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Marco de Canaveses
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“Criamos líderes": Augusto Barbosa e o escotismo que forma jovens ativos em Tabuado

O associativismo ocupou sempre um papel de destaque na vida de Augusto Barbosa, atual Chefe do Grupo 237 de Tabuado, Marco de Canaveses e fundador e dirigente da Associação dos Amigos do Rio Ovelha (AARO).

Redação

Aos 60 anos de idade o marcoense faz questão de manter um papel ativo na comunidade e recentemente a Junta de Freguesia de Tabuado homenageou Augusto pelo seu contributo à sociedade enquanto chefe do grupo de escoteiros 237.

Descrevendo o seu percurso na AARO como: “Muito proativo e focado nas dinâmicas relacionadas com o ambiente e a defesa do património natural”, Augusto Barbosa foi exercendo funções na associação até enveredar por um novo desafio, o escutismo.

A motivação para criar um novo grupo de escoteiros

Quando um dos filhos de Augusto decidiu sair da catequese, pois “já recebia uma boa educação eclesiástica no colégio”, o pai apoiou a decisão do filho que “ficou chocado quando lhe disseram que se saísse da catequese também tinha de sair dos escuteiros”, recorda.

Indignado com esta situação o filho que “adorava imenso os escuteiros” decidiu procurar outras alternativas para continuar o seu percurso no escutismo. Uma rápida pesquisa levou-o a contactar “uns escoteiros que não têm ligação à igreja” que responderam “de uma forma muito simpática” às questões do jovem escoteiro.

Enquanto o filho procurava novas alternativas, ao pai era lançado um novo desafio para “criar um novo movimento juvenil”. Assim, após ponderar a situação do filho “de não querer estar na catequese para praticar escutismo, o que não é correto”, Augusto decidiu tomar a iniciativa de contactar a Associação de Escoteiros de Portugal.

Após algumas reuniões entre a associação de escoteiros e a junta de freguesia de Tabuado, ambas as entidades aprovaram a iniciativa de Augusto de estabelecer um novo grupo de escoteiros. “O nosso objetivo foi pura e simplesmente criar um novo grupo que fosse abrangente e que aceitasse todos os jovens, independentemente da sua crença ou credo”, salientou Augusto Barbosa.

Valores e desenvolvimento no escotismo

Na perspetiva do chefe de grupo o movimento do escotismo “é muito completo nas áreas de desenvolvimento”, daí a sua importância e pertinência no panorama do associativismo jovem.

“Fisicamente fazemos jogos e caminhadas e na vertente afetiva ensinamos sobre boas ações e a deixar o mundo melhor de como o encontramos e esta é uma das principais premissas do fundador do escutismo”, explicou o responsável do grupo 237.

Ser escoteiro significa seguir os dez artigos do escotismo que são: “O escoteiro é verdadeiro e a sua palavra é sagrada, o escoteiro é leal, o escoteiro é prestável, o escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros, o escoteiro é cortês, o escoteiro é respeitador e protetor da Natureza, o escoteiro é responsável e disciplinado, o escoteiro é alegre e sorri perante as dificuldades, o Escoteiro é económico, sóbrio e respeitador dos bens dos outros e o escoteiro é íntegro nos pensamentos, palavras e ações”.

São estes os valores deste movimento e Augusto Barbosa acredita que é através destes pontos que os jovens podem “trabalhar de verdade o seu caráter”. E a espiritualidade encaixa e faz parte desta formação mas não sobre a forma de “um Deus” mas sim através “da natureza, onde o escoteiro vive e trabalha em equipa”.

Capacidades Intelectuais, Emotivas e Comunitárias

Através das várias atividades realizadas nos escoteiros, os jovens aprendem a desenvolver capacidades intelectuais e emotivas tendo sempre como base a origem do escotismo. “Identificação de trilhos, leitura de cartas topográficas e saber usar uma bússola”, são alguns dos ensinamentos dos escoteiros que regularmente servem de base e exemplo de como os jovens podem crescer e aprender mais sobre si mesmos e o mundo em seu redor.

