Admitindo que, no início desta luta, o objetivo não seria alterar a legislação mas sim, ir para um país onde não existia esse entrave, a cabeleireira de profissão viria esta ideia rapidamente a tornar-se de tentativa de fuga à lei para a sua alteração.
“Decidimos avançar com a petição para que o assunto fosse debatido na Assembleia da República e, entretanto, tive conhecimento que podíamos fazer uma proposta de lei, algo que pudesse ser analisado e votado na Assembleia da República. Nem sabia que isso era possível, depois disto as coisas foram acontecendo quase como uma bola de neve”, conta a pioneira.
A visibilidade do caso foi atraindo a atenção dos portugueses, de partidos e de várias mulheres que passaram por uma situação similar, que se dispuseram todos a ajudar a alterar esta lei. No entanto, “ainda tive um período de incerteza em que achei que esta alteração já não seria para mim”, revela.
Ângela Ferreira diz mesmo não querer ser “hipócrita e dizer que estava a fazer isto pelo bem de todos, estava a fazê-lo por mim, mas, na eventualidade de já não conseguir usufruir desta mudança, pelo menos que mais nenhuma mulher tivesse de passar pelas barbaridades que tive de ouvir”.
A maioria dos advogados e médicos questionados pela mulher cinfanense “diziam-me exatamente a mesma coisa. Não era possível, a lei não permitia e que devia tirar isso da cabeça”. Uma realidade dura a futura mãe acha “que faltou aquilo que, felizmente, o povo português teve, sensibilidade de entender esta situação”. Mesmo “a forma como falavam na Assembleia da República, dizerem simplesmente aquela pessoa morreu, está morta e então não tem vontades…”, deixou marcas na memória.
Contudo, agarrando-se à “vontade de ter um filho do Hugo e de saber que ele próprio teria feito o mesmo por mim”, motivou Ângela Ferreira para continuar com esta luta.