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Felgueiras
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50 mil luzes e figuras exclusivas da Suíça: A 'Casa do Natal' de António Santos volta a iluminar Jugueiros

É impossível passar pela Rua das Vessadas sem abrandar o passo, ou o carro. Em Jugueiros, Felgueiras, a casa de António Santos tornou-se um marco natalício incontornável da região.

Redação

Há mais de uma década que este antigo emigrante transforma o seu lar num cenário de Natal, onde 50 mil luzes profissionais e figuras raras contam uma história de dedicação, tradição e, este ano, de superação.

Para António Santos, o Natal nunca foi apenas uma data no calendário; é um compromisso, emigrante na Suíça durante 35 anos, António fez sempre questão de iluminar a casa para viver em grande a quadra natalícia. 

Mas o Natal deste ano quase ficou às escuras. “Estive a um passo de dizer: ‘vou terminar com isto’”, confessa António Santos, visivelmente desgastado pelo esforço que a montagem exige. “Sozinho não consigo e depois o tempo também não ajuda. Desta vez tive de recorrer a uma empresa de construção civil... perguntei-lhes se me dispensavam dois homens que acabaram por estar aqui quase uma semana a ajudar-me.”

A hesitação deu lugar à persistência, motivada pelo enorme investimento pessoal acumulado ao longo dos anos: “Dava-me pena ter as luzes aqui encostadas”. Além disso, a pressão carinhosa da comunidade também não deixa António guardar de vez as suas iluminações: “As pessoas já estão tão habituadas a ver isto que todos os anos chateiam-me para eu voltar a montar tudo”, diz com um sorriso.

Um espetáculo profissional num jardim particular

O que distingue a casa de António Santos não é apenas a quantidade, mas a qualidade. António recusa comparações com decorações amadoras. “Tenho aqui cerca de 50 mil luzes, tudo luz profissional, da maior empresa do país, são eles que iluminam as maiores cidades”, explica com orgulho.

Este ano, a partir do dia 19 de dezembro, o jardim ganha novos habitantes. “Vamos ter mais cinco peças novas”, revela António, mantendo algum mistério, mas levantando o véu sobre a sua proveniência. “São figuras e imagens alusivas às festividades que consegui arranjar. Algumas delas são exclusivas... até vêm da Suíça. É novidade.”

Estas novas aquisições juntam-se a um espólio impressionante de Pais Natais, trenós, comboios e renas — estas últimas, alvo de um restauro cuidado pelo próprio António. “As renas já tive de ser eu a repará-las, porque a mangueira de luz queima e depois tenho de fazer a rena toda de novo. Dá muito trabalho e já tive de comprar um rolo de 100 metros de mangueira”, conta.

Manutenção: Uma luta contra o tempo

Manter este "reino natalício" impecável é uma batalha constante contra os elementos e o tempo. As figuras mais antigas, algumas também vindas da Suíça, são insubstituíveis. “A minha filha dá voltas e mais voltas a ver se consegue encontrar umas iguais, mas são únicas”, lamenta António.

Com o passar dos anos, o sol e a chuva desgastam as cores vibrantes — o rosa, o vermelho dos mantos de São José e Nossa Senhora. “Deixa imensa pena que não se conseguir arranjar. Ainda estão boas, mas nota-se que a cor vai desgastando.” Apesar disso, a magia prevalece, e a singularidade das peças continua a surpreender quem visita. “Esteve cá alguém o ano passado e disse: ‘Isto é uma vila natal americana, nunca vi aquelas figuras que ali tem’.”

A recompensa: Sorrisos que valem todo o esforço

Todos os dias, a partir das 18h00, os portões de António Santos abrem-se ao público. E é nesse momento que todo o cansaço, a despesa com eletricistas e o trabalho de montagem sob a chuva fazem sentido.

“Vê-se nas pessoas aquela alegria, aquela loucura mesmo das crianças”, descreve António. Os episódios sucedem-se: pais que têm dificuldade em levar os filhos para casa porque eles se "agarram" aos Pais Natais; visitantes que regressam dez vezes na mesma época, trazendo sempre novos amigos ou familiares.

“Ontem à noite tive aqui uma família e o homem ficou encantado. Disse: ‘Não contava ver uma coisa tão linda aqui em Felgueiras!’”, relata o anfitrião.

António Santos sabe que o que construiu em Jugueiros é especial. “Dizem que é única no país, porque são imagens que vêm de todo o lado. Mesmo os emigrantes e estrangeiros não encontram isto”, afirma.

Por isso, deixa o convite, simples e direto, a quem ainda não conhece a Rua das Vessadas nesta altura do ano: “Faço o convite às pessoas que nunca viram, que visitem, se tiverem oportunidade. É muito lindo e é pena as pessoas que gostam de ver não saberem a beleza que aqui está.”

Enquanto António tiver forças — e luzes — o Natal em Jugueiros continuará a brilhar mais forte do que em qualquer outro lugar.