continuar com o apoio das pessoas que estão à nossa volta, inclusive “os médicos que estiveram sempre prontos. São bastante práticos“. A 7 de novembro, Cristina Coelho fez a primeira cirurgia, retirou “metade da mama”, mas com um resultado “não conclusivo” voltou a ser novamente operada e em dezembro, “a seguir ao Natal”, fez uma mastectomia. “Não havia metástases. estava tudo localizado, mas havia o risco de se espalhar rapidamente. E, de facto, tinha células malignas. ainda bem que tiraram“.
Olhar ao espelho, depois, foi “horrível”, mas o sofrimento vai além do aspeto físico. “É o todo. É incapacidade, debilidade, é não conseguimos ter a nossa vida normal, dependermos de todos os outros, não podermos trabalhar, conduzir, estar com os amigos, é não poder fazer as aulas de pilates, os trails que fazia. Foi um desabar”.
Em maio deste ano fez a reconstrução da mama, porque achou “que era importante, sendo ainda nova. Se tinha essa possibilidade porque não aproveitar?”.

Como é viver depois de um cancro?
Em todo o processo, Cristina Coelho viveu rodeada de amigos, mas “com o prolongar do tempo, as pessoas vão-se esquecendo” e começa a sentir-se “alguma solidão. Não podemos fazer nada, temos de dar tempo ao tempo. Toda a gente me dizia ‘tens de ter paciência’ e era a coisa que mais detestava ouvir. Para mim, bastava estar com os meus amigos e falar de outras coisas. Eu era uma pessoa dinâmica, sempre envolvida em vários projetos e atividades e, de um momento para o outro, parei”.
Como é que é viver desde aí? A vida “mudou muito”, principalmente em “três pilares fundamentais: mudei a alimentação, faço exercício físico e tento dormir”, explica a entrevistada.
Cristina Coelho não tem dúvidas de que “o cancro afeta toda a família, destrói relações, porque é muito intenso e um sofrimento grande”. Sofrimento esse que viveu ao lado da mãe, também ela a passar por um cancro, e que numa “fase super frágil” recebeu a notícia da doença da filha. “Passamos as duas a passagem de ano completamente debilitadas. Eu a tentar a minha cura e a ver a minha mãe a definhar cada vez mais. A certa altura esqueci completamente da minha situação e dediquei-me só a ela. Estive com a minha mãe até ao fim”.
Consegui colocar na tela o que me ia na alma
No recomeço de uma ‘nova vida’ agarrou-se a “muitas coisas“. Começou com caminhadas, embora não pudesse “voltar a fazer aquilo que fazia”, mas consegue fazê-lo “de outra maneira“. A pintura tem sido um “escape” e este ano fez a primeira exposição de pintura, “pouco antes da reconstrução da mama”.
Cristina Coelho é contabilista, mas “sempre” gostou de arte. “Sempre pintei e desenhei. Consegui colocar na tela o que me ia na alma. Agora tem mais cor e mais vida”.

Viver depois da doença é “relativizar muita coisa, ajudar, sensibilizar outras mulheres”. Uma “missão” de uma mulher que tenta ser “solidária, ajudar e ouvir” quem passa pela mesma situação.
No apoio, em todas as fases, Cristina Coelho não esquece a presença dos sobrinhos. Ainda são “muito pequeninos”, mas foram “um apoio e uma força. Sempre fui muito clara com eles. Aliás, deixaram-me no hospital quando fui internada. Expliquei-lhes o processo”, recorda.
Aconselho a prevenção a todas as mulheres
Em março, de 2023, a penafidelense soube, numa consulta, que “não teria de fazer tratamentos”. O cancro estava localizado e foi detetado “no tempo certo. Cristina Coelho encontra a resposta na prevenção que fazia. “Eu aconselho a todas as mulheres a prevenção. É fundamental e muito importante. No meu caso, foi a prevenção que me salvou, porque sendo um triplo negativo, se eu não fizesse isso regularmente, provavelmente as metástases já se teriam espalhado pelo corpo todo”, garante.
Por isso, o conselho é mesmo esse: prevenção “e não só da mama. Depois não fiquem sozinhas, procurem ajuda e falem sobre o assunto, seja com profissionais especializados ou amigos. Aliás, é nestes momentos que percebemos quem são realmente os nossos verdadeiros amigos”.
Acredito que toda a gente aprende imenso com a partilha
A terminar a partilha do testemunho, enquanto doente oncológica, Cristina Coelho apela à “solidariedade”, entre todos aqueles que “compreendem o que está do outro lado”, e ao fim do “tabu que existe à volta do cancro da mama. Há muitas mulheres que decidem não falar, enquanto que há outras que não têm problemas em partilhar. Mas acredito que toda a gente aprende imenso com a partilha.
Perante um momento “difícil”, a penafidelense optou por não se “fechar numa bolha” e “dar prioridade a outras coisas, com mais medos, claro, mas acredito na cura. A vida muda e temos de ser otimistas”, termina.