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Penafiel
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Avô e neta lançam livro em Penafiel com homenagem ao Dia dos Avós

“O Avô e os Netos” tem enfoque em Maria Eduarda e reverte a favor dos bombeiros do concelho penafidelense.

Redação

António Monteiro Ramos, de 69 anos, natural de Santiago de Subarrifana, em Penafiel, divulgou o livro O Avô e os Netos, durante as celebrações do Dia dos Avós este sábado, dia 26 de julho. A obra, com “maior enfoque na Maria Eduarda”, sua neta de 10 anos, foi escrita a meias com a própria e resulta de um desafio lançado pela professora da menina.

A banca da família esteve presente no evento, onde os livros eram vendidos diretamente pelo autor — que também assumiu a edição —, com parte dos lucros a reverter para os bombeiros do concelho de Penafiel.

Um livro com sensibilidade e memória

“Este já é o quarto livro que escrevi”, começou por explicar António Ramos. “O primeiro já falava um bocadinho na família e nos netos e depois tive outros dois completamente diferentes e voltei agora a este tema porque a minha neta, a Maria Eduarda, anda na escola lá na minha terra em Santiago e então a professora, como era o último ano que andava lá, fez-lhe um desafio para ela escrever um livro comigo", revelou. A professora disse-lhe: ‘olha, o teu avô que escreva um livro contigo, como fez com a neta mais velha’”, evidenciou ainda.

“Ela fez-me esse desafio... E eu tenho muita sensibilidade pelos avós e pelos netos, porque não tive tempo para acompanhar os meus filhos", lamentou, dizendo: "Por isso, hoje reconheço essa falha e dedico-me integralmente aos meus netos".

O livro acabou por ser escrito, sendo pensado também como "uma homenagem também à senhora que foi a criadora, a mentora do Dia dos Avós, que é a Ana Elisa Couto, que conseguiu que ele fosse instituído a nível nacional.”

Resumindo, o livro é sobre a família, avô e netos, e aborda diálogos com os netos, onde tem maior enfoque a Maria Eduarda. "Aborda também o reino animal, onde inclui o homem como seu destruidor, bem como a mãe natureza e a preservação do planeta", disse.

"O nosso secretário de Estado da Cultura interpretou e fez-me uns comentários positivos sobre a obra, dizendo que era um livro intemporal, porque os temas abordados vão ser sempre necessários.  Por isso é que é um livro que pode estar na biblioteca e, independentemente dos anos que ele vai lá estar, vai estar sempre atualizado para novas leituras”, congratulou-se.

Da ausência à escrita: “O avô é pai duas vezes”

António encontrou na escrita uma forma de resgatar o tempo que, admitiu, não conseguiu dedicar à família durante a sua vida profissional. Ex-quadro superior dos CTT, com funções operacionais exigentes e responsabilidade sobre um serviço de funcionamento contínuo na região Norte, viveu grande parte da vida sem espaço para a escrita — apesar de, como recorda, o gosto estar sempre lá.

Foi apenas após a aposentação que esse gosto se materializou verdadeiramente. Um momento marcante aconteceu ao acompanhar a neta nas feiras escolares de São Bartolomeu. O contacto com essas vivências — que sente ter perdido com os filhos — comoveu-o profundamente e inspirou-o a começar a escrever. A partir daí, nunca mais parou.

António Ramos escreve com propósito: todos os seus livros visam provocar reflexão. Considera que a sua bagagem — construída ao longo de décadas de vida, experiências profissionais e políticas (foi autarca), e o facto de ter vivido tanto em ditadura como em democracia — permite-lhe conjugar perspetiva histórica com atualidade. Acredita que, tal como no passado, hoje é novamente tempo de pensar criticamente a democracia. Para ele, escrever é isso mesmo: um exercício de reflexão com vista à melhoria individual e coletiva.

Uma história para guardar “para sempre”

Maria Eduarda, de 10 anos, descreveu com entusiasmo a experiência de ter escrito um livro com o avô, referindo que foi algo muito feliz e agradável, e que não o teria feito com mais ninguém. Disse sentir-se em paz e tranquila ao partilhar esse processo criativo com ele.

Questionada sobre a personalidade do avô, considerou que é uma combinação entre firmeza e simpatia, mas com predominância para o lado mais “fixe”, como destacou, acrescentando que os avós “têm de ser assim”.

Quanto à possibilidade de escreverem outro livro juntos, admitiu essa hipótese com um “talvez”, e mostrou-se convicta de que o irmão Diogo, de 14 anos, também merecia ter uma experiência semelhante: “Precisa. Acho que sim.” Para Maria Eduarda, esta é uma memória que irá guardar para sempre: “Nunca vou esquecer, não.”

Livros publicados, edições e apoios

O livro O Avô e os Netos foi impresso em 500 exemplares e está a ser comercializado diretamente pelo autor, ao preço de 10 euros. António Ramos explicou que desse valor, quatro revertem a favor dos bombeiros do concelho de Penafiel, sublinhando que esta foi uma decisão pessoal, alinhada com o espírito solidário que pretende associar à obra.

“O livro tem muita qualidade em termos de papel, por isso está mesmo ao preço de custo”, afirmou. Acrescentou que a própria gráfica ajustou o preço para tornar o projeto mais acessível. Para efeitos comparativos, explicou que, se tivesse optado por publicar o mesmo livro através de uma editora, o preço de venda ao público rondaria os 16 euros.

António Ramos tem já outros títulos publicados. Um deles, Ronaldo, um galo com sorte, foi escrito com a neta mais velha, Margarida Ramos, e considerado um livro “pedagógico” pela comunicação social local. Já Dádivas de Deus e Ajudas do Diabo! encontra-se esgotado, enquanto Melissa – A Menina do Táxi está disponível na editora Cordel de Prata e em plataformas online.

Apresentação e prefácio com assinatura institucional

O lançamento oficial de O Avô e os Netos teve lugar a 21 de junho, no Museu Municipal de Penafiel. A obra foi inteiramente comercializada pelo próprio autor, que assumiu também a edição. António Ramos destacou que todo o processo passou pelas suas mãos, desde a conceção até à impressão, embora tenha contado com o apoio de várias pessoas — entre elas, o genro, a gráfica e dois professores que contribuíram com comentários e revisão ortográfica.

Segundo contou, o vice-presidente da Câmara Municipal de Penafiel teve um papel especial no projeto. Depois de ler o livro, escrito com o Dia dos Avós em mente, partilhou com o autor o seu apreço pela obra. António não hesitou em lançar-lhe um desafio: “Se gostou, faça-me o prefácio.” O autarca aceitou de imediato, considerando uma honra fazê-lo — gesto que o autor também valorizou profundamente.

A contracapa do livro inclui as imagens dos avós maternos e paternos de Maria Eduarda, com uma homenagem central à figura de Ana Elisa Couto, fundadora do Dia dos Avós.

E Diogo?

Fica agora a faltar, como referiu o próprio autor, um livro com o neto Diogo António, de 14 anos. “Já temos falado nisso, não sei, mas as coisas têm o seu tempo”, concluiu António Monteiro Ramos.