logo-a-verdade.svg
Marco de Canaveses
Leitura: 5 min

Paula Mendes: 14 anos de dedicação ao voluntariado no IPO do Porto

Há 14 anos, Paula Mendes dedica parte da sua vida a cuidar de quem enfrenta o cancro. No IPO do Porto, o voluntariado tornou-se a sua missão e a lição de vida que leva sempre no coração.

Redação

Há 14 anos, Paula Mendes decidiu que, para além da sua vida profissional e familiar, havia espaço para se dedicar ao próximo. Encontrou no voluntariado do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto uma missão que se tornou um pilar essencial do seu dia a dia. Durante três horas por semana, veste a bata branca e entrega-se de alma e coração ao acompanhamento de doentes oncológicos.

“Fazer voluntariado é sentir-nos vivos. É perceber que o nosso tempo pode fazer a diferença na vida de quem muitas vezes só precisa de uma palavra amiga ou de um abraço”, sublinha.

O início de uma missão

Sempre se sentiu confortável em ambiente hospitalar e acreditava que poderia contribuir com a sua energia para apoiar quem enfrentava momentos de fragilidade. Com os filhos já crescidos, inscreveu-se na Liga Portuguesa Contra o Cancro e passou a integrar o corpo de voluntários do IPO.

“As pessoas acham que é difícil conciliar, mas para mim foi natural. Em vez de ir tomar café ou ficar numa esplanada, ia até ao IPO. É um fim de tarde diferente, mas que faz toda a diferença.”

No início, a filha mais nova sentiu a ausência, mas rapidamente compreendeu a missão da mãe. “Era ela própria que me entregava a bata e dizia: ‘a mãe hoje vai para o voluntariado’”, recorda.

Paula está integrada no edifício de cirurgia, onde acompanha doentes na hora do jantar — ajuda a alimentar, corta os alimentos ou simplesmente faz companhia. “O mais importante é o contacto humano. É dar um sorriso, trocar uma palavra de incentivo, distrair o doente da rotina da doença. Às vezes basta ouvir ou dar um abraço.”

Evita falar da doença, preferindo conversas leves que tragam um pouco de normalidade. “O voluntário deve existir para aliviar. O doente precisa disso.”

Histórias que ficam

Em 14 anos acumulou memórias que a marcaram — algumas dolorosas, outras cheias de esperança.

“Há muito milagre e muito final feliz no IPO, mas também casos que não têm o desfecho que gostaríamos. Ainda assim, em todos fica um vínculo. Fiz muitas amizades e recebi muita gratidão, isso dá-me força para continuar.”

Destaca o espírito de equipa entre voluntários e profissionais de saúde: “Os auxiliares e enfermeiros fazem um trabalho extraordinário, mas nós conseguimos dar o que falta — tempo, atenção e afeto. O voluntário vai por vontade própria, vai de coração.”

A lição de relativizar a palavra “problema”

O voluntariado mudou para sempre a sua forma de ver a vida.

“Depois de ver o sofrimento de um doente numa cama de hospital, a palavra ‘problema’ ganha outra dimensão. Aquilo que fora dali parece enorme, quando comparado, é insignificante. Aprendi a relativizar e a dar valor ao que realmente importa.”

Para a empresária marcoense, é também um caminho de crescimento pessoal. “Ganhamos anticorpos para a vida. É uma aprendizagem constante. Quando vemos alguém a enfrentar o cancro com coragem, percebemos que também podemos encarar os nossos desafios com outra postura.”

Esperança e futuro

Paula acredita que o cancro, em muitos casos, já é uma doença crónica com a qual se pode viver.

“Conheço doentes que vivem há 40 anos com a doença. A ciência evoluiu e a esperança deve ser sempre alimentada.” Essa perspetiva é combustível para continuar: “Acreditar que há tratamentos, qualidade de vida e histórias de superação dá-nos ânimo.”

O apelo ao voluntariado

Paula Mendes não tem dúvidas de que o voluntariado transforma quem o faz.

“Fazer voluntariado dá vida, dá muita vida. É um ato nobre que recomendo a todos — jovens e menos jovens. Mesmo que seja pouco, é sempre muito. Distrair um doente já é um grande trabalho.”

Com o olhar no futuro, espera continuar muitos anos no IPO, inspirada por colegas mais velhos que ali permanecem com alegria. “Vejo voluntárias de 80 anos que ainda ali estão e isso é inspirador. Gostava de chegar a essa idade com a mesma energia.”

O exemplo de Paula Mendes é prova de que a solidariedade não se mede pelo tempo, mas pela entrega.