“Há uma série de vertentes onde eles tentam aplicar a parte mais intelectual, ou seja, têm que estudar, aprender e aplicar na prática, mas depois também temos a parte social, onde fazemos questão de estar junto da comunidade”, continua a explicar Augusto Barbosa.

E é junto da comunidade que o escoteiro deve promover “acima de tudo, a bondade, mas não fiquem com a ideia de que o escoteiro é só uma pessoa boazinha, não, o escoteiro é aquele que é proativo a intervir na sociedade em conforme daquilo que ela precisa”, frisa o chefe. Desde os seus contributos ao Banco Alimentar a várias ações de reflorestação dentro e fora do concelho, o escotismo apela à proatividade nas ações sociais e comunitárias.

Formação de Líderes e Desafios Atuais

Recordando os vários anos de atividade deste movimento, Augusto Barbosa afirma: “Ter sido uma boa jornada na qual conseguimos fazer um bom trabalho com os jovens que passaram por cá”.

Elevando sempre o associativismo como “uma componente extremamente importante na democracia e na vida”, Augusto orgulha-se do seu papel na formação dos jovens que passaram pelo seu grupo e reflete na importância de grupos como este. O objetivo do escotismo é ajudar jovens a tornarem-se: “Educados, proativos e solidários sempre em proximidade com o próximo para caminharmos juntos para uma sociedade mais justa e preocupada com o futuro”, reforçou Augusto.

Ser escoteiro pode ser mesmo “transformador” e “quando a semente cai em terreno fértil” os jovens escoteiros captam uma aprendizagem “fundamental de serem líderes e de trabalharem em equipa”. Augusto Barbosa diz com confiança: “Criamos líderes”. E esta frase traduz-se na formação dos jovens a nível de saber integrar uma hierarquia e de tomar decisões de forma autônoma.

Determinando-se a continuar a jornada deste grupo em Tabuado, o chefe admite que os escoteiros têm enfrentado dificuldades no que toca a captar adultos para serem responsáveis pelos mais novos. “Sem dirigentes não conseguimos trabalhar com os jovens. Temos vindo a ter muita dificuldade com adultos, muitos afastam-se por motivos profissionais ou de saúde e não temos conseguido atrair novos. Chegámos mesmo a ter de encerrar inscrições porque já ultrapassámos o rácio permitido de jovens por cada adulto”, explicou.

O Futuro do Escotismo em Tabuado

O responsável defende que o agrupamento deve continuar aberto a todos: “Não excluímos ninguém e isso é muito importante nos dias de hoje. Se este agrupamento terminar, muitos jovens que querem praticar escotismo não vão ter onde o fazer, e isso será uma falha muito grande para a nossa comunidade".

E com 40 anos de ligação ao associativismo, Barbosa lamenta a falta de renovação entre os dirigentes adultos: “Devia haver mais adultos junto de nós a partilhar os seus sonhos, vontades, ideias e conhecimentos. Há muitos adultos que têm muito para transmitir aos jovens, e o movimento escotista é um espaço fundamental para isso.”

Apesar dos desafios atuais, Augusto Barbosa mantém-se firme no compromisso de cultivar o escotismo em Tabuado, consciente do impacto duradouro que este movimento tem na formação de cidadãos conscientes, solidários e ativos na comunidade.

Para ele, o futuro do grupo depende não só da dedicação dos jovens, mas também do envolvimento de adultos que queiram partilhar experiências e orientar novas gerações. A sua visão é clara: garantir que o escotismo continue a ser um espaço inclusivo, educativo e transformador. Onde cada jovem possa crescer em caráter, responsabilidade e espírito de liderança, perpetuando assim uma tradição de associativismo que fortalece a comunidade e enriquece a vida de todos